Apontado como uma das formas de amenizar a superlotação do Move nos horários de pico em Belo Horizonte, o ônibus biarticulado – modelo que combina duas articulações e três cabines, com capacidade até 53% maior que a de um articulado simples – segue distante do transporte rápido por ônibus (BRT) da cidade. Enquanto o Rio de Janeiro recebe as primeiras 150 unidades para o recém-inaugurado corredor Transoeste, entre a Barra da Tijuca e o aeroporto do Galeão, a BHTrans, que regula o transporte da capital mineira, vem descartando o super-ônibus com até 28 metros de comprimento, pela dificuldade de alinhamento nas atuais dimensões das estações de transferência. A opção por corredores que não comportam o coletivo de alta capacidade é apontada por especialista como um fator que ameaça tornar o sistema de BH saturado em pouco tempo.
Desde domingo, uma unidade de testes do biarticulado, cedido pela marca Volvo, vem fazendo testes na capital. O modelo esbarra, na visão do operador e de especialista, na topografia acidentada de BH. Já a montadora argumenta que o modelo é mais fácil de manobrar do que o convencional, pelo maior número de eixos (quatro, contra três) e menor distância entre as rodas.
A opção do BRT com alta capacidade de transporte (até 266 passageiros, contra 142 do articulado simples) foi descartada pelo presidente da BHTrans, Ramon Victor César. Durante seminário da Associação Nacional de Transportes Urbanos, em agosto, em Brasília, Ramon disse ao Estado de Minas que a BHTrans fez a opção de trabalhar com o articulado simples porque a topografia de BH tem trechos difíceis para alinhar os biarticulados nas estações.
Um dos empresários que avaliou o biarticulado entre o hipercentro e Ribeirão das Neves sustenta que o grande número de conversões no Centro de BH é outro empecilho. “Ao convergirmos na Rua dos Caetés, a traseira ocupou parte da Avenida Paraná.”
A opinião é compartilhada pelo professor e mestre em engenharia de transportes Márcio Aguiar, para quem BH optou por um modelo de BRT de média capacidade. A aplicação do biarticulado, segundo ele, só seria possível a partir do alargamento das faixas exclusivas do hipercentro. Outras intervenções necessárias são adequações nas estações e no pavimento.
Para o especialista, BH improvisou um sistema cuja demanda estará saturada em três ou quatro anos, diferentemente do Rio e Curitiba, onde as vias foram projetadas para receber o transporte rápido por ônibus. “O Rio de Janeiro já trabalha com um sistema multimodal, com vários quilômetros de metrô subterrâneo, trem, ônibus e o BRT elevado. O biarticulado sofre muito com o tráfego misto. Para rodar em BH ele precisaria de mais largura e raio de curvatura.”
A Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas declarou em nota que não há previsão para o uso de biarticulados no sistema metropolitano e que “a demanda atual é suprida pelos modelos utilizados até o momento”. A BHTrans não se pronunciou sobre a viabilidade futura de adoção do sistema até o fechamento desta edição.
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