Foi publicado em 19 de agosto de 2014, pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) o Estudo de Demanda de Energia 2050, que junto com outros quatro documentos compõem o Plano Nacional de Energia 2050. O estudo apresenta a evolução das demandas dos energéticos aderente a um cenário econômico de longo prazo.
No que tange ao setor de transporte de passageiros, a demanda de energia é fortemente influenciada pela evolução do transporte rodoviário e, particularmente, pela frota de veículos leves.
Neste ponto, destaca-se o crescimento do licenciamento de veículos leves a taxa média anual de 2,4% ao ano, impulsionado por fatores tais como: aumento da renda da população, acesso ao crédito e redução da taxa de desemprego, o que resulta numa frota de 130 milhões de unidades ao final do período de projeção.
Como resultado, o indicador de motorização, que mede o número de habitantes por veículo, passa de 6,1, em 2010, para 1,7 em 2050. Isso significa que estaremos mais próximos da motorização de países desenvolvidos, como Reino Unido (1,7 habitante /veículo) e EUA (1,6 habitante/veículo).
Este fato repercute no aumento da participação do transporte individual na matriz de atividade do transporte de passageiros, que passa de 53%, em 2013, para 55%, em 2050, em detrimento do transporte coletivo, cuja participação de 39% é reduzida para 34% neste mesmo período. Os demais modais (aquaviário, ferroviário e aeroviário) ampliam a participação atual de 8% para cerca de 11% em 2050 (Figura 1).
Figura 1: Distribuição Modal do Transporte de Passageiros (2013 a 2050). Fonte: EPE, 2014.
É de saltar aos olhos, portanto, dois grandes desafios nas próximas décadas: o suprimento da demanda de energia no transporte de passageiros e a gestão da mobilidade urbana.
No primeiro caso, a forte penetração de tecnologia de veículos elétricos e híbridos na frota responde, em parte, este desafio através de relevantes ganhos de eficiência. Observa-se que, de acordo com as hipóteses adotadas no estudo, já em 2045 o licenciamento de veículos a combustão interna seria igual à zero (Figura 2).
Figura 2: Penetração de Tecnologias nas Vendas de Veículos Leves (2012 a 2050). Nota: CI (combustão interna), VE (veículo elétrico). Fonte: EPE, 2014.
No segundo caso, o estudo considera uma perspectiva de ampliação dos investimentos em transporte público e de ações políticas que melhorem o trânsito das cidades, além de diminuição na taxa de utilização de uso do transporte individual.
No entanto, não se esconde as incertezas relacionadas ao tema, tais como o potencial de penetração de alternativas de mobilidade urbana no longo prazo, na qual se inclui viagens não motorizadas, BRT´s e BRS´s, trens, teletrabalho etc. Além disso, terá papel crucial o desenvolvimento e aplicação dos Planos de Mobilidade Urbana pelos municípios, segundo a Lei nº 12.587/2012, que institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana.
É importante ressaltar que o estudo em questão não tem o objetivo de propor soluções de mobilidade urbana, mas sim de apresentar um cenário possível para a evolução do consumo de energia nos setores da economia, dentre os quais o transporte de passageiros. No entanto, por ser uma importante referência no planejamento de longo prazo no Brasil, o PNE 2050 torna-se um insumo para a reflexão também sobre o tema de mobilidade, logística, desenvolvimento social e ocupação espacial.
Vale, portanto, indagar se este é o futuro que a sociedade brasileira deseja, suas consequências e quais os mecanismos de mudanças disponíveis.
Bibliografia:
Empresa de Pesquisa Energética (EPE), 2014. Série Estudos da Demanda de Energia. Nota Técnica DEA 13/14. Demanda de Energia 2050. Rio de Janeiro, Agosto de 2014.
*Natália Gonçalves é economista especializada em Demanda de Energia em Transporte de Passageiros. Este artigo foi enviado pela autora como uma colaboração ao Mobilize Brasil
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