A falta de vias exclusivas, bicicletários e consideração por parte de condutores de outros veículos são as principais dificuldades enfrentadas pelos ciclistas de Florianópolis. Isso não impede, porém, o uso da bicicleta por muitos, que a utilizam como transporte para ir aos locais de estudo e trabalho. Visando minimizar essas dificuldades, o Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf) possui projetos de ciclovias, bicicletários e veículos públicos.
Quase todos os dias Ana Carolina Dionísio faz uso da bicicleta. Ela mora no Rio Tavares, no Sul da Ilha, faz mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na Trindade, e trabalha em uma Organização Não Governamental (ONG) no Itacorubi. Para ir até a instituição de ensino, ela leva de 35 a 40 minutos, totalizando 14 quilômetros. Para a ONG, 45 minutos, cerca de 15 quilômetros. Tudo sem o estresse do trânsito dos automóveis.
"Não gosto de ficar parada em fila", resume a ciclista de 30 anos. Para ela, a praticidade, o prazer de pedalar, o bem para o meio ambiente e o exercício físico são as vantagens do veículo. O custo também é levado em consideração, já que Ana Carolina tem um automóvel, que usa em dias de chuva. "O Fusca 'bebe' [gasolina] legal. De bicicleta, é de graça", explica.
Se há ciclistas para as horas de trabalho e estudo, também há os que usam o veículo para o lazer. Já aposentado, Henrique Thieme Reis, de 53 anos, gosta de ir até a praia de bicicleta. Ele começou a utilizar o veículo em junho do ano passado, após sofrer um acidente de carro na BR-282. O automóvel teve perda total, mas o aposentado não se machucou muito e logo se recuperou. Porém, ficou traumatizado e não quis mais dirigir.
Henrique usa a bicicleta para ir a praia
(Foto: Henrique Thieme Reis/Arquivo pessoal)
Foi nessa ocasião que um amigo insistiu que ele comprasse uma bicicleta. Ele começou a pedalar e tomou gosto pelo transporte. Para Henrique, o principal benefício foi para a saúde. Depois de começar a utilizar a bicicleta, o colesterol HDL, o "bom colesterol", dele subiu. A hesitação em dirigir passou e, atualmente, ele usa o carro ocasionalmente. Contudo, o gosto pela bicicleta ficou.
Pontos negativos
Morando no Itacorubi, Henrique pedala até a Lagoa da Conceição, no Leste da Ilha, o Campeche e Morro das Pedras, ambos no Sul da Ilha. Porém, a falta de ciclovias no caminho faz com que ele evite as praias do Norte. "É muito perigoso", declara. A principal reclamação, entretanto, é da falta de bicicletários.
Outra vantagem do Sul e Leste da Ilha para Henrique é que ele pode deixar o veículo na casa dos amigos quando chega. "É ruim ir para praia e deixar a bicicleta em qualquer lugar", diz. Um bicicletário seria um incentivo para ele visitar outros lugares de Florianópolis, sem se preocupar onde vai deixar o veículo.
Para Ana Carolina, a falta de ciclovia é o principal problema. "Aqui no Rio Tavares são complicados alguns trechos". Ela procura ir pelo acostamento e enfrenta estrada de terra e buracos. A divisão de espaço com os motoristas dos outros veículos também é difícil, já que, algumas vezes, ela precisar pedalar entre os carros para alcançar a esquina do outro lado e fazer uma curva.
Trecho | Tamanho | Investimento |
Rua Osni Ortiga |
2,40 km |
não informado |
Rua Deputado Edu Vieira |
2,7 km |
R$ 450 mil |
Rua Padre Rohr |
2,3 km |
R$ 123 mil |
Rua Jorge Lacerda |
3,4 km |
R$ 159 mil |
Avenida Ivo Silveira |
2,7 km |
R$ 204 mil |
Projetos em Florianópolis
Arquiteta do Ipuf, Vera Lúcia Gonçalves da Silva explica os projetos relacionados à melhora da infraestrutura da cidade para as bicicletas. Um deles, o "Rotas inteligentes", objetiva colocar rotas para ciclistas nas principais vias da cidade, com sinalização adequada. "Uma das coisas mais importantes é que o modo como a gente se transporta seja atrativo", diz a arquiteta.
Citando o carro como exemplo, em que a comodidade faz com que a pessoa opte por esse meio, a ideia é tornar a bicicleta uma alternativa mais atraente. O Ipuf conceitua as rotas e a Secretaria de Obras executa. De acordo com esta última entidade, as próximas ciclovias a serem feitas (veja tabela acima) serão nas ruas Osni Ortiga (Lagoa da Conceição), Deputado Antônio Edu Vieira (Pantanal), Padre Rohr (Santo Antônio de Lisboa), Jorge Lacerda (Costeira) e avenida Ivo Silveira (Estreito). Elas serão feitas juntamente com obras de duplicação, pavimentação ou revitalização dessas áreas.
Bicicletários
Em relação aos bicicletários, eles estão definidos na lei complementar 078 de 2001, que discorre sobre a exigência deles "junto aos terminais, prédios públicos e demais pontos de afluxo da população".
De acordo com a Secretaria de Mobilidade Urbana, atualmente, os terminais da Lagoa da Conceição (Tilag), Rio Tavares (Tirio), Trindade (Titri), e Canasvieiras (Tican) possuem paraciclos, um suporte para bicicletas sem cobertura. A Secretaria estuda a possibilidade de reativação do bicicletário (com cobertura) do terminal da Lagoa. Nos outros terminais, a colocação ainda está sendo analisada.
"Floribike"
Por fim, há o sistema de bicleta pública para cidade, chamado de "Floribike". Trata-se de veículos disponíveis para a população, que podem ser pegos em uma estação e deixados em outra. Conforme a Secretaria de Administração, a licitação do projeto ocorreu em março de 2013. As empresas se candidataram, mas não concordaram com alguns pontos do edital e, por isso, não apresentaram propostas.
Atualmente, o projeto está sendo reavaliado. Serão revistos o número de estações, bicicletas, a remuneração, investimentos a serem feitos pela concessionária e o prazo. A meta é para que a licitação seja concluída ainda este ano, informou a Secretaria de Administração.