Nesta semana nacional de Mobilidade Urbana um grupo de coletivos de espaço públicos, urbanistas e organizações da sociedade civil estão assinando um Manifesto que exige ruas mais humanas e sustentáveis.
Segundo o ativista Lincoln Paiva, autor da iniciativa, trata-se de um posicionamento sobre a ocupação de espaços públicos, em sinergia com a implantação de ciclovias e melhorias nos passeios públicos, em busca de uma cidade mais humana.
Em São Paulo, o documento será entregue ao prefeito Fernando Haddad no dia 24 de setembro.
O Mobilize Brasil assina e apoia o Manifesto, reproduzido abaixo:
Manifesto por ruas mais humanas e sustentáveis, por uma cidade melhor
Em 2008, a humanidade cruzou um limite histórico: pela primeira vez, mais pessoas passaram a viver em áreas urbanas do que rurais. Nos tornamos seres predominantemente urbanos.
O que milhares de pesquisadores, urbanistas, coletivos, ONGs, artistas e cidadãos ao redor do globo estão tentando descobrir é: como construir cidades mais humanas e sustentáveis?
Se hoje a vida acontece nas cidades – e não há como impedir seu crescimento –, será possível impedir o seu declínio?
Até a segunda metade do século 20, criaram-se, em volta das cidades, áreas suburbanas com bairros distantes, de baixa densidade, mal servidos de transportes públicos e com fraco desenvolvimento social.
Esse modelo estimulou a demanda por deslocamentos de automóvel. Uma demanda muito superior ao que as cidades poderiam suportar. Aos poucos, as metrópoles foram se transformando em grandes estacionamentos de veículos particulares e as pessoas perderam a conexão com as ruas, o contato humano, encapsuladas em seus carros, respirando um ar de péssima qualidade.
Um dos grupos demográficos mais afetados por esse modelo foram as crianças, já que sua consciência cívica, ou a ausência dela, está estritamente vinculada com a experiência temporã do coletivo.
A falência dessa matriz trouxe um novo conceito de desenvolvimento urbano, cada vez mais discutido em todo o mundo: o urbanismo caminhável, que cria novas centralidades e valoriza a curta distância entre moradia, trabalho, educação, saúde e lazer.
Uma organização urbana baseada em alta densidade, com diversos tipos de imóveis ligados por áreas de lazer, bem conectados por sistemas de transportes coletivos e alternativos não motorizados. Ou seja: as melhores cidades do mundo são aquelas cujos bairros dependem cada vez menos de transporte individual motorizado, com ruas arborizadas e fácil acesso a pé ou de bicicleta para os deslocamentos cotidianos.
Desenvolver esses novos padrões é um desafio de todos: governo, empresas privadas, sociedade civil e universidades. Em São Paulo, chegamos ao ponto de mutação: um limite do qual não é mais possível voltar atrás. Temos de caminhar no sentido de uma cidade pensada para as pessoas, que reorganize seus espaços de modo a torná-los mais agradáveis e habitáveis, para propiciar melhor qualidade de vida.
Mas, para que as pessoas caminhem mais, é preciso criar melhores caminhos, bairros mais atrativos como investir em caminhos seguros, iluminados e com infraestrutura adequada para pedestres e ciclistas. É necessário estimular a população a ocupar ruas e praças e incentivar a formação de mais espaços de convivência.
O conhecimento e a apropriação do espaço em que vivemos nos faz desenvolver pontos de referência e sentido de pertencimento. Viver ativamente a cidade promove uma atitude positiva e de respeito pelo espaço público – um espaço de aprendizagem e convívio para todos. Lutamos por ruas de escala humana, coletiva, criativas e com maiores oportunidades para todos.
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