O Brasil tem hoje cerca de 85% de sua população vivendo em cidades. São 173 milhões de pessoas que convivem, trabalham, estudam e se divertem nos aglomerados urbanos. É uma situação completamente diferente do país dos anos 1950 e 1960, quando a maioria dos brasileiros estava no campo, segundo os registros do IBGE.
Os dados foram apresentados pelo arquiteto e urbanista Sergio Myssior durante o III Fórum Mobilize, realizado dia 5 passado, em São Paulo. Essa concentração de gente em apenas 0,25% do território nacional faz crescer as demandas por energia, habitação, saneamento, saúde, educação e mobilidade urbana em todas as cidades, mas especialmente nas regiões metropolitanas.
No entanto, como lembrou o jornalista Gilberto Dimenstein no mesmo Fórum, é exatamente dessa fricção entre pessoas e recursos nos centros urbanos que nasce a fagulha do conhecimento e da inovação. O fenômeno é mundial, e o Brasil apenas está na vanguarda do processo. Dimenstein lembrou o decréscimo da importância dos países e a correspondente valorização das cidades no cenário internacional.
As cidades - com sua concentração - tendem a ser mais eficientes para o desenvolvimento humano, desde que dotadas de boas redes de serviços, comunicação e mobilidade. Sem bons sistemas de transporte - que dispensem o uso do carro - as cidades brasileiras perderão competitividade, avisam os urbanistas. E aí está um dos pontos frágeis do país, que continua a vender a solução individual como a única possibilidade de transporte com segurança e conforto.
Mesmo as obras mais recentes comprovam a falta de planejamento na mobilidade urbana, como mostrou o arquiteto Myssior na falta de conexão entre dois sistemas de BRTs recém-implantados em Belo Horizonte, obrigando os usuários a longos trajetos por duas enormes passarelas, além do pagamento em dobro da tarifa. Com tantas desvantagens, é natural que as pessoas optem pelo carro ou moto.
O potencial de mudança, afirmaram Myssior e Dimenstein, não está apenas nos grandes projetos, mas sobretudo em medidas mais simples e econômicas, a exemplo dos parklets (pequenas praças construídas em vagas de automóveis), apresentados por Lincoln Paiva, diretor do Instituto Mobilidade Verde. Ele mostrou que a simples decisão de plantar flores na fachada de sua casa, prédio ou loja pode ser o toque inicial para transformar uma rua, um bairro. São como agulhas de uma "acupuntura urbana", sugeriu Dimenstein ao citar o urbanista Jaime Lerner: pequenas intervenções localizadas podem mudar a saúde do todo, disse o jornalista. Entre outros exemplos, Lincoln mostrou o processo de despoluição e reurbanização na várzea do rio Cheonggyecheon, em Seul, Coreia do Sul (foto), processo realizado em apenas 4 anos.
Assim, a implantação de novas calçadas, como faz a cidade de Salvador em sua orla, a construção de ciclovias em Brasília, Rio, São Paulo, ou a simples melhoria da sinalização para pedestres, como pede a campanha Sinalize! podem ser indutoras de um novo tipo de urbanismo.
A propósito, as duas próximas semanas prometem muito movimento em função da Semana da Mobilidade, em várias capitais do Brasil, tal como Fortaleza, Belo Horizonte e em vários bairros de São Paulo.
Participe e ajude a "curar" sua cidade.
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