Por meio da seção Mobilize-se, Beto Gomes Rocha, de Aracaju-SE, enviou um pequeno relato sobre a difícil situação de quem circula, de carro, por Salvador-BA. Paulistano, ex-morador da capital baiana, o leitor espantou-se com a transformação da cidade, em especial a paralisia do trânsito, que prejudica a todos, mas principalmente quem viaja de ônibus, sem ar-condicionado.
"Depois de décadas, voltei a Salvador, há algumas semanas, para uma rápida visita de automóvel, por um dia apenas. Uma amiga foi dirigindo. Deixando de lado os detalhes do motivo dessa viagem, fiquei surpreso -- surpreso não, aterrorizado, pelo que passamos no trânsito.
Pensava eu, ingênuo, que podia falar alguma coisa acerca de mobilidade e problemas urbanos, isso pelo que conhecia até aqui. Mas nunca tinha visto algo como a atual Salvador. Não até hoje. Filme norte-americano do gênero catástrofe perde.
Começamos nosso percurso na Baixa do Chocolate (Caminho das Árvores). Ao percorrer Brotas, Av. D. João VI, passando pelo 7 Portas até o Pau Miúdo, tudo parecia um exagero de ficcção. Isso era um dia NORMAL em Salvador. E é sempre assim, a cidade quase completamente paralisada. Carros e ônibus entupiam todas as vias disponíveis e se deslocavam a, digamos -- quando muito -- 0,5 km/h. À medida que anoitecia, tudo piorava. Um percurso insignificante como esse começou antes das 14 horas e terminou, de retorno ao ponto inicial, às 20 h. Estávamos de carro. Mas, de ônibus seria exatamente a mesma coisa; ninguém anda mesmo, nesse particular o caos soteropolitano é democrático mesmo.
O pior ainda estava por vir. Retornar a Aracaju. Estávamos de novo no Caminho das Árvores, bem na cara da Av. Antonio Carlos Magalhães, então, de lá era só cair fora da cidade e pegar a Linha Verde, certo? Errado.
O congestionamento na rótula do Shopping Center. Sabe aqueles filmes de ficção científica em que todo mundo foge da cidade ao mesmo tempo? A única diferença é que ninguém estava gritando, todos passivos achando aquilo normal. Não havia zumbis nos ameaçando, e o ar-condicionado do carro funcionava bem. Duas horas no trânsito, parados ali, querendo só andar uns míseros mil metros. Nem reclamo; podia ser pior. Imagine se tivéssemos de rodar pelo Barbalho, Barris e Federação?!
Fim da aventura, chegamos em Aracaju às 3 horas da manhã seguinte."
*José Roberto Gomes Rocha é engenheiro aposentado e cidadão interessado na melhoria da mobilidade urbana. Faça como ele e escreva para a seção Mobilize-se
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