Uma conta alta e ainda sem previsão de financiamento. Transformar os atuais cenários de congestionamento e precariedade do transporte coletivo, pôr fim às panes mecânicas do metrô, ampliar sua malha e ainda criar alternativas de transporte não motorizados são projetos que já têm orçamento pronto em Belo Horizonte: nada menos que R$ 24 bilhões.
De acordo com o prefeito Marcio Lacerda (PSB), esse é o valor do investimento necessário, até 2030, para se chegar a uma situação “confortável” no quesito mobilidade urbana na capital, segundo estudos sobre o tema elaborados em 2010. Na prática, seriam obras para expansão dos sistemas de BRT e das faixas exclusivas de ônibus, do metrô, das ciclovias, além de melhoria da mobilidade para pedestres, investimento em sinalização e adequações viárias, entre outros.
Considerando todas as demandas de infraestrutura na capital, incluindo itens como saúde e educação, a previsão de despesas dá um salto. Segundo o prefeito, para construir uma cidade com qualidade de vida muito boa em 16 anos são necessários cerca de R$ 43 bilhões. O desafio, no entanto, não se restringe à capital. Para especialistas em transporte e trânsito, os ambientes urbanos precisam ser repensados levando em consideração o território da região metropolitana.
“Esse é o planejamento que nós fizemos. Não é que nós possamos investir. É uma tarefa difícil, que depende inclusive da evolução da economia e das possibilidades de financiamento, que muitas vezes enfrentam restrições”, explicou Lacerda ontem, no seminário “Diálogos capitais: Metrópoles brasileiras – Mobilidade”, promovido pela revista Carta Capital em BH.
Desafio
Levando em consideração a afirmação do próprio prefeito, de que “o ideal em uma cidade é que 70% das viagens sejam feitas com transporte coletivo”, Belo Horizonte ainda tem um grande desafio pela frente. Na capital, os deslocamentos feitos coletivamente caíram de 43,7% em 2002 para 23,6% em 2012. Por outro lado, os modos individuais de transporte tiveram salto expressivo: de 28,4% para 34,8% no mesmo período. A quantidade de carros nas ruas resulta ainda na queda da velocidade média dos coletivos, em maior emissão de gases poluentes e em perda de qualidade de vida.
A busca por atendimento de saúde, por empregos, serviços e negócios na capital também resulta no inchaço da cidade. Sem precisar em números qual é o impacto da frota metropolitana, o presidente da BHTrans, Ramon Victor Cesar afirmou ser inegável que “parcela expressiva do tráfego de Belo Horizonte é de pessoas que moram em cidades vizinhas e trabalham aqui”.
O prefeito destaca que, apesar de os municípios da região metropolitana terem bom diálogo com a capital, é preciso que cada um desenvolva melhor seus serviços, para que os cidadãos não precisem se deslocar tanto. “Temos um passivo grande na questão da mobilidade, não só em BH, mas na região metropolitana e em todo o Brasil. É preciso tempo para que mudanças estruturais sejam feitas”, disse. Uma possível solução, na avaliação do superintendente da Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP), Luiz Carlos Mantovani Néspoli, um dos palestrantes do evento, está centrada na criação de consórcios metropolitanos.
A saída para sanar os problemas de mobilidade em Belo Horizonte e nos 33 vizinhos que compõem a Grande BH está centrada em pelo menos três pilares, segundo Lacerda: investimento, planejamento urbano e criação de planos metropolitanos de gestão do transporte e trânsito. O prefeito diz que a capital vem fazendo sua parte, criando regras para o adensamento urbano e privilegiando políticas públicas de transporte coletivo. “As mudanças começaram com a Conferência Municipal de Política Urbana de 2009”, disse Lacerda, que ressaltou impactos da conferência, como as novas regras para adensamento em corredores de transportes públicos e para vagas de garagem. As mudanças privilegiam unidades habitacionais com apenas uma vaga livre ou duas presas.
Outra iniciativa pela mobilidade na capital, segundo Lacerda é a criação do Plano de Mobilidade Urbana de BH, que já prevê expansão dos corredores de BRT. Até 2020, estão previstos pelo menos 160 quilômetros do Move, além de 100 quilômetros de faixas exclusivas para coletivos e 60 quilômetros de metrô, que hoje conta com malha de 25 quilômetros. Até 2016, a meta é sair dos atuais 70 quilômetros de ciclovias e chegar a 200 quilômetros.
Tarifa
O evento sobre mobilidade foi marcado por protesto de ativistas que defendem a isenção da tarifa do transporte público na capital, e que sustentam que a passagem em BH é uma das mais caras do país. Durante a exposição do prefeito, eles ergueram cartazes cobrando o benefício e também em apoio aos moradores de áreas de ocupações da capital. Questionado sobre a tarifa, Lacerda disse que “o tesouro municipal não tem recursos para subsidiar o transporte público”.
Ele afirmou que BH conta com a integração tarifária, na qual o passageiro pode, em um intervalo de tempo, fazer mais de uma viagem pagando tarifa única, além da integração de ônibus com o metrô. Sobre o bilhete único, com o qual o passageiro pode pagar um valor específico e circular quantas vezes quiser, o prefeito explicou que o município nunca fez uma simulação sobre a proposta.
No quesito habitação, segundo Lacerda, a prefeitura tem projetos para construção de 25 mil unidades do Minha casa, minha vida, que também fazem parte da política de uso e ocupação do solo da capital. “As construções só não avançaram mais pela falta de terrenos na cidade e por causa dos movimentos bem intencionados mas, para mim, equivocados, que querem resolver na marra a questão da moradia, por meio de ocupações. Essas pessoas estão passando por cima dos direitos legais de outras, que lutam por habitação há mais de uma década”, afirmou.
Enquanto isso...
....Prefeitura quer motorizar carroceiros
A Prefeitura de BH pretende acabar com a circulação de carroças puxadas por cavalos em Belo Horizonte, geralmente usadas no transporte de entulho. De acordo com o prefeito Marcio Lacerda, a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) está desenvolvendo um projeto para incentivar carroceiros ou seus familiares a obter a carteira de habilitação para motos e passar a trabalhar com motocicletas adaptadas a caçambas. A mudança, segundo Lacerda, deve ocorrer porque, da forma como o serviço é prestado atualmente, o carroceiro não tem mobilidade para levar o entulho aos depósitos adequados para recebimento do material. “Eles acabam jogando os resíduos em córregos ou nas próprias vias urbanas. Isso é um problema para a cidade”, diz. O projeto deve ter financiamento da Caixa Econômica Federal.
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