A necessidade de se investir em outros modais de transporte e não apenas em aumentar a malha viária para comportar uma maior quantidade de veículos particulares, pode contribuir com a melhoria da mobilidade urbana em Manaus. A ideia foi apontada durante o seminário “Lei de Mobilidade Urbana: Desafios e Possibilidades”, que termina hoje na Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
“Em Bogotá foi investido em transporte coletivo público, em ciclovias, além de bibliotecas e cultura em bairros pobres, o que teve impacto na humanização da cidade e organização do espaço público. Não foi investido apenas no crescimento da malha urbana”, explicou o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Amazonas (CAU/AM), professor Jaime Kuck.
Segundo ele, o transporte público é a solução, e não um problema, por isso a necessidade de se investir. “Se foi possível em Bogotá e em Medellín, porque não é possível em Manaus? Temos recursos para isso, falta vontade política para que as coisas aconteçam”, afirmou Kuck.
Para a professora doutora do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Denise Labréa, a sociedade vive um momento de humanização dos automóveis. “A cidade deve estar a serviço do homem, e não o contrário. O grande desafio é devolver a cidade para o homem. É preciso romper com a humanização do veículo. Quem nunca ouviu ‘meu carro dormiu na rua’ ou já viu um ‘centro de estética de automóveis’? É necessário romper este processo”, defendeu Labréa.
Nas ruas, não há uma equidade de espaços, sendo destinada a maior parte ao automóveis em detrimento inclusive dos pedestres. Para ilustrar a ideia, a professora utilizou uma campanha alemã que compara os espaços utilizados por carros, bicicletas e ônibus, mostrando. Por exemplo, 72 pessoas podem ser transportadas em um ônibus, que ocupa 30 metros quadrados; já 60 carros transportam 72 pessoas e ocupam 1.000 metros quadrados.
A necessidade de espaço para pedestres também foi apontada pelos especialistas. Pavimentação, sinalização, segurança, iluminação, arborização nos locais reservados ao tráfego de pedestre são necessários. “O mobiliário urbano disputa espaço com o pedestre e isso teria que mudar”, disse a doutora.
Além de se explorar os modais, a ocupação dos espaços esquecidos na capital – em detrimento do estímulo a novas ocupações, mediante a construção de residências em áreas afastadas – também pode contribuir com a melhoria da mobilidade urbana. “É preciso pensar em mobilidade urbana sem desvincular do projeto de planejamento urbano”, apontou Kuck, que defende a necessidade de melhor distribuição dos serviços públicos e particulares na capital para gerar uma mobilidade cidadã.
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