O aumento da Zona Azul, que a partir desta sexta-feira (1º) sobe para de R$ 3 para R$ 5 a folha, é mais uma medida da Prefeitura de São Paulo para desestimular o uso de carros na cidade. No entanto, especialistas ouvidos peloR7 afirmam que o número de veículos não vai diminuir enquanto o transporte público for ineficiente e o governo federal continuar com os incentivos para a compra de automóveis.
Segundo Luiz Célio Bottura, consultor de engenharia urbana e ex-presidente da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A), a falta de dados e de estratégia motiva a prefeitura a tomar o que ele chama de “medidas leigas”.
"Dentro de uma linha em que se deve prestigiar o transporte público, que nós não temos, primeiro são feitas as medidas restritivas para depois, quem sabe, tomar as medidas necessárias para se ter um transporte público de qualidade."
Para o ex-secretário de transportes de São Paulo, Getúlio Hanashiro, trata-se de uma contradição. Ele diz não acreditar em uma priorização do transporte público.
"Eu não acredito nessas medidas por uma razão muito simples. Há, por parte do governo federal, incentivo à compra do automóvel. Então, existe uma incoerência, no sentido de que um incentiva, enquanto o governo municipal restringe."
Mesma linha segue Bottura, que argumenta que os incentivos federais não ajudam a reduzir o número de automóveis em São Paulo.
"Nós inflamos a frota dando incentivos fiscais para que as pessoas comprem carros para salvar a indústria automobilística. Então, veja, é uma visão caolha de um conjunto de medidas necessárias para melhorar a cidade."
Bottura acredita que o aumento da Zona Azul vai impactar no valor dos estacionamentos.
"É bate e volta, não tenho dúvidas. O estacionamento é um risco do empreendedor. Ele vai tentar levar o preço até o limite da atratividade. Um concorrente mais barato que ele aumenta o preço, então ele pode também cobrar mais caro."
O secretário municipal dos Transportes, Jilmar Tatto, não acredita em contradição na política da prefeitura e diz que é necessário "atuar em várias frentes". Segundo ele, ao mesmo tempo em que o governo federal dá incentivo para a produção e venda de automóveis, também há investimentos federais na área de transporte público.
"Foram feitas desonerações nesta área. Na área da mobilidade, não foi só para o carro, foi também para o transporte público, por meio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), tanto em metrô como em trem. Nos corredores de ônibus, a própria presidente Dilma recentemente anunciou investimentos de R$ 10 bilhões para a cidade de São Paulo."
Tatto enfatiza, que devido ao grande número de pessoas e veículos, a prioridade do governo municipal é investir no transporte público.
"Você faz algumas restrições porque o espaço é único. Você tem dois corpos e apenas um espaço, então você tem que privilegiar aquele que cabe mais; nesse caso, o ônibus."
O secretário também rebateu as críticas sobre a má qualidade do transporte coletivo na cidade.
"Não é verdade, é um preconceito de pessoas que, às vezes, não usam o transporte público. Eu pego transporte público e é de ótima qualidade. O metrô é de ótima qualidade; o problema é que ele é insuficiente. O ônibus também é de ótima qualidade, mas temos de corrigir os locais em que ele não é bom. Algumas pessoas reclamam que os ônibus e o metrô são cheios, mas isso ocorre em horário de pico. Especialistas precisam viajar para Londres, Tóquio, Nova Iorque, e perceber que lá também é cheio em horário de pico."
Além do reajuste da Zona Azul, a gestão de Fernando Haddad (PT) já implementou 344,7 km de faixas exclusivas para ônibus. Aquelas à direita acabam eliminando as vagas nas ruas, e não há estimativa de quantos espaços serão eliminados. A administração municipal também pretende implementar 400 km de ciclovias até o fim de 2015.
Segundo o secretário Jilmar Tatto, serão eliminadas cerca de 40 mil vagas com a medida que beneficia os ciclistas. Além disso, em locais perto de metrô, trem e corredores de ônibus, o Plano Diretor prevê uma taxa extra para empreendimentos que construírem prédios residenciais com mais de uma vaga de garagem por apartamento.
Leia também:
SP vai retirar até 40 mil vagas de estacionamento para fazer ciclovias
SP: Câmara planeja taxa para transporte
São Paulo pode ganhar novas "vagas-vivas"