Acabaram-se os tempos em que proprietários de carros com alguma prática podiam consertar sozinhos problemas menores. Os carros modernos são cheios de equipamentos eletrônicos acionados por computadores de bordo e os mecânicos de automóvel de antigamente se tornaram especialistas em informática.
Alguns projetistas de automóvel e cientistas visionários acreditam, no entanto, que nós ainda estamos na Idade da Pedra em termos automobilísticos. A visão que eles têm é de um carro sem motorista, que computa todas as variáveis externas e internas, transformando motoristas em passageiros, eliminando assim o maior risco no moderno tráfego viário: a falha humana.
Mais segurança no trânsito, menos trânsito, menos poluição
Mas não se trata apenas de segurança. Também haveria menos engarrafamentos no trânsito porque os carros poderiam circular de modo sincronizado, evitando os problemas de andarem mais próximos uns dos outros. Segundo um estudo da California Partners for Advanced Transit and Highways (PATH), apenas 5,5% de uma estrada média nos Estados Unidos é ocupada pelos carros, mesmo quando usada com máxima eficiência. Cada faixa de uma rodovia padrão nos Estados Unidos mede 3,6 metros de largura, ao passo que a largura de um carro de passageiros, mesmo de tamanho grande, não tem mais que 1,8 metro. Motoristas humanos precisam dessa margem de segurança, mas os veículos pilotados por computador poderiam manter entre si uma distância bem menor.
Os carros também usariam menos gasolina, pois num tráfego que fluísse melhor, haveria menos necessidade de frear e acelerar. Carros automatizados também não são propensos aos maus hábitos encontrados com frequência nos motoristas humanos. Um teste de economia de combustível realizado pela montadora Ford mostrou que, evitando a ociosidade excessiva, a condução agressiva e o uso exagerado de ar-condicionado pode-se reduzir em mais de 20% o consumo de combustível.
As estatísticas dos proprietários de frotas, como a empresa norte-americana Schneider National, também mostra uma nítida correlação entre quilometragem por litro e acidentes. A empresa descobriu que os 100 motoristas com a maior quilometragem por litro tinham um índice de acidentes 37% inferior aos 100 motoristas com menor quilometragem por litro.
Além disso, os motoristas ficariam livres para ler, dormir ou trabalhar, ao invés de passar longas horas concentrados na estrada e na sinalização de trânsito. Segundo dados publicados pelo Departamento de Estatísticas dos Estados Unidos, os norte-americanos passam mais de 100 horas anuais no trajeto diário de ida e volta do trabalho, com cerca de 90% dessas viagens feitas de carro. Esse tempo é mais que as duas semanas de férias anuais da maioria dos trabalhadores.
À luz dessas vantagens potenciais, não é de admirar que os cientistas já venham trabalhando, há algumas décadas, com a ideia de carros automatizados.
Projetos com mais segurança e eficiência
No início dos anos 80, a União Europeia passou a financiar o projeto Prometheus, o programa para um tráfego europeu da máxima eficiência e segurança sem precedentes. Quase no fim do programa, cientistas conseguiram fazer com que um carro Mercedes-Benz automatizado fizesse uma viagem de mais de mil quilômetros no sistema rodoviário alemão. Havia um motorista humano a bordo por questões de segurança, mas o carro percorreu, numa ocasião, mais de 150 km sem intervenção.
O protótipo nunca chegou à produção, mas muitas das ideias usadas foram incorporadas. Hoje, os carros são equipados com muitos instrumentos que tiram o controle das mãos do motorista.
Os freios ABS (sistema de frenagem antitravamento) assumem o controle quando o motorista pisa no freio com muita força. Esse sistema impede que as rodas travem e que o carro deslize. O Controle Eletrônico de Estabilidade (ESC) pode se sobrepor às decisões do motorista quando este está prestes a perder o controle do carro. E assim como o ESC foi um acréscimo às vantagens do ABS, outras características de segurança ainda mais sofisticadas virão se somar aos sensores e ao uso da computação pelo ESC.
“Porém, ainda vai demorar muito até que os motoristas humanos se tornem redundantes. Acima de tudo, os fabricantes receiam assumir sozinhos todos os riscos”, diz Fred Wegman, do Instituto Holandês para Pesquisa em Segurança Rodoviária. “Você tem o problema de que os fabricantes se tornam legalmente responsáveis pelos sistemas de segurança integrados, e eles se negam a isso, pois há demasiado risco de serem processados pelos usuários”.
Mais importante do que isso é que dirigir ainda é encarado como símbolo de liberdade pessoal, um ato altamente emocional. Muitos motoristas ficam horrorizados só de pensar em se tornar meros passageiros.
Wegman defende a automatização parcial. “Considere as poucas pessoas que ainda se recusam a usar cinto de segurança. O último passo poderia ser uma trava que impede de dar a partida no carro antes de colocar o cinto”.
Muitos fabricantes de automóveis estão pensando nesse sentindo. O conceito de “escudo de segurança” da Nissan, por exemplo, inclui uma série de sensores e sistemas proativos que fornecem aos motoristas mais e melhores informações, e que intervêm no caso de haver um acidente inevitável.
Os chamados sistemas de controle adaptável de cruzeiro (ACC) medem a estrada adiante do carro por meio de sensores a laser ou por radar, a fim de manter uma distância segura em relação aos carros à frente, usando controle de injeção, diminuindo a marcha e freando, se necessário.
Empresas como Audi, Lexus, Mercedes-Benz, Toyota e Volkswagen também oferecem sistemas automatizados de estacionamento nos modelos top de linha, que permitem estacionar um carro sem a intervenção do motorista.
Essa automatização gradual também tem uma vantagem psicológica. Daqui a 20 ou 30 anos, nós ainda poderemos nos considerar bons motoristas por confiarmos na ajuda de computadores e sensores e do nosso técnico de informática automotiva.
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