Qual razão lhe faria pedalar pela cidade?
Pelo prazer de estar nas ruas com seu próprio corpo em movimento? Por conseguir chegar exatamente no tempo que você previu? Por gastar pouco dinheiro ao longo do mês com transporte? Por ser prático, rápido, ambientalmente correto e ainda fazer bem à saúde de quem pedala e da coletividade? Legítimas razões e boas razões.
Na verdade, não cabe a ninguém questionar o porquê do outro pedalar. Entretanto, cabe a todos nós, cidadãos, questionarmos a razão de nossa cidade ter optado por um modelo de desenvolvimento urbano, ou seja, de como as coisas se dão no universo da cidade, ao invés de outros tantos possíveis.
Qual modelo Belo Horizonte tem adotado? O modelo socialmente segregador. O que exclui. O que mata dezenas de nós ao mesmo tempo que coloca centenas de novos carros diariamente nas ruas, avenidas, calçadas, ciclovias e trincheiras: o chamado rodoviarismo. O modelo que, a qualquer custo, tenta arrumar espaço para os 1.610.881 veículos que circulam nas ruas da cidade. Deste total, 1.109.135 são carros.
O preço que se paga para que essa cidade continue seu desenvolvimento é caro não só financeiramente, mas, também, no campo político, social, ambiental e, sobretudo, humano. A roleta russa do rodoviarismo não escolhe quem participa do jogo. Ela escolha a vítima e disparada sua arma. Teriam essas vidas perdidas um preço? Um prazo de validade?
No último dia 3 de julho, a cidade ficou atônita, não porquê o Neymar machucou, mas por conta da queda de um viaduto em cima de alguns veículos! Sim, um viaduto caiu em pleno século XXI, o século das engenharias urbanas. O viaduto caiu e com ele duas vidas se foram.
Não me cabe questionar, aqui, a quem a culpa será personificada, mas, sim, dizer que há milhares de pessoas em Belo Horizonte que não escolheram a construção de um viaduto como ‘obra de mobilidade urbana para a Copa'. Mais ainda, me cabe propagar que a queda solitária de um viaduto não é, e nunca será, um acidente que acontece.
Dezenas (ou centenas, espero eu) de pessoas que têm certeza de quem a queda do viaduto não foi acidente farão uma pedalada, saindo da Praça da Estação, até a av. Pedro I, local do desabamento, amanhã, sexta-feira, a partir das 17h. Skates, patinetes, patins, bicicletas e qualquer modo de locomoção sem motores são benquistos! Confirme presença aqui!
Essa é uma razão que me faz pedalar.
Serviço
O que: Pedalada - Não foi acidente
Onde: Praça da Estação até av. Pedro I
Quando: sexta-feira, 11/7
Horário: 17h
Quem pode ir: todo mundo, sem modo de transporte motorizado
* Guilherme Tampieri é colaborador do Mobilize e solicitou que o texto fosse publicado no Portal.