O declínio do carro nos EUA

Artigo no jornal Folha de S.Paulo reúne indícios de que o modelo urbanístico baseado no carro está fazendo água nas grandes cidades americanas. Mas persiste no Sul

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Fonte: Ilustríssima/Folha de S. Paulo  |  Autor: Raul Juste Lores*  |  Postado em: 30 de junho de 2014

Ilustração: Deco Farkas
créditos: Ilustração: Deco Farkas

 


De Nova York, o jornalista Raul Juste Lores avisa: a paixão pelo modelo carro-subúrbio-shopping está morrendo, pelo menos no Nordeste dos Estados Unidos. Apenas no Sul e nas pequenas cidades do país as pessoas ainda insistem em manter grandes casas e carrões. E, mais curioso, há uma divisão quase ideológica entre os americanos em relação ao uso cotidiano do carro: por exemplo, os conservadores, republicanos, seguidores do Tea Party, defendem o modo tradicional de vida americano e acusam as ciclovias de serem uma imposição da ONU. 


De outro lado, os democratas tendem a apoiar o transporte coletivo e o conceito de cidades para pessoas. O artigo toma como referência o centro empresarial de Tysons Corner, a 18 km de Washington, que foi construído em 1968 para receber as sedes das grandes corporações, em um modelo inteiramente baseado no uso do transporte individual. Agora esvaziado, o bairro passará por um retrofit para ampliar calçadas, aumentar a oferta de transportes públicos e criar locais de atração, como bares e cafés nas ruas e esquinas. Esse é o modelo de cidade procurado pelos jovens norte-americanos, avisa o artigo.


Alguns dados são bastante saborosos:

 

"Se, na última década, a região metropolitana de Washington ganhou quase 1 milhão de novos moradores, chegando a 5,8 milhões, o subúrbio de Tysons passou de 18 mil habitantes em 2000 para 19 mil no ano passado. Nos últimos dez anos, 20 mil empregos se mudaram de lá, especialmente para o centro de Washington, onde há cafés, restaurantes e calçadas largas -que atraem universitários, recém-formados e casais mais velhos cujos filhos já saíram de casa. Gente que vai ao trabalho de bicicleta ou a pé (algo comum a 15% da população da capital americana)."

 

"Em um país onde a carteira de motorista é um RG extraoficial, 20% dos jovens americanos entre 20 e 24 anos de idade não têm hoje habilitação - e o mesmo vale para 40% dos americanos de 18 anos. Em ambos os casos, o número de jovens que não dirigem dobrou entre 1983 e 2013, segundo estudo da Universidade de Michigan."

 

"Desde 2001, o número de quilômetros dirigidos nos EUA vem caindo. Na última década, o número de americanos que vai diariamente ao trabalho de bicicleta aumentou 60%, chegando a 900 mil. Em várias cidades americanas, mais de 10% das viagens de casa ao trabalho são feitas a pé ou de bicicleta, como em Boston (17%), Washington (15,2%), San Francisco (13,3%), Seattle (12,6%) e Nova York (11%) - na maior cidade americana, 60% das viagens são em transporte público."

 

"O uso do transporte coletivo nos EUA em 2013 foi o maior já registrado desde 1956, segundo a Associação Americana de Transporte Público, com 10,7 bilhões de viagens. Foram oito anos de crescimento consecutivo, a partir de 2005. O número de viagens em trens urbanos e bondes aumentou acima de 20% só no ano passado em cidades como Salt Lake City (Utah), Austin (Texas), Filadélfia (Pensilvânia) e New Orleans (Louisiana)."

 

"Houve investimentos pesados para que isso acontecesse. A gestão do prefeito Michael Bloomberg em Nova York (2002-13) reduziu pistas para carros na Broadway e na Times Square e criou 450 km de ciclovias. Mesmo cidades menos densas, como Denver e Houston, criaram redes de bondes modernos (VLTs) na última década."

 

"O olimpo da economia americana também se deslocou, como atesta a decadência de Detroit, berço da indústria mundial do carro, que encolheu de 2 milhões de habitantes nos anos 1970 a 700 mil hoje e cuja prefeitura está oficialmente falida. A General Motors, por várias décadas a maior empresa americana, hoje ocupa o sétimo lugar no ranking da revista Fortune. No novo topo, encontram-se empresas de tecnologia, como Google e Apple."

 

"De todos os negócios surgidos dessa nova fase, o mais promissor é o aplicativo Uber, avaliado em US$ 18 bilhões após o último aporte de capital de investidores neste mês, o que faz dele a empresa iniciante mais valiosa do mundo. O aplicativo, que conecta usuários e motoristas cadastrados em seu sistema, foi lançado há quatro anos em São Francisco e, no ano passado, ampliou sua operação para 120 cidades em 38 países."

 

"Ciclovias, cidades mais densas, com menos carro e mais calçada, espaço público e transporte coletivo estão em alta no nordeste e noroeste americanos e em quase todas as grandes cidades do país, diz Karen Seto, professora de geografia e urbanização da Universidade Yale."
 

Leia o artigo completo no site da Folha de S. Paulo.


*Edição: Marcos de Sousa/Mobilize Brasil 

 

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