Vereadores vivenciam dificuldades enfrentadas por deficientes em Joinville (SC)

4ª Caminhada Cívica da Acessibilidade foi promovida pelo Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência nesta terça-feira (27)

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Fonte: Notícias do Dia  |  Autor: Thaís Moreira de Mira  |  Postado em: 29 de maio de 2014

Vereador James Schroeder andou com ajuda de bengal

Vereador caminha com ajuda de bengala

créditos: Rogério Souza Jr./ND

 

Seis vereadores de Joinville toparam o desafio de participar da 4ª Caminhada Cívica da Acessibilidade, promovida pelo Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Comde) na manhã da última terça (27), com largada no Terminal Sul, no bairro Floresta.

 

Eles puderam vivenciar a dificuldade diária de locomoção dos mais de 110 mil deficientes físicos que vivem no município. Calçadas esburacadas, sem guia tátil ou rebaixo para cadeiras de rodas e andadores foram alguns dos obstáculos encontrados em menos de meia hora de caminhada pela quadra da rua Santa Catarina.

 

O presidente da Câmara de Vereadores, João Carlos Gonçalves, e a vereadora Pastora Léia, vice-presidente, escolheram caminhar com um par de óculos que imita os distúrbios de visão numa pessoa com catarata. Gonçalves ainda andou usando uma caneleira de três quilos nos pés e bengala. “A situação é horrível, quase não dá para enxergar nada com estes óculos. Impressionante, jamais sabia que era assim”, disse o vereador.

 

Já a Pastora Léia usou também um andador, enfrentando dificuldade para subir e descer das calçadas com o meio-fio de pelo menos cinco centímetros. Nestes trechos, as rodas do andador precisaram ser levemente erguidas, tarefa fácil para quem tem força nos braços. “Vai ser outra reflexão, a gente sempre ouve falar das dificuldades, mas agora nos colocamos no lugar do outro. O poder público e a população precisam estar conscientes, fazer calçadas com acessibilidade em frente as suas casas, comércios.”

 

A experiência vai ser discutida pelos vereadores, garante o presidente da Câmara. “Precisamos repensar a aprovação de leis como o rebaixamento das calçadas [sancionada em novembro de 2013]. São coisas para refletir, eu nunca achei que fosse encontrar tanta dificuldade nesta caminhada”, revela Gonçalves. Para a Pastora Léia, é tempo de mudar esta dura realidade. “Esta situação vem de anos, não é de imediato que vai mudar, mas temos que começar."

 

Na cadeira de rodas

Os vereadores Lioilson Corrêa, Rodrigo Fachini e Manoel Bento escolheram andar de cadeira de rodas. Os três encontraram dificuldades no trajeto e, em alguns pontos, quase caíram. “É outro sentimento, uma sensação de insegurança. Uma dificuldade que nunca imaginei ser tão grande”, disse Corrêa. Mesmo andando numa cadeira motorizada, Bento também foi pego de surpresa pelo grau de complexidade vivido pelos deficientes. “É difícil o acesso às calçadas, você corre o risco de cair o tempo todo.”

 

O especialista em acessibilidade, Mário Cezar da Silva, assessor do Comde, reclama de um trecho em frente à Sociedade Vera Cruz. No local, há faixa de pedestres, porém, como a calçada é alta, o cadeirante não tem acesso. É preciso se arriscar atravessando a rua num ponto sem sinalização. A inclinação da descida da calçada também é um problema. A cadeirante Clarice Freitas, 37, caiu enquanto demonstrava a dificuldade de passar pelo local. “Se eu for de ré vou tombar, se for de frente corro risco de cair”, previu. Os vereadores foram auxiliados na descida da calçada. “Foi um choque de falta de cidadania”, comentou Fachini.

 

De olhos vendados

O vereador James Schroeder caminhou de olhos vendados. Ele foi guiado por Talita Fernanda Bolduan, 21, que nasceu com baixa visão, e aos 14 anos ficou cega. “É tenso e dramático andar pelas ruas de Joinville. As calçadas não estão adaptadas decentemente, até naquelas com piso é um problema. O piso acaba de repente nos orelhões, embaixo dos pontos de ônibus”, descreve Talita.

 

Ela caminhou devagar para acompanhar Schroeder, desacostumado com a falta de visão. Os dois usaram uma haste guia para tentar identificar os obstáculos do caminho. “É muito difícil, eu não faço ideia de onde estou  e o que tem a minha volta. Estou tentando aguçar minha audição, é só o que tenho, a audição e o tato. Dá um medo, de verdade”, explicou o vereador.

 

De acordo com Mário Cezar da Silva, outro trecho complicado da caminhada foi a entrada do terminal pela rua Ari Barroso. Silva explica que há três anos o Comde solicitou que a Prefeitura fizesse calçada com piso tátil naquele trajeto. O ajuste foi feito, mas no acesso ao terminal o cego tem dificuldade em chegar até as catracas. Sem uma referência, ele se arrisca atravessando no espaço destinado à entrada e à saída dos coletivos.

 

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