Obras da Copa priorizam carros e ignoram mobilidade, diz especialista

Engenheiro analisou projetos de mobilidade urbana em Natal. Está prevista a construção de viadutos e túneis próximos à Arena Dunas

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Fonte: G1 RN  |  Autor: Felipe Gibson  |  Postado em: 14 de abril de 2014

Obra na Prudente de Morais complicou trânsito na v

Obra na Prudente de Morais complicou trânsito na via

créditos: Riccardo Carvalho/Cena2 Produções

 

Projetos que impõem o trânsito de carros e ignoram as pessoas. Essa é a avaliação do engenheiro civil e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Rubens Barreto Ramos, sobre as obras de mobilidade urbana no entorno da Arena das Dunas, em Natal. Estão previstas a construção de dois viadutos e de seis túneis nas avenidas e ruas que cercam a área do estádio construído para a Copa do Mundo 2014. "Dinheiro público jogado fora", afirma o especialista, que defende uma política que priorize o transporte público na cidade.

 

O professor afirma que a construção de passarelas, túneis e viadutos não democratizam o espaço e apenas transferem os congestionamentos para outros locais. "São obras para auto-estradas. Não resolvem nada, os gargalos continuam. O viaduto estaiado da avenida Prudente de Morais, por exemplo, vai simplesmente jogar o trânsito mais rápido para a Miguel Castro", explica.

 

Tomaz Neto, titular da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Semopi), afirma que as obras "serão um legado para Natal, uma vez que vão melhorar o trânsito na cidade". Segundo ele, a conclusão das construções está prevista para antes do início da Copa. A prefeitura ainda não divulgou oficialmente o esquema especial de transporte público que será montado para dias de jogos.

 

Para Ramos, os projetos estão equivocados tanto do ponto de vista do acesso ao estádio quanto em relação ao trânsito, pois não priorizam o transporte público. "Estamos observando a total imposição dos carros sobre as pessoas. É uma visão ultrapassada de mobilidade. Com mais veículos, você movimenta menos pessoas", opina o especialista.

 

De acordo com o engenheiro civil, o carro foi a melhor invenção para o transporte individual, porém quando se pensa na mobilidade coletiva, essa perspectiva muda.

 

"O carro é o melhor invento de mobilidade, mas ao mesmo tempo a pior máquina quando se pensa em um conjunto de pessoas que se desloca em um determinado percurso na mesma hora. O que muda o carro de remédio para veneno é a dose. Ao mesmo tempo que é a melhor alternativa para se deslocar, o carro concentrado na avenida é um veneno para trânsito", analisa Ramos.

 

Ramos aponta a mesma visão de prejuízo à mobilidade das pessoas quando se observa as obras do ponto de vista do acesso à Arena das Dunas. "Com o estádio cercado de viadutos e túneis as pessoas não vão chegar com facilidade. O ideal é uma área aberta em que as pessoas possam chegar caminhando, como acontece em um estádio como Wembley, na Inglaterra", compara.

 

O titular da (Semopi), Tomaz Neto, informou aoG1 que o viaduto da avenida Lima e Silva não funcionará durante a Copa do Mundo justamente devido à movimentação de pessoas no entorno do estádio.

 

Localizada ao lado da Arena das Dunas, a estrutura não estará pronta para uso e ficará isolada por tapumes durante o Mundial. "Nem que ficasse pronto funcionaria, pois a área em frente à Arena das Dunas ficará liberada para o trânsito de pessoas", explica Neto.

 

A expectativa é que a obra funcione logo após o término da Copa. O viaduto de 130 metros desemboca na marginal da BR-101.

 

 

 

Transporte público como alternativa

Para encontrar uma alternativa a para a mobilidade da cidade, Rubens Ramos explica que é preciso entender o tipo de deslocamente feito pelas pessoas. "Dois terços do movimento nos horários de pico no trânsito é feito por pessoas que vão trabalhar ou estudar. Temos que fazer com que esses dois terços se movimentem com qualidade", afirma o professor da UFRN, que defende o investimento em um transporte público de alta capacidade.

 

Na opinião de Ramos, a opção mais interessante para Natal é montar um sistema de Tramway, mais conhecido no Brasil como Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT). "Um bonde comporta 300 pessoas. Se você substituir por ônibus, são cinco veículos para realizar o transporte com conforto. Já nos carros, você teria um espaço equivalente a três faixas ocupadas na avenida Salgado Filho no trecho do Midway Mall ao Portugal Center", calcula o engenheiro.

 

O custo do sistema de VLT, segundo o professor da UFRN, é menor do que os gastos com as obras de mobilidade urbana. Os projetos do lote 2, que contemplam os viadutos, túneis e passarelas no entorno da Arena das Dunas, somam R$ 222 milhões. Enquanto isso, o lote 1, que prevê a construção de um sistema binário nas avenidas Capitão mor-Gouveia e Jerônimo Câmara, custará R$ 114 milhões.

 

Aliado a isso, o engenheiro coloca o sistema de táxis como uma alternativa complementar importante para a mobilidade da cidade. "Os táxis ajudam a democratizar a mobilidade das pessoas pela cidade. É preciso que haja uma política pública para esse setor. Atualmente temos uma frota velha e um preço alto", encerra Ramos.

 

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Comentários

Sandra Costa de Oliveira - 18 de Abril de 2014 às 09:48 Positivo 0 Negativo 0

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