Com o envelhecimento das populações em muitos países industrializados, os idosos estão cada vez mais presentes em nossas ruas. Porém, longe de representar um risco adicional, como muita gente presume, os motoristas da terceira idade são, sob muitos aspectos, melhores motoristas, afirma Christoph Lauterwasser, do Centro de Tecnologia Allianz.
Seu estudo foca a segurança no trânsito na terceira idade. Por quê?
A proporção de pessoas idosas está aumentando a cada ano. Hoje, cerca de 19,5% da população alemã tem 65 anos ou mais. Essa proporção terá aumentado 31,5% em 2050, e a situação no resto da Europa é bastante parecida.
Em segundo lugar, o número de proprietários de automóvel está crescendo. A porcentagem de mulheres idosas com carteira de habilitação também está aumentando. Os aposentados de hoje tiveram carro durante a vida inteira, algo que antes não ocorria.
Esse é um desdobramento positivo: mais mobilidade significa uma melhor participação na vida pública e mais independência. Mas a questão é: o que isso significa para a segurança rodoviária, e em que medida os motoristas idosos são diferentes?
Nós analisamos dados de acidentes rodoviários fornecidos pelo Escritório Federal de Estatísticas da Alemanha e pela área de seguros da Allianz, e atuamos em cooperação com o Conselho Europeu de Segurança no Transporte (ETSC) para avaliar a situação na Europa.
Pessoas idosas são piores motoristas?
Não, mas elas são diferentes no trânsito. Comparando essa faixa etária com o total da população, os idosos causam relativamente poucos acidentes graves: 11%. Isso quer dizer que eles têm mais probabilidade de serem vítimas de um acidente grave do que de causar um acidente. E se você examinar o tipo de acidentes envolvendo motoristas idosos vai perceber que eles têm um ajuste melhor do comportamento ao volante em relação à velocidade. Os acidentes por velocidade são raros, e os idosos poucas vezes são culpados por dirigir bêbados ou abalroar os carros à frente.
Por outro lado, motoristas idosos frequentemente têm problemas em lidar com situações complexas como, por exemplo, ao fazer uma curva, ao estacionar, ou quando precisam dar passagem a outro veículo. Nessas situações, o número de acidentes aumenta. Porém, motoristas idosos podem muitas vezes compensar tais limitações, pois eles são bons em adaptar o seu modo de dirigir diante de situações perigosas, então eles não são, necessariamente, piores motoristas.
Vocês também estudaram pedestres ou ciclistas idosos. Qual é a situação deles?
O risco para pessoas idosas é significativamente maior do que para os usuários mais jovens. Quando um acidente envolve pedestres, o risco de ser morto é três vezes maior para os usuários seniores do que para pessoas na faixa de 25 a 64 anos de idade. O mesmo se aplica aos ciclistas.
Isso se deve, em parte, ao fato de que os idosos são fisicamente mais vulneráveis. Se eles se envolvem em um acidente, o risco de morte para eles é muito maior. Mas isso é porque algumas situações são particularmente difíceis para os idosos, como, por exemplo, atravessar uma rua ou estrada em locais desfavoráveis.
De que maneira os idosos podem garantir a própria segurança no trânsito rodoviário?
Há uma série de fatores, mas que não dizem respeito apenas aos motoristas seniores. Se você olhar os acidentes envolvendo pedestres, na maioria das vezes a culpa é dos motoristas. Trata-se de uma questão de atenção e consideração. Faz uma enorme diferença se você dirige a 30 km/h ou a 50 km/h em áreas onde residem pessoas idosas.
Aqui ainda há muito que se pode fazer em termos de infraestrutura. Os fabricantes de automóveis também fizeram muita coisa nos últimos anos. Os contornos da maioria dos carros se tornaram mais suaves. Mas, em última análise, evitar um acidente é sempre melhor que causar um acidente, ainda que seja leve.
Alguns países europeus também introduziram obrigações especiais para motoristas idosos. Isso funciona?
É verdade, alguns países exigem exames periódicos para verificar se as pessoas idosas ainda são capazes de manejar seus carros de modo seguro, como é o caso na Holanda ou no Reino Unido. Mas, se olharmos as estatísticas, não vamos ver a necessidade de tais medidas. O maior risco é, de longe, representado pelos jovens abaixo de 25 anos.
Se você tiver em mente que apenas 11% de todos os acidentes graves são causados por pessoas acima dos 65 anos, então parece exagerado impor uma regulamentação tão restritiva. De acordo com o ETSC, as obrigações existentes para motoristas idosos contribuíram muito pouco para melhorar a segurança rodoviária.
A sua pesquisa descobriu que os idosos não correm um risco significativamente maior de causar acidentes sérios, no entanto, os prêmios dos seguros aumentam a partir dos 65 anos. Por quê?
Aqui é preciso estabelecer uma diferença. Nós só examinamos os acidentes graves. Se alguém tem muitos acidentes ao estacionar, isso não afetou as nossas estatísticas. A maioria dos acidentes tem um custo inferior a 3.000 euros, e, aqui, em condições normais, é pouco provável que alguém se machuque. Nós nos concentramos na segurança de motoristas e passageiros e ignoramos esses acidentes menores.
Você deve levar em conta que os motoristas idosos causam menos acidentes do que os motoristas mais jovens pelo fato de dirigirem menos. Se você considerar os acidentes por quilômetro, então vai notar que o número de acidentes com idosos está aumentando, mas, certamente, não tão rápido quanto os acidentes com motoristas abaixo dos 25 anos.
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