A Prefeitura de Curitiba lançou nesta quinta-feira (27), um plano ambicioso que pretende revitalizar e implantar 234 quilômetros de calçadas no entorno de equipamentos públicos, a implantação de calçadões em todas as administrações regionais da cidade e a mudança na legislação que trata do assunto, o que permitirá a regularização fundiária de milhares de residências.
Segundo a Prefeitura, o Plano Estratégico de Calçadas leva em conta a acessibilidade e a segurança, além da preocupação com o reaproveitamento de materiais e a integração com o Plano Cicloviário.
Elaborado pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), o plano faz parte das comemorações do aniversário de 321 anos da cidade. Segundo o prefeito Gustavo Fruet, foi um ano de trabalho conjunto que envolveu 12 órgão para se chegar ao resultado final, “um presente para os curitibanos”, segundo o político.
Calçadões nas regionais
A Prefeitura de Curitiba vai implantar um calçadão em cada uma das Regionais. O Ippuc selecionou três ruas com viabilidade técnica em cada regional. A escolha será feita pela comunidade. Depois disso, será lançado um concurso de ideias para a concepção dos novos calçadões. Novamente será a população quem elegerá a melhor concepção urbanística para a sua Regional. As propostas escolhidas pela comunidade serão transformadas em projetos executivos e implantadas pela Prefeitura Municipal de Curitiba dentro dos novos padrões estabelecidos pelo Plano Estratégico de Calçadas.
“Os calçadões vão levar animação aos bairros, criando novos polos de comércio, lazer e serviços e, acima de tudo, favorecendo o encontro entre as pessoas”, destacou o presidente do Ippuc, Sérgio Póvoa Pires.
“Tudo isso faz parte do projeto maior de humanizar a cidade, devolvendo as ruas para os cidadãos. Uma cidade mais humanizada prioriza o pedestre, o ciclistas, os pequenos deslocamentos a pé. E é isso que queremos: menos espaço para os carros, mais espaço para as pessoas”, reafirmou o prefeito Gustavo Fruet.
Caminhos de luz
Com base em uma proposta da Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Juventude (SMELJ), de implantação dos Portais do Futuro – espaços voltados para a juventude em cada uma das Regionais –, foi desenvolvido o projeto “Caminhos de Luz”. O projeto prevê ampla iluminação urbana nesses locais, assim como nas áreas de entorno, que também terão calçadas revitalizadas de acordo com os novos padrões de segurança e acessibilidade. Dessa forma, cria-se na região uma rede para conectar diversos equipamentos urbanos e o transporte coletivo. A iluminação será aérea, e também no piso, criando um ambiente seguro para os pedestres.
Foram definidos os locais para a implantação de sete Portais do Futuro:
- Unidade Cajuru (Rua Miguel Tatarim, 545 – Uberaba.)
- Unidade Boqueirão (Rua Pastor Antonio Pólito, 2200 – Alto Boqueirão.)
- Unidade Bairro Novo (Rua Marcolina Caetana Chaves, 150 – Sítio Cercado.)
- Unidade CIC (Rua Hilda Cadilhe de Oliveira s/nº, entre as ruas Marco Antonio Malucelli e Pedro Driessen Filho – Cidade Industrial de Curitiba.)
- Unidade Tatuquara (Rua Jovenilson Américo de Oliveira, s/n, na esquina com a Rua Augusto Bley – Jardim da Ordem)
- Unidade Boa Vista (Rua Joaquim da Costa Ribeiro, 31 – Atuba.)
- Unidade Santa Felicidade (Rua Alcides Darcanchy, s/n – Santa Felicidade.)
Caminhos da escola
O Plano de Calçadas vai buscar a excelência no acesso público de pedestres no entorno de todos os equipamentos municipais. No entanto, neste primeiro momento, a prioridade é melhorar o acesso ao entorno das escolas municipais. As primeiras ações deverão contemplar ao menos uma escola por regional para depois expandir o projeto. O objetivo é implantar calçadas que liguem a escola a outros equipamentos públicos, a pontos de ônibus ou a vias principais do entorno.
Passeios de chuva
Os passeios de chuva são faixas de calçada em que normalmente haveria o plantio de grama. Nesses locais será feita uma espécie de calha natural, com inclusão de paisagismo. O local irá acumular água durante as chuvas e, principalmente, vai colaborar para diminuir a velocidade da água, evitando o alagamento das calçadas e das áreas próximas. Com esta medida, que é barata e de fácil instalação, chuvas que normalmente seriam levadas diretamente ao rio, podem ter seus efeitos minimizados: as águas demoram mais a chegar aos rios, diminuindo o pico das cheias e sua velocidade, sendo, portanto uma medida de caráter ambiental e de minimização de riscos.
Reaproveitamento de materiais
Para buscar a requalificação de calçadas com mais economia, será feito o reaproveitamento de materiais. Por esse método, a requalificação de calçadas pode ser quintuplicada pelo mesmo valor, o que amplia em muito as áreas beneficiadas. A referência para esse trabalho é a Avenida Getúlio Vargas. “Se tivéssemos utilizado um pavimento totalmente novo, o gasto teria sido cinco vezes maior. Isso sem falar no desperdício de materiais nobres que, anteriormente, eram transformados em brita”, disse o arquiteto Edival Vilar de Araújo Júnior, coordenador do projeto.
O Plano de Calçadas vai buscar a excelência no acesso público de pedestres no entorno de todos os equipamentos municipais: terminais, creches, escolas, postos de saúde, hospitais.
Requalificação
Desenvolvido pelo Setor de Projetos do Ippuc, o trabalho de requalificação das calçadas da Avenida Getúlio Vargas reaproveitou o piso original, que era do tipo “lousa”, que é uma pedra de excelente resistência. Já a faixa de CBUQ (Concreto Betuminoso Usinado a Quente), utilizada como passeio compartilhado entre ciclistas e pedestres, havia sofrido muitas alterações e deformações. Assim, a revitalização do espaço foi realizada por meio da reconstrução dessa faixa contínua, feita de concreto moldado "in loco". No restante da calçada, houve a reconstrução da estrutura (base e sub-base) e o reassentamento do material previamente existente, evitando-se o desperdício de matéria-prima resistente e durável, reduzindo-se também os custos envolvidos. O projeto é finalizado com a implantação de novo mobiliário urbano (bancos) e de iluminação voltada para o pedestre. “São soluções criativas que tornam a rua mais bonita e mais segura, valorizando o dinheiro do contribuinte”, destacou o presidente do Ippuc, Sérgio Póvoa Pires.
O projeto da Avenida Getúlio Vargas também contempla um dos conceitos básicos da legislação a ser revisada e que diz respeito à acessibilidade. Houve a preocupação de criar um espaço contínuo, de livre acesso, liso e antiderrapante, que facilita o acesso e a circulação de cadeiras de roda, carrinhos de bebê e pessoas com dificuldade de locomoção. As chamadas faixas livres acessíveis, sem obstáculos nem desníveis no piso (acima de 1,5 cm), assim como sem obstáculos aéreos (abaixo de 2,10m).
Revisão da legislação
Tradicionalmente, as calçadas vinham sendo tratadas de forma homogênea em toda a cidade. A legislação municipal estipula que as ruas deveriam possuir 12 metros de largura, "de muro a muro". No entanto, em muitas vias em áreas de "ocupação espontânea", as ruas possuem 10 metros ou menos. Por legislação, prevê-se regularização de vias com até um mínimo de 3 metros de largura, sendo que as ruas de 3 a 6 metros só podem ser aprovadas como vias exclusivas de pedestres.
Nas ruas de 6 a 10 metros de largura, existe dificuldade para implantar calçamento de boa qualidade: as calçadas são muito estreitas, muitas vezes com postes ouárvores sobre o passeio – que é a parte pavimentada da calçada para circulação exclusiva dos pedestres. Existem vários outros obstáculos nesses espaços, tais como veículos estacionados ou lixeiras. E a pista de rolamento costuma ser estreita.
Para essas vias fora do padrão, a proposta é fazer uma calçada no mesmo nível da pista de rolamento, separada apenas por pintura ou por meiofio elevado, que é mais fácil de executar, e com menos custo, organizando o espaço urbano e prevenindo problemas de acessibilidade. Com a mudança da legislação, poderá ocorrer a regularização fundiária de 10 mil residências, inicialmente. Há, ainda, potencial para atender outras 6 mil residências. No total, cerca de 64 mil moradores poderão ser beneficiados com a mudança da legislação.
Esforço concentrado
Ao longo de um ano, mais de 100 profissionais de 12 órgãos municipais se dedicaram ao tema, levantando os problemas existentes, os tipos de calçadas, as características de cada região da cidade, os materiais utilizados e as possíveis soluções. Além do Ippuc, que coordena o processo, participam do Plano Estratégico de Calçadas os técnicos das secretarias de Urbanismo, Meio Ambiente, Obras Públicas, Setran, Pessoas com Deficiência, Governo, Comunicação Social, Educação, URBS e Esporte, Lazer e Juventude.
O lançamento do Plano Estratégico de Calçadas teve a presençados secretários municipais da Pessoa com Deficiência, Mirella Prosdócimo; Trânsito, Luíza Simonelli; Obras Públicas, Sérgio Antoniasse; Informação e Tecnologia, Paulo Miranda; Ação Social, Marcia Oleskovicz Fruet. Também estiveram presentes os vereadores Felipe Braga Côrtes e Mauro Ignácio.
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