Seja pelo simples prazer de pedalar ou até por uma necessidade, o uso de bicicletas em Santos tem ganhado cada dia mais adeptos. Hoje, a malha cicloviária da Cidade alcança 33 km. As vias exclusivas para bicicletas interligam a orla ao Centro de Santos, a divisa com São Vicente à área do Porto e a Zona Leste à Zona Noroeste. Após dez anos da inauguração do primeiro trecho da ciclovia na orla, o traçado já se estende, entre outras avenidas, pela Ana Costa, Francisco Glicério, Afonso Pena, Mário Covas, Rangel Pestana e Martins Fontes e até o final deste ano, promete crescer ainda mais.
Mas, apesar das ciclovias serem ocupadas por milhares de ciclistas diariamente - o número de usuários só em Santos ultrapassa 300 mil, segundo a Associação dos Ciclistas -, a falta de bicicletários públicos, o excesso de desníveis, buracos e até problemas de sinalização estão entre as principais queixas entre os usuários e também entre aqueles que ainda não se aventuraram em trocar o transporte coletivo ou até mesmo o uso de carro próprio pelas duas rodas.
Hoje, o corretor João Perez de Sá deixa o carro em casa pelo menos duas vezes por semana para ir ao trabalho. Mas reclama dos frequentes problemas, principalmente na orla da praia. "O asfalto é ruim, cheio de irregularidades, não há uma drenagem eficaz quando chove e falta sinalização para pedestres e ciclistas", comenta.
Quem também aponta os problemas de drenagem do equipamento é a ciclista Cleusa Vitória, que trabalha todos os dias sob duas rodas. "A ciclovia necessita de manutenção urgente, principalmente em relação ao escoamento da água da chuva. Nos canais 5 e 6, a ciclovia fica toda alagada".
Outro que sente na pele os riscos enquanto pedala é o programador web, Amarildo Florêncio de Lima. Segundo ele, andar de bicicleta diariamente deixou de ser uma opção, é uma necessidade. O jovem anda de bicicleta todos os dias, de casa para o trabalho e do trabalho para a universidade. Sob as duas rodas, ele chega a ser arrisca em alguns trechos da Cidade que ainda não foram cortados pela malha cicloviária. E para não correr riscos, procura pedalar devagar e, muitas vezes, precisa até descer da bike. Hoje, segundo ele, se não bastasse a atenção do ciclista no trânsito, um dos maiores desafios é encontrar onde estacionar o veículo com segurança.
"Estou sofrendo esse problema no meu trabalho. Nunca tive bicicleta roubada porque sempre deixei em lugares seguros. Porém, agora, no estacionamento do prédio estão proibindo e pensam até em cobrar para deixarmos no local ".
Uma das principais razões para o programador ter optado pelo uso da 'magrela' há dois anos foi o alto custo do transporte coletivo na Cidade. Por dia, seriam necessárias três viagens, o que lhe acarretaria num gasto diário de R$ 8,70. Por mês, mais de R$ 170,00 teriam que ser desembolsados com o transporte coletivo, sem contar os finais de semana.
Faltam estacionamentos
Em São Paulo, tanto em shopping center quanto em edifícios comerciais, bicicletários são obrigados por lei. Porém em Santos, há apenas uma legislação que "estimula", segundo o presidente da Associação dos Ciclistas, Jesse Teixeira Félix, os estabelecimentos a terem locais disponíveis para guardar as bicicletas. "Não se pode apenas estimular. Isso tem que ser lei. Hoje, o que temos na Cidade são paraciclos, mas eles, como o próprio nome já sugere, servem apenas para uma parada rápida do ciclista. Você para com sua bicicleta em um destes pontos, e vai, por exemplo, a um supermercado".
Atualmente, há 819 paraciclos espalhados pelas ruas de Santos. A Companhia de Engenharia e Tráfego (CET) prevê ainda a instalação de mais 26 equipamentos em diferentes pontos da cidade, que ofertarão mais de 300 novas vagas. Porém, Félix acredita que, mesmo com muitos usuários, só com a implantação de bicicletários públicos na Cidade, o uso do meio de transporte seria mais estimulado. "Na Baixada Santista nós temos 1 milhão de ciclistas e há muitos usuários de cidades vizinhas que vêm para a região trabalhar de bicicletas.
"Nós temos um projeto para que o terminal rodoviário de Santos abrigue o primeiro bicicletário municipal. O bacana de usarmos este espaço é que o usuário poderia pedalar até o local e lá tomar sua condução para outros lugares. Também temos um estudo para a implantação de um outro equipamento na Ponta da Praia, próximo ao Mercado do Peixe. Naquela região, o fluxo de ciclistas é intenso. 60% dos trabalhadores que vêm de Guarujá para Santos estão sob uma bicicleta", comenta.
Malha cicloviária interliga a orla ao Centro, a divisa à área do Porto e a Zona Leste à Zona Noroeste
Bike Santos é um estímulo para a prática
Apesar de Santos ainda não contar com bicicletários públicos, desde 2012, a Cidade incentiva o uso de bicicletas por meio do sistema Bike Santos, que disponibiliza, gratuitamente, o uso de 300 veículos, dispostos em 30 estações espalhadas pela Cidade.
Este ano, duas conquistas ainda foram alcançadas pelos usuários do sistema. O tempo máximo para utilização da bicicleta, sem interrupção, passou de 30 para 40 minutos e o cadastramento, que antes exigia caução de R$ 10,00, passou a ser gratuito. Há ainda a opção de alugar a bicicleta por 24 horas. Neste caso, é cobrado do usuário R$ 5,00. O passe é recomendado para visitantes e turistas e pode ser habilitado através do Portal de Voz (13) 4062-9211.
Segundo informações da Prefeitura, o sistema atualmente conta com 51 mil usuários cadastrados. Somente no mês de janeiro deste ano, foram registradas mais de 60 mil viagens. A partir deste mês, sete novas estações serão implementadas na Cidade. Cinco delas serão na Zona Noroeste (Dale Coutinho, Praças Julio Dantas, Jerônimo La Terza, Bruno Barbosa e próximo ao SESI/Av. Nossa Senhora de Fátima), uma nas proximidades da Santa Casa (Jabaquara) e na UniSantos (Av. Conselheiro Nébias, Campus Boqueirão). Também 70 bicicletas serão acrescentadas ao sistema.
Em breve, os usuários também poderão fazer a retirada da bicicleta com o cartão-transporte – a empresa Serttel já está instalando nas estações leitores de cartão ‘smart card’. Assim, não será mais necessária a ligação através de telefone celular ou via aplicativo para a liberação das bikes.
> Confira a relação de estações do Bike Santos
Desde o ano passado, munícipes contam com sistema de empréstimo de bicicletas. Uso é gratuito
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