Se você economizasse R$ 94 por mês e demorasse 20 minutos a mais no trajeto até o serviço, deixaria o carro em casa para ir trabalhar de Move (nome dado ao BRT de Belo Horizonte)? Esse é o caso do economista Eduardo Santos, 43, que dirige há 20 anos e testou o novo transporte da capital ontem, para avaliar se a troca vale a pena.
“Meus colegas começaram a pegar o Move e a falar bem, mas alguns chegaram atrasados. A ideia é boa, mas, se não houver mais ônibus (menos lotados) e pistas exclusivas no trajeto todo, a economia não compensa”, avaliou.
A reportagem acompanhou Santos no trajeto de Move entre a casa dele, no bairro Silveira, na região Nordeste, até o trabalho, na avenida Carandaí, na região hospitalar. Ele saiu às 7h50, caminhou por cinco minutos até a Estação Feira dos Produtores e pegou o ônibus da linha 82 cinco minutos depois.
Apenas cinco minutos depois de circular fora do trânsito no corredor exclusivo da avenida Cristiano Machado, o Move pegou pistas com outros carros e ônibus convencionais, o que foi questionado pelo economista. “Ele vira um ônibus normal. Para facilitar a mobilidade, é preciso haver faixas só para o Move”, comentou Santos.
Com o ônibus lotado, ele teve que viajar de pé, mas não se incomodou. “Seria legal ir sentado confortavelmente, mas eu trabalho o dia inteiro sentado e não vejo problema em ficar de pé. O ar-condicionado já é um diferencial”, destacou o economista.
Às 8h26, Santos desceu na avenida Francisco Sales e seguiu andando por nove minutos até o trabalho. O trajeto terminou às 8h35 e totalizou 45 minutos. Segundo ele, de carro, seriam dispensados 25 minutos, porque ele corta caminho por dentro dos bairros, sem pegar a avenida Cristiano Machado. A via recebe cerca de 120 mil veículos diariamente nos dois sentidos e tem fluxo intenso na pista mista, com circulação de linhas convencionais e do Move simultaneamente.
De carro, o economista gasta cerca de R$ 210 por mês com gasolina e os dois rotativos diários, frente aos R$ 116 que ele gastaria com o Move. Diante dos 20 minutos a mais, os R$ 94 a menos não compensariam, segundo Santos. “Deixar o carro na garagem sem me preocupar com roubo e vaga e vir trabalhar sem enfrentar o estresse do trânsito são fatores positivos, mas voltar para casa de ônibus, cansado, em pé e demorar muito já não é tão bom”, ponderou.
O economista disse que vai tentar usar o Move para trabalhar e analisar se o sistema vai melhorar quando estiver operando de forma completa – o que está previsto para maio próximo. Santos voltou para casa de Move no horário do almoço, foi sentado e levou 35 minutos. “Bem melhor sem trânsito e sentado. Deu até vontade de usar mais”, concluiu.
Contexto
Conforme a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), a intenção inicial do Move é melhorar o serviço de transporte público na cidade para, em uma segunda etapa, atrair usuários de carro. Mas a lotação dos coletivos e os congestionamentos a que eles estão sujeitos fora dos corredores exclusivos podem ser desanimadores.
Para Ronaldo Guimarães Gouvêa, engenheiro da Universidade Federal de Minas Gerais e especialista em tráfego urbano, o Move não teria capacidade para absorver a demanda de veículos particulares. “O Move só é bom quando está no corredor. O ganho (de tempo) é muito pequeno. O usuário só trocaria o carro por um sistema eficiente e confortável, que seria o metrô”, explicou.
“Não compensa deixar o conforto do carro para economizar R$ 94. Mas estacionar na área hospitalar é um problema, então acredito que o Move pode ser boa opção. Vou tentar usar pelo menos três vezes por semana.”
Eduardo Santos, 43 - economista
Números
25 minutos é o tempo gasto de carro para se fazer o trajeto
45 minutos é o tempo gasto de Move ao fazer o mesmo percurso
R$ 94 seria a economia mensal ao se optar por usar o Move
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