A mobilidade urbana é, sem dúvida, uma das principais questões das cidades de todo o mundo. Isto porque significa o direito de ir e vir, interfere diretamente na qualidade de vida das pessoas e impacta o meio ambiente. Cuiabá, cidade histórica, sede da Copa do Mundo, merece uma reflexão especial sobre o prisma da mobilidade urbana e humana, por sua importância geoeconômica, é uma região metropolitana que tem crescido bastante e vai crescer ainda mais.
Dias atrás, tive a enorme satisfação de conversar com a advogada Fabiana Curi. Ouvi atentamente sua preocupação com a mobilidade de nossa capital. Ela alertou para a necessidade premente do poder público municipal, priorizar uma política voltada para as pessoas ao invés dos automóveis. Pensar dessa nova forma significa dar sentido a um planejamento urbano que respeite, principalmente, os idosos da nossa cidade. E não é isso que estamos assistindo. Além das deficiências no transporte coletivo, a falta de calçadas regulares, ciclovias e sinalização, a lógica política atual direciona a cidade para uma única via, do automóvel.
Assim como Fabiana, o que os pesquisadores repetem é que não há solução se o carro for privilegiado e se as cidades continuarem a ser construídas para automóveis. A mobilização das ruas, no ano passado, produziu uma cadeia de fatos novos, num ritmo inédito nas políticas públicas do Brasil. Nunca o Governo Federal anunciou tanto investimento em transporte público. Segundo o IPEA, a previsão de investimentos é de R$ 50 bilhões nos próximos quatro anos.
É explicável, até certo ponto, que no século 20 o uso do automóvel foi uma resposta eficaz para aumentar a autonomia na mobilidade diária. Mas, no início do século 21, o aumento dos engarrafamentos nas grandes cidades tem gerado a necessidade de pensar em novas alternativas de transportes sustentáveis para o meio ambiente, para a economia e a sociedade.
O transporte coletivo envolve a instalação de veículos sobre trilhos, como trens, metrôs e bondes com nova tecnologia e conforto, além da melhoria dos ônibus, tornando-os não poluentes, mais confortáveis e versáteis. Ao mesmo tempo, é necessário integrar esse transporte com ciclovia, sistemas de bicicletas públicas e, principalmente, respeitar o espaço do pedestre, garantindo calçadas confortáveis e seguras, sem buracos ou qualquer tipo de obstáculos e protegidas por sinalização própria.
Será que vamos chegar ao ponto de esperar o colapso para reverter essa tendência? Será que as pessoas não se conscientizaram que ter um carro hoje não é mais sinônimo de autonomia, velocidade e conforto? Que nesse trânsito caótico, o automóvel se tornou uma perda de tempo e de qualidade de vida?
Para o cientista social e especialista em direitos urbanísticos Hélio Wicher Neto, "mobilidade urbana é pensar os espaços a partir de uma concepção de escola humana, uma cidade para pessoas". A principal inovação proposta é a obrigatoriedade que os municípios passam a ter de fazer um Plano Diretor e também um Plano de Mobilidade. Com isso, a prioridade são para os não-motorizados, favorecendo pedestres, ciclistas e o transporte público.
Nos últimos dez anos, a frota de veículos no Brasil aumentou 400%. Esse quadro é aterrorizador. As prefeituras precisam buscar soluções, mas não as encontrarão sozinhas. É uma exigência da sociedade. A qualidade de vida do trabalhador está diretamente ligada ao transporte público eficiente e não poluentes. Toda a sociedade precisa se mobilizar, nos protestos e também nas soluções. No Senado Federal, desde o ano passado várias Audiências Públicas e estudos têm sido realizados. A revista Em Discussão, de novembro de 2013, foi dedicada ao tema e reproduziu várias discussões. A revista está disponível em http://bit.ly/NtQjOe. A conclusão é consensual: temos que mudar o rumo!
*Vicente Vuolo é economista (UnB), pós-graduado em Ciência Política (UnB), ex-vereador de Cuiabá e Analista Legislativo do Senado Federal. Email: vicente.vuolo10@gmail.com