As ciclovias são pequenas ou inexistentes, as ruas têm asfaltos precários e esburacados e a faixa que liga uma praia a outra sequer reserva espaço para eles. Mesmo assim, os ciclistas do Litoral Norte do RS fazem questão de encarar as adversidades e dizer que pedalar na praia é tudo de bom.
Nem o vento forte nem a falta de cuidado dos motoristas que passam de raspão são suficientes para desanimar veranistas e moradores de Capão da Canoa. Adeptos de bicicletas novas e antigas, eles deslizam nas ruas litorâneas como se estivessem em uma cidade da Europa. Na praia, a bike como meio de transporte tem mais adesão do que em muitas cidades do Estado. Tanto a ciclovia à beira-mar de um quilômetro quanto os bicicletários vivem lotados.
"Porque o clima é convidativo, as pessoas estão mais despreocupadas ou simplesmente porque é o jeito mais fácil e barato de se deslocar", diz o veranista Jaime Azevedo.
Pegando carona na tendência que ganha força no Estado, lojas especializadas dizem que as vendas aumentaram. A explosão da demanda fez com que modelos alternativos e mais arrojados, como os retrôs, triciclos e elétricos, passassem a ser mais procurados — e vistos nas ruas.
Segundo Éderson Benetti, da Benetti Bikes e Motos, cada um quer adotar um estilo próprio para pedalar.
"Parece que o rico descobriu a bicicleta. Trabalho com bicicleta desde 1997, e o movimento cresce ano a ano. Mudou o perfil do comprador", avalia.
Ele atribui o boom do ciclismo ao fato de que a classe média está pedalando mais, hábito usual de trabalhadores da construção civil, por exemplo.
Estudante de Medicina e moradora de Porto Alegre, Luiza Manna, 25 anos, comprou uma bicicleta na tarde do último sábado. Acostumada a pedalar apenas em ciclovias na Capital, ainda tem receio. Por isso, a nova aquisição deverá ser mais usada no condomínio onde veraneia, em Xangri-lá:
"Acho que o trânsito está perigoso, e que nem motoristas, nem os ciclistas colaboram. Prefiro não arriscar", explica.
Já a estudante e surfista Isadora Clarimundo tem uma visão mais otimista sobre o deslocamento em duas rodas. A magrela tem sido sua parceira diária nas férias. Além de substituir o carro em deslocamentos, serve para o lazer e para manter forma.
"Acho mais saudável pedalar. Assim curto a natureza e pego um sol", conta.
Moradores da praia como o instalador hidráulico Luís Antônio Gomes e seu filho Ezequiel concordam com a veranista Isadora. Para eles, a bike é o principal meio de locomoção mesmo nos meses de inverno. Adepto do meio de transporte desde pequeno, Gomes diz que o hábito é transmitido entre gerações. Antes de virar tendência, a bicicleta já era o transporte preferido dos moradores do Litoral.
Cuidados na areia
Ao pedalar na praia, não esqueça a manutenção
"A maresia e o sal são prejudiciais para a bicicleta. Por isso, procure lavá-la de vez em quando e usar um anticorrosivo para evitar que fique enferrujada. O produto pode ser adquirido a partir de R$ 10, em embalagens de 300 ml e 600 ml"
"Mesmo que a praia seja local de descanso e você queira estar mais à vontade, não deixe de ficar atento para o uso de cadeados (que ajudam a prevenir que sua magrela seja levada) e equipamentos de segurança, como capacete, buzina, refletores nas rodas, refletores dianteiro e traseiro e espelho retrovisor."
"Os preços das bicicletas no Litoral Norte são semelhantes aos da Capital. Você encontra modelos a partir de R$ 300. O valor máximo depende da quantidade de acessórios que você vai usar. Uma bike bem equipada sai por até R$ 1,8 mil, mas modelos intermediários, com marchas, podem ser encontrados por cerca de R$ 800."
Fonte: Éderson Benetti, da Benetti Bikes e Motos, em Capão da Canoa
Atenção redobrada para evitar furtos na praia
Em Capão de Canoa, uma média de 20 bicicletas são furtadas por mês, sendo que a mais levada é um modelo com paralama e bagageiro. A maioria é levada no momento em que o proprietário se descuida, ao estacionar diante de lojas ou de mercados.
Quando encontradas pela polícia, boa parte delas acaba ficando abandonada em um depósito na delegacia. Atualmente, o espaço abriga um total de 18 bicicletas.
"Como a maioria dos proprietários não vem buscar, elas acabam sendo doadas para entidades filantrópicas", conta um policial.
A orientação ao ciclista que teve sua bicicleta roubada é fazer o registro do Boletim de Ocorrência, pois na hora de retirar não basta se identificar como dono da magrela. É preciso ter o B.O. ou o recibo de compra.
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