Acompanhada do pequeno Bryan, 2 anos, a estudante Ana Carolina Moreira, 19, deixa o instinto materno falar mais alto quando passa, a pé, na frente do Centro Social Urbano, situado à Rua Tomaz Gonzaga, em Pernambués. Quando precisa circular pela região, protege a criança levando-a do lado contrário à pista e se arrisca passando entre os carros.
Isso porque apenas 30 centímetros de chão separam a via de tráfego – principal do bairro –, de uma barraca de flores, restando apenas o pequeno espaço para a passagem de pedestres. “É perigoso demais. Os carros passam por aqui em alta velocidade, mas a gente é obrigado a andar pelo meio da rua porque não existe calçada, ou melhor, porque a calçada está toda ocupada”, contou.
No local, cinco barracas estão instaladas. A de Bernardino da Cruz Barbosa, 62 anos, vendedor mais antigo, está no local há mais de 30 anos. Morador de Pernambués, ele tem no seu comércio de flores, como se chama o comércio, como única fonte de renda. Primeiro a chegar no local, ele concorda que o bloqueio apresentado pelo estabelecimento prejudica os pedestres, mas diz que não tem outra forma ou local para ganhar a vida.
“O pessoal realmente reclama porque tem que passar pela rua e eu reconheço o problema, mas estamos aqui há muito tempo. Não dá simplesmente para sair e abandonar meu meio de vida”, afirmou o floricultor. Ele diz não ter outro local para ir, caso seja retirado de lá, mas dá uma sugestão ao município de como acabar com o problema, sem prejudicar os comerciantes.
“Ficamos colados aqui com o muro do Centro Social Urbano. Lá dentro há uma área enorme de matagal, sem serventia nenhuma. Se o poder público realmente quiser resolver o problema, basta derrubar o muro, recuar as barracas e pronto. Continuaremos fazendo o nosso trabalho, se prejudicar ninguém. Todos sairão ganhando”, sugeriu.
Locatário de uma das barracas, o chaveiro Joseval de Jesus Silva, 35 anos, diz que trabalha no ponto há três anos e já chegou até a presenciar um atropelamento. “A própria dona desta barraca já foi vítima da obstrução da calçada. Um dia, saindo daqui, acabou sendo atropelada por um carro, a sorte foi que pegou de raspão”, contou.
Ele aprova a sugestão dada pelo vizinho de barraca, mas diz que, caso seja retirado de lá e enviado a outro local, irá prejudicar o comércio. “Já tenho minha clientela aqui da região, também sou morador, se me mandarem para outro lugar, certamente vou perder dinheiro”, disse Joseval.
A Tribuna entrou em contato com a Secretaria de Ordem Pública, que em nota informou que “o ordenamento do comércio informal está sendo feito de forma gradativa, elencando áreas prioritárias para cada etapa, a exemplo da Avenida Sete, Liberdade, Castelo Branco e os 65 km da orla soteropolitana”. Ainda de acordo com a secretaria municipal, após o Carnaval, outras áreas sofrerão intervenção, a partir de novos diagnósticos situacionais, com estudos das necessidades e quantitativo de efetivos e demandas.
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