São Paulo não investe o suficiente em bicicletas

Ações do poder público em favor da bicicleta ainda são tímidas; faltam publicidade, infraestrutura e incentivo

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Fonte: Esporte Interativo  |  Autor: Gustavo Fernandez*  |  Postado em: 11 de fevereiro de 2014

Ciclistas sob forte calor na ciclofaixa da Av. Far

Ciclistas sob forte calor na ciclofaixa da Av. Faria Lima

créditos: Estadão Conteúdo

 

É público e notório que São Paulo enfrenta graves problemas de trânsito há muitas décadas. A situação tende a se agravar ao longo do tempo e basta algum fator imprevisto ou incomum, como greves, tempestades, manifestações e megaeventos, para o caos instalar-se e a cidade parar de vez. 

 

Passando por dificuldades semelhantes, grandes centros urbanos do planeta investem pesado em políticas a favor do uso das bicicletas como meio de transporte. Alguns desses exemplos podem servir de lição para o poder público que administra a cidade.

 

A primeira deficiência é, possivelmente, a responsável por todas as outras: a falta da "cultura da bicicleta" por parte da população e dos governantes, que encaram o veículo muito mais como lazer e esporte do que como meio de transporte. O índice de pessoas que utilizam a "magrela" para chegar ao trabalho ou estudo é baixíssimo. Somente uma forte campanha de incentivo ao uso da bike e de desestímulo à utilização do carro próprio pode inverter esse quadro.

 

Infraestrutura

É claro, contudo, que não se trata apenas de uma questão de publicidade. A infraestrutura é outro ponto chave na solução do problema. Segundo a página da Prefeitura, São Paulo conta hoje com 242,31 km de rede cicloviária, sendo que 120,8 km corresponde às ciclofaixas operacionais de lazer - faixas de ruas e avenidas da cidade reservadas aos ciclistas nos domingos e feriados, em uma ação mais voltada para o lazer do que para a locomoção. 

 

Dados do Portal Mobilize Brasil apontam que Berlim conta com 750 km de estrutura cicloviária; Amsterdã, 400 km; Nova Iorque, 675 km; e Bogotá, 359 km.

 

Mas infraestrutura vai muito além da construção de ciclovias. É fundamental que haja integração entre a bicicleta e o transporte público, além da construção de bicicletários, bolsões de bikes para aluguel ou empréstimo e espaços para chuveiros. Em Paris, por exemplo, o sistema de bicicletas públicas oferece um posto de autoatendimento para locação de bicicletas a cada 350 metros.

 

As próprias vias destinadas à circulação de ciclistas exigem planejamento e projeto próprios. Ciclovias separadas da malha rodoviária representam mais conforto e segurança. A cidade de Sorocaba, no interior de São Paulo, é um caso de sucesso nesse quesito: dos seus 106 km de ciclovias, 103 km referem-se a faixas fisicamente separada das outras vias.

 

Algumas cidades também criaram um interessante sistema de faixa compartilhada entre ônibus e bicicletas que, desde que adequadamente projetadas e instaladas, podem beneficiar mais de um meio de transporte. A própria capital francesa adota essa opção, assim como as cidades de Calgary, no Canadá, Ghent, na Bélgica, além de diversas cidades nos Estados Unidos e na Alemanha.

 

Impostos

Mais um empecilho ao crescimento do número de pessoas que fazem uso da bike para locomover-se pela cidade é a alta carga tributária incidida sobre o produto. 

 

A Aliança Bike, Associação Brasileira do Setor de Bicicletas, encomendou um estudo que aponta que bicicletas produzidas formalmente no Brasil apresentam uma média de 40,5% de tributação sobre o valor final. "As esferas federal, estaduais e municipais precisam trabalhar de forma conjunta. Nesse sentido, a altíssima carga tributária incidente sobre a bicicleta, maior do que a que incide sobre motocicletas e automóveis, precisa ser reduzida", comentou Marcelo Maciel, presidente da Aliança Bike.

 

O impacto causado pelos altos tributos é ainda maior porque o veículo em questão é mais utilizado pelas classes de menor poder aquisitivo, ou seja, aquelas que mais seriam beneficiadas com a redução do preço final do produto. Segundo a Rede Nossa São Paulo, a maioria dos paulistanos que veem a bicicleta como meio de locomoção ao trabalho ou local de estudo encontra-se em bairros de baixa renda - é o caso de Itaquera, onde está sendo construída a Arena que será utilizada na Copa do Mundo.

 

Ainda que São Paulo esteja tomando algumas providências em relação ao transporte via bicicleta, as autoridades precisam reconhecer a urgência do tema como uma das medidas essenciais para solucionar ou, pelo menos, minimizar os problemas de mobilidade na maior cidade do Brasil. Uma política que beneficie a utilização das bikes garante melhores condições à mobilidade, ao meio ambiente, à economia e à saúde da população paulistana.

 

*Colaborou Murilo Rezende


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Comentários

Monique Gutierrez - 12 de Fevereiro de 2014 às 12:39 Positivo 2 Negativo 0

A Engenharia da Mobilidade ainda encontra impasses nos investimentos do governo. O curso, ainda oferecido por poucas universidades brasileiras, é um dos mais importantes atualmente.

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