O tempo de percurso da zona leste ao centro da cidade da capital paulista foi medido pelos repórteres da Folha de S. Paulo em dois dias, no horário de pico da manhã.
Os repórteres saíram da estação Corinthians-Itaquera até o Parque Dom Pedro pela linha 3-vermelha do metrô e pela linha de ônibus 4310, criada em outubro, após a ampliação das faixas exclusivas da Radial Leste pela gestão Fernando Haddad (PT).
No primeiro dia, com uma falha no metrô e trânsito congestionado, levou uma hora e 15 minutos de metrô e uma hora e 18 minutos no ônibus. No outro dia, foram 55 minutos de ônibus e 52 de metrô.
A rota do 4310 é quase toda paralela ao ramal do metrô. Os veículos, novos, são "superarticulados" –tem capacidade para 170 passageiros.
Com intervalos programados de três minutos no pico da manhã, a linha foi criada na reorganização do transporte na zona leste e hoje atende outras linhas que foram alteradas.
É a menina dos olhos da gestão Fernando Haddad (PT). O próprio prefeito testou o ônibus no mês passado, após cumprir agenda em Itaquera. Na SPTrans, ela é chamada de "golden line" (linha de ouro, em inglês). Uns dizem ser por causa da cor amarelada dos veículos, outros por causa dos resultados positivos.
Segundo a prefeitura, o tempo de viagem está atraindo usuários do sistema sobre trilhos. Em outubro, a linha levou em média 24,3 mil passageiros por dia útil, número que chegou a 33,2 mil em dezembro – alta de 37%.
Entre os novos passageiros está a administradora Aline Porfírio, 22. Moradora da zona leste, ela usava o metrô para chegar até o trabalho, no centro, mas mudou a rotina no mês passado. "De tempo dá na mesma, mas no metrô é um parto pra entrar no trem. Como pego o ônibus no ponto inicial, quase sempre consigo ir sentada. Dá até pra dormir", conta.
A maioria dos passageiros não tem a mesma sorte. Nos dois dias testados pela reportagem, os veículos chegaram à estação Itaquera lotados, o que dificultou o embarque. Cada ônibus têm 58 assentos e 112 lugares em pé.
Em nota, a SPTrans, diz que está elaborando uma pesquisa nas principais paradas da linha de ônibus para identificar os locais "de maior demanda e que geram maiores atrasos durante o embarque e desembarque de passageiros. A partir daí, serão adotadas medidas operacionais para que o problema seja solucionado".
O auxiliar de RH Deivid Sabino, 20, diz que usa o ônibus apenas quando há pane no metrô ou na CPTM. "Além de ser mais rápido nesses dias, o bom é que não preciso pagar a integração com o outro ônibus que uso para chegar ao trabalho", afirma. A tarifa de ônibus é R$ 3, mas quando há integração com o metrô sobe para R$ 4,65.
Desempenho
Entre os fatores que explicam o bom desempenho da linha está a característica da faixa no sentido centro da Radial Leste. Por ser colada à linha férrea, a avenida tem poucas entradas e saídas e a faixa quase não sofre interferências de outros veículos –ao contrário do que ocorre com a maioria das faixas implantadas na cidade.
Entre os pontos negativos estão o asfalto ruim e a demora nas paradas, causada pelas filas nos pontos e pela falta de áreas de ultrapassagem comuns nos corredores de ônibus à esquerda.
A SPTrans afirma que está prevista a implantação de um corredor com ultrapassagem na Radial Leste, "o que irá tornar o transporte na região mais rápido".
A viagem de metrô teoricamente deveria ser mais rápida porque o trem não sofre interferência do trânsito. Quando está andando, o trem atinge velocidades de até 87 km/h, enquanto o ônibus roda no máximo a 50 km/h.
Mas a operação da linha 3-vermelha é prejudicada devido à superlotação. A linha é a mais usada do sistema, responsável por transportar 40% dos passageiros –a conta não inclui a linha 4-amarela, de operação privada.
Nos horários de pico, segundo o Metrô, a lotação média nos trens da linha é de 8 passageiros por m², enquanto o recomendado seriam 6 por m².
Editoria de Arte/Folhapress
Nas estações mais movimentadas, como Penha e Tatuapé, o trem perde tempo porque o excesso de passageiros tentando entrar impede o fechamento das portas.
Cada atraso gera uma reação em cadeia: como o trem não sai da estação, o que vem atrás precisa esperar. "É todo dia assim, parando toda hora", conta a pedagoga Estella Celli, 28, que mora em Itaquera e trabalha no centro.
Além disso, também há demora para embarcar no trem. Em Itaquera, por exemplo, a reportagem demorou 15 minutos no primeiro dia até conseguir entrar. Nas estações intermediárias, é comum ter que esperar várias composições lotadas passarem.
Questionado pela Folha, o Metrô afirma que o teste da reportagem foi arbitrário. "Se a mesma medição for feita na linha 2-verde, no trecho da avenida Paulista, os tempos serão completamente diferentes, sendo que o percurso também será realizado em linha reta e a via também possui faixa exclusiva de ônibus", disse, em nota.
A companhia nega que o metrô esteja perdendo passageiros, e aponta que houve crescimento de 3,1% na demanda em 2013, na comparação com o ano anterior. Na linha vermelha, porém, a média de passageiros transportados por dia útil caiu de 1,426 milhão para 1,423 –queda de 0,2%.
O Metrô também afirma que possui o "meio de transporte mais rápido, confiável e econômico para a população" e que a capacidade da linha vermelha é muito superior à do ônibus. Enquanto a linha 3-vermelha transporta 72 mil pessoas por hora e por sentido no pico da manhã, a linha de ônibus chega no máximo a 3.400.
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