Mesmo com nome e sistemas iguais, além de compartilhar alguns trajetos, o Move (nome dado ao BRT, sigla em inglês para transporte rápido por ônibus) de Belo Horizonte e da região metropolitana começarão a funcionar sem integração tarifária para os usuários. A informação é do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) e, até a tarde de ontem, era confirmada pela assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop).
Na prática, o passageiro que pegar dois ônibus em sequência – um da capital e outro de cidades vizinhas – terá de pagar duas passagens: R$ 2,65 na primeira, mais o valor dos ônibus urbanos intermunicipais, com tarifa predominantemente de R$ 3,50.
O modelo é diferente do adotado em Curitiba, referência em BRT, onde o usuário paga uma única tarifa enquanto está dentro das estações de ônibus da capital e de 14 cidades do entorno, e tem parte do bilhete subsidiado pelo Estado e pela prefeitura. O bilhete único é adotado por lá desde 1996. Já aqui, a justificativa para a não integração é a separação entre os dois sistemas, segundo o porta-voz do Setra-BH, Edson Rios. “Os sistemas são distintos e as tarifas são distintas. Pelo menos no começo do Move, vai continuar como está. Isso não significa que não possa haver mudança no futuro”.
A distinção citada ocorre porque os sistemas de transporte coletivo são gerenciados de maneira separada: na capital, quem cuida é a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans); na região metropolitana, é o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER), ligado ao governo do Estado. Em Curitiba, o BRT também é operado por órgãos diferentes na capital e região, mas já tem a integração tarifária.
O engenheiro em transportes e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Nilson Tadeu disse que o Move foi pensado de forma totalmente separada entre capital e região metropolitana, não só na questão tarifária, mas nas estações, que ficam lado a lado em alguns corredores, mas não são integradas.
“O sistema está todo errado desde o princípio, deveria ser apenas um e não dois”, concluiu Tadeu. O engenheiro disse ainda que há tecnologia disponível para que as empresas façam suas arrecadações, mesmo com o uso de um bilhete único.
Recuo
A assessoria de imprensa da Setop, que desde a semana passada vinha confirmando a O TEMPO que não haveria a integração tarifária, ontem, recuou e se limitou a dizer que “não poderia mais confirmar” a informação.
A BHTrans informou que só irá responder perguntas sobre o Move em entrevista coletiva ainda a ser agendada.
EXEMPLO
Subsídio
Para fazer a integração tarifária em Curitiba, prefeitura e governo do Paraná arcam com R$ 0,23 da tarifa. Ou seja, o usuário paga sempre R$ 2,70 para pegar quantos ônibus quiser enquanto estiver dentro da estação, mas a tarifa técnica (o valor pago às empresas) é de R$ 2,93. Em 2013, o governo pagou R$ 40 milhões de subsídio e a prefeitura, R$ 23 milhões.
Resposta
A Prefeitura de Belo Horizonte informou que só subsidia o meio-passe estudantil. A Setop não disse se faz algum repasse assim.
COMO É HOJE
Integração
Atualmente, há desconto de 50% na menor tarifa para quem pega dois ônibus da capital ou dois da região metropolitana ou ainda um ônibus e o metrô – dentro do prazo de 90 minutos.
Preço de duas passagens pesa no bolso dos passageiros
“Se eu não tivesse que pagar duas passagens, faria uma compra a mais de alimentos ou garantiria uma poupança para o estudo do meu filho”. A situação do pedreiro Esmeraldo Santos, 44, é enfrentada por milhares de usuários do transporte da região metropolitana e da capital, que precisam pagar duas tarifas para chegar a seu destino.
No caso de Santos, ele mora em Santa Luzia, na região metropolitana, e vai com frequência para a Pampulha, na capital. Para isso, paga R$ 3,30 mais R$ 2,65 em tarifas. “Fica muito caro e prejudica o usuário”, disse.
O engenheiro em transportes Dimas Gazolla explica que, tecnicamente, como o Move tem um sistema integrado por estações, o correto é haver integração tarifária. Já a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas informou que o sistema metropolitano – assim como o da capital – terá linhas troncais que levarão o passageiro até o centro e a área hospitalar, sem necessidade de fazer baldeação. O problema é, no entanto, se o passageiro precisar pegar uma linha exclusiva de Belo Horizonte.
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