Apesar dos custos ambientais do uso de combustíveis poluentes, os governos das metrópoles priorizam a expansão de ônibus como opção de transporte público a moradores. A constatação aparece na pesquisa Ação Climática em Megacidades Volume 2.0, divulgada nesta quarta-feira (5) pelo C-40, grupo que reúne líderes das grandes cidades do mundo para decidir e adotar medidas contra as mudanças climáticas.
Segundo o estudo, das 59 cidades analisadas, dezessete delas priorizaram ampliar rotas e frequência de ônibus em 2013. Outras doze metrópoles adotaram, ao menos na maior parte da cidade, ações do gênero, enquanto outras doze tinham em andamento projetos-pilotos para ampliar essa modalidade de transporte.
Enquanto isso, sistemas de transporte de massa como metrô ou trens só tiveram ações de expansão em oito cidades, em iniciativas que envolvam todo o território municipal. Seis metrópoles também declararam ter adotado ações para expandir a malha ferroviária ao menos na maior parte do território urbano.
Custo ambiental
O predomínio de um modelo de transporte rodoviário acarreta custos ambientais. As cidades respondem por 70% das emissões de carbono do mundo e os combustíveis utilizados no transporte urbano são o principal vilão. Só cinco cidades adotaram ações para obter alta eficiência de consumo energético e baixíssima emissão de carbono em ônibus, enquanto sete metrópoles tiveram iniciativas do gênero ao menos na maior parte do perímetro urbano.
Embora o predomínio dos ônibus como sistema de transporte seja considerado inevitável devido aos altos custos de construção e operação de metrô ou trens, apareceram no ano passado mais iniciativas para otimizar o trânsito, como modelos de Bus Rapid Transit (BRT), iniciado na década de 70 em Curitiba. O estudo aponta que 29 cidades, das 59 pesquisadas, iniciaram esquemas de BRT em 2013, sendo que só treze tinham iniciado projetos do gênero em 2011, no estudo anterior.
Outro recurso bastante adotado por cidades é a criação de sistemas de compartilhamento de bicicletas. Eram seis cidades em 2011 e passaram a 36 em 2013.
Nova York e Rio
“Acabamos de construir um novo metrô que está quase aberto em Nova York. Mas esses são projetos que levam décadas e bilhões de dólares se comparado com sistemas de Bus Rapid Transit. Você pode querer construir seu metrô algum dia de qualquer jeito, mas o BRT pode ser feito hoje”, disse Bloomberg.
Paes defendeu a opção por BRTs como forma de reduzir as emissões de carbono. O prefeito carioca afirmou que o corredor Transcarioca, que vai ligar o Aeroporto do Galeão a Barra da Tijuca, vai tirar 2.500 ônibus de circulação das ruas. “Eu queria que o Rio tivesse mais dinheiro para construir 100 km de metrô, mas não temos. E mesmo assim estamos construindo trechos de metrô. Não há disputa que coloque (a escolha de) BRT contra metrô”, disse o prefeito do Rio, que agora preside o C-40.
Enquanto iniciativas são discutidas, cresce a expectativa de que prefeitos contribuam para a redução dos gases do efeito estufa. As 59 cidades do C-40 assinaram memorando na conferência Rio+20, em junho de 2012, em que se comprometem a adotar medidas para evitar a emissão de 1 bilhão de toneladas de gases-estufa até 2030. Em 2010, foram lançados na atmosfera 1,7 bilhão de toneladas por essas 59 cidades.
A principal mensagem do C-40, que era presidido por Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, e passa ao comando de Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, é que as prefeituras podem comandar e até liderar iniciativas para mitigar as mudanças climáticas e reduzir as emissões de carbono. Essa pretensa agilidade contrasta o imobilismo de fóruns da ONU sobre o meio ambiente que dependem do consenso de chefes-de-estado e chefes-de-governo. Paes será empossado oficialmente como presidente do C-40 nesta quarta-feira em Johannesburgo, na África do Sul, mas Bloomberg vai continuar a protagonizar discussões como presidente do conselho do C-40.
O discurso ambicioso do grupo, expresso pelo prefeito do Rio, é que o C-40 mostrou que prefeituras podem agir com mais efetividade até do que o governo federal de seus países. "Prefeitos podem agir com mais efetividade do que o governo federal", disse Paes. Bloomberg defendeu que iniciativas de governantes municipais podem ter impacto global e que o colegiado de líderes ajuda a disseminar boas práticas contra mudanças climáticas.
“Obviamente, nós não temos a habilidade de forçar ninguém a fazer nada. Mas o fato de estar visível nos nossos relatórios quem está fazendo o quê é um incentivo muito forte”, disse Bloomberg.
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