O Mobilize Brasil foi procurado pelo leitor Vinícius Pereira, de Goiânia, que denuncia o "grave momento de crise do transporte público" por que passa a cidade. Aluno do último ano do ensino fundamental, Vinícius diz que usa o ônibus "para quase tudo: ir ao teatro, shopping, aulas de inglês...". Por isso, vem assistindo de perto à piora na mobilidade urbana e o sofrimento da população, ainda mais a residente nos 18 municípios da região metropolitana, que depende fundamentalmente do ônibus para se deslocar para o trabalho.
A gota d´água, conta o jovem, foi a suspensão em janeiro do benefício Ganha Tempo, que permitia ao passageiro utilizar uma mesma passagem, no período de 2h30, para até três ônibus. Vinícius cobra providências urgentes do poder público para o que considera o "estado de pré-colapso do transporte" em Goiânia.
Vários protestos tem agitado Goiânia desde o ano passado, devido à piora na qualidade do transporte público. O último deles, no último dia 22 de janeiro, foi no terminal da Praça da Bíblia (Setor Leste Vila Nova), e reuniu centenas de pessoas que reclamavam contra a falta de ônibus na linha 019 (Praça da Bíblia-Terminal do Cruzeiro) e exigiam melhorias na infraestrutura dos terminais urbanos.
Procurada pela reportagem do Mobilize, a assessoria de comunicação da CMTC (Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos) confirmou que o serviço foi suspenso pela Prefeitura no dia 10 de janeiro, por força de liminar na Justiça que deu ganho de causa às empresas concessionárias administradoras do transporte público. Mas atenua o problema, ao lembrar que o Ganha Tempo, que funcionou por sete meses, estava em fase experimental. E que sua interrupção, segundo o órgão, não significa o fim do programa de integração do transporte da cidade. Segundo a porta-voz da CMTC, a integração continua nos moldes anteriores, que prevê o uso do transporte em terminais, por um período de 180 minutos, e não mais extensivo a três ônibus.
Integrante da RMTC - Rede Metropolitana de Transportes Coletivos da Grande Goiânia, o consórcio das empresas justificou a suspensão do benefício em razão do aumento no custo do transporte: segundo o setor, o valor da passagem, se mantido em R$ 2,70 (uma conquista das recentes manifestações), trará prejuízos, inviabilizando o custeio do programa. "Acho um absurdo as empresas chegarem a tentar processar o poder público pelo congelamento das passagens em 2013", desabafa Vinícius.
Segue sem explicações o fato das planilhas de cálculo não terem sido apresentadas nem à Prefeitura, conforme anunciou na época a imprensa local. Outro ponto também não foi esclarecido: segundo a própria Prefeitura, reiterado à reportagem pela assessoria da CMTC, a forma que havia sido acertada para custeio do programa se deu com base na desoneração, decretada em junho pelo governo federal, dos impostos PIS/Cofins. Seja como for, o fato é que os empresários conseguiram empurrar o problema para a Prefeitura, e esperam que esta encontre solução para o impasse.
Falta incentivo ao transporte público
A crítica de leitor vai além:
"Há forte estímulo ao uso do carro na cidade, enquanto falta incentivo ao transporte público", diz Vinícius.
Mesmo os investimentos na infraestrutura do sistema, como a reforma dos terminais e o SIM (Serviço de Informação Metropolitano), cita, "são investimentos internos e não possibilitam o principal em termos de transporte: a mobilidade".
Vinicius cita também a falta incentivo a outros modos de transporte, como a bicicleta: "A cidade tem apenas três quilômetros de rede cicloviária. Uma pena, já que todos os terminais estão equipados com bicicletários, por enquanto vazios, pois não há ligação das ciclovias com eles".
Goiânia tem poucas faixas exclusivas para ônibus, "enquanto as obras públicas que mais recebem incentivo são de viadutos, pavimentação, abertura de novas vias", reclama o leitor.
Ele lembra que "no ano passado, a criação de uma faixa exclusiva para ônibus gerou polêmica por proibir o estacionamento na via". E conclui: "Fatos assim é que fazem com que o transporte público seja ineficiente, pois concorre com veículos de uso individual. No meu caso, por exemplo: a hora do rush leva seis horas, e meu ônibus, que passaria de 20 em 20 minutos, chega a demorar 1 hora e meia".
A expectativa do estudante agora é que vinguem os projetos de mobilidade pensados para Goiânia: há o VLT a ser executado no Eixo Anhanguera e a previsão de construção de um BRT. "Tomara que essas obras possam dar fluidez ao trânsito da capital, mas é preciso mais: incentivar a população a usar o serviço público, assim como a bicicleta, e a caminhar pela cidade. Tudo isso é de fundamental importância", conclui o jovem cidadão.
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