Há poucos meses, era certo que o metrô de Salvador não estaria pronto para a Copa de 2014, apesar dos 13 anos de obras para apenas 6 km ao custo de mais de R$ 1 bilhão. Na última semana, entretanto, uma novidade surpreendeu os baianos: Harald Peter Zwetkoff, presidente da CCR Metrô Bahia, que gerencia a operação, veio a público informar que no dia 13 de junho, quando se enfrentarão na Arena Fonte Nova as seleções de Holanda e Espanha, o trem entrará nos trilhos. Em Salvador, a população conta com Antônio, o santo do dia, para que a promessa seja, enfim, cumprida.
A operação inicial será assistida e gratuita. Até o dia 15 de setembro, as composições circularão por quatro horas diárias com um quarto da capacidade total. Com essas condições, usar o meio de transporte para chegar ao estádio não será uma realidade para a maior parte dos torcedores. De acordo com Zwetkoff, a data foi escolhida pelo governo baiano, que gerencia o metrô desde abril de 2013, quando o prefeito da capital, ACM Neto (DEM), passou para as mãos do governador Jaques Wagner (PT) a administração.
A partir de setembro as viagens serão gradativamente ampliadas até atingirem o tempo total de circulação diária, ainda não fixado. Antes disso, em maio, serão iniciadas as viagens de teste com as composições vazias, tripuladas apenas pelos maquinistas e técnicos contratados pela CCR. Apenas neste mês foram abertas 40 vagas para diferentes funções. A companhia promete contratar mais 2,6 mil pessoas até junho, que se juntarão aos atuais 800 funcionários, para atuarem na revitalização do trecho Lapa-Retiro (6 km), e também na construção do trecho Retiro-Acesso Norte.
O trabalho é necessário porque a obra ficou tempo demais parada. Os vinte vagões foram comprados em 2008 pelo então prefeito João Henrique Carneiro. Apesar de saber que o metrô não tinha prazo para funcionar, o gestor fez a compra de uma indústria coreana. Além dos cerca de R$ 80 mil gastos mensalmente para armazenamento em galpões, haverá novos gastos com manutenção, pois a garantia dada já acabou.
Empreiteiras investigadas estão de volta ao metrô
A história do metrô de Salvador é tão complicada que já rendeu até um processo por improbidade administrativa contra as construtoras Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Norberto Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão e Constran, além de 11 pessoas envolvidas em irregularidades na licitação e execução das obras.
De acordo com o Ministério Público Federal da Bahia (MPF/BA), o prejuízo causado supera os R$ 100 milhões, sem levar em conta os danos indiretos aos cidadãos. O texto do inquérito comandado pelo órgão aborda deficiências no projeto básico do metrô, falta de discussão pública para discuti-lo e superfaturamento. Um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), usado como fundamento para a ação do MPF, mostrou que, como o projeto era deficiente, foi preciso contratar vários serviços não previstos e sem licitação, elevando assustadoramente o custo final do projeto.
"Na prática não houve projeto básico, pois nem mesmo os dados mínimos constavam", afirmou o procurador da República Israel Gonçalves.
Um exemplo da trapalhada é um elevado que custou R$ 36 milhões, e precisou ser construído porque o projeto não previu que o único retorno da Avenida Mário Leal Ferreira, uma das mais movimentadas da cidade, seria fechado pelo metrô de superfície. O processo está suspenso desde 2013 através de decisão liminar em favor das construtoras, mas o MP promete recorrer.
O que poucos sabem é que a CCR, vencedora da licitação de 2013, pertence ao grupo de empresas composto por Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Soares Penido, as duas primeiras envolvidas nos escândalos da linha 1. O TCE (Tribunal de Contas do Estado) já divulgou uma investigação sobre o processo licitatório por causa de exigências ilegais do edital, o que teria prejudicado a concorrência. Em nota, o governo baiano afirmou não foi notificado pelo TCE sobre a investigação. A CCR não quis se pronunciar sobre o assunto.
Treze anos de obras e paralisações no metrô:
1997 - Início do planejamento do metrô de Salvador
04/1999 - Lançamento do primeiro edital do metrô
04/2000 - Início das obras
08/2003 - Previsão de conclusão das obras
10/2004 - Obras do metrô são interrompidas
07/2008 - Compra dos trens do metrô
12/2008 - Previsão de conclusão das obras
06/2009 - Previsão de funcionamento
04/2013 - Lançado o edital de operação do metrô
07/2013 - As obras são paralisadas novamente
07/2013 - Anunciada o grupo CCR como vencedor da licitação
06/2014 - Última previsão de início de funcionamento
Leia também:
Salvador: início da operação do metrô está previsto para junho
Pacote de Mobilidade ainda não saiu do papel
Em entrevista, governador da Bahia garante 40 km de metrô até 2016