A difícil mobilidade urbana de Fortaleza

O geógrafo e professor da Universidade Federal do Ceará, José Borzacchiello da Silva, fala sobre a mobilidade urbana na capital cearense

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Fonte: Jornal de Hoje / O Povo  |  Autor: José Borzacchiello da Silva*  |  Postado em: 23 de janeiro de 2014

Fortaleza se estruturou em torno de seu único cent

Fortaleza se estruturou em torno de seu único centro

créditos: Divulgação

 

Não é de hoje que em Fortaleza a mobilidade urbana e a acessibilidade são problemas sérios. A cidade cresceu muito e rápido, acusou grande aumento das densidades e formou uma imensa coroa metropolitana, o que gerou forte demanda no serviço dos transportes coletivos. Esse serviço acusou avanço técnico científico, aperfeiçoou os diferentes modais e investiu em rapidez, conforto e eficiência. A tecnologia avançada garante qualidade e exige, ao mesmo tempo, que as cidades se estruturem para que os diferentes modais funcionem de forma adequada. São muitas as conquistas do setor. 

 

Entre nós, infelizmente, habituados às dificuldades, os usuários comemoram pequenas melhorias que, de certa forma, facilitam seu cotidiano. Vencer a radiocentricidade de Fortaleza foi a maior dificuldade. Para se deslocar de Messejana ao Montese ou ao Itaperi ou mesmo a outro bairro, o passageiro era obrigado a ir ao centro e fazer a baldeação, tomando outro ônibus. Poucos se lembram, mas todas as linhas convergiam para o centro ou passavam por ele. O mesmo acontecia com os trens, bondes e ônibus elétricos. A cidade se estruturou em torno de seu único centro.

 

Só a partir de 1970, surgem novas centralidades, o que faria de Fortaleza uma cidade polinucleada. Os canais de transporte mais conhecidos constituídos por ruas e avenidas como a Francisco Sá, Sargento Hermínio, Bezerra de Menezes, José Bastos, João Pessoa/Universidade, BR 116/Aguanambi, Antônio Sales/Padre Valdivino, Santos Dumont/Costa Barros, Pereira Filgueiras/Tenente Benévolo, Monsenhor Tabosa entre outras alimentavam os fluxos e refluxos de pessoas e mercadorias para o centro. 

 

Demorou muito tempo para que surgissem as primeiras linhas que não serviam à área central. Surgem as linhas Circular 1 e 2, cujo trajeto em dois sentidos facilita a vida de muita gente integrando vários bairros da periferia imediata do centro e outros bairros da zona leste, especialmente aqueles onde se localizam grandes estabelecimentos de ensino: Praia de Iracema, Meireles, Aldeota, Dionísio Torres e o Benfica com o IFCE (antiga Escola Técnica, UFC e Campus Luciano Carneiro da Uece). Mais tarde foram criadas as linhas Grande Circular 1 e 2, privilegiando o percurso da Avenida Perimetral, hoje totalmente contida no interior da malha urbana.

 

Na implantação do sistema integrado, quatro dos terminais foram construídos ao longo desta avenida (Papicu, Messejana, Siqueira e Antonio Bezerra). Quando nem se pensava em terminais de integração, duas linhas foram importantíssimas para trabalhadores e estudantes: a Parangaba/Mucuripe e Vila Betânia/Barra do Ceará. Vila Betânia para os que não sabem localiza-se entre a Parangaba e o Itaperi. Essas duas linhas faziam uma triangulação entre dois bairros litorâneos, um ao leste (Mucuripe) e outro ao Oeste (Barra do Ceará) e a Parangaba na porção sul da cidade. Ambas faziam das avenidas João Pessoa e Universidade seu eixo estruturante, pois mesmo tendo destino periférico, essas duas linhas não abandonaram o percurso do centro.

 

Hoje o sistema é mais eficiente, são muitas linhas que realizam percursos interbairros, facilitando a conectividade urbana. O sistema de transporte melhorou muito, mas está longe de responder às necessidades da população. 

 

José Borzacchiello da Silva

borza@secrel.com.br
Geógrafo e professor da UFC


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