Um estudo da Prefeitura de São Paulo mostra que, sem a presença dos táxis nas faixas e corredores exclusivos, os ônibus ganham velocidade. A pesquisa foi feita a pedido do Ministério Público e foi apresentada durante reunião do Conselho Municipal de Transporte e Trânsito, realizada na manhã desta quarta-feira (15) no auditório da Biblioteca Mário de Andrade, na área central de São Paulo.
A apresentação da pesquisa gerou bate-boca entre autoridades e taxistas - estes últimos questionam os resultados - e acabou dominando a reunião, que deveria tratar também da ampliação do rodízio na cidade.
Participam da reunião o secretário municipal de Transportes e presidente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), Jilmar Tatto; o presidente do SinditaxiSP (Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo), Natalício Bezerra; o promotor de Habitação e Urbanismo, Maurício Antonio Ribeiro Lopes, e a presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo, Carina Vitral.
Hostilizado pelos taxistas, o promotor Ribeiro Lopes deixou a reunião antes de seu término.
O estudo
O estudo é resultado de três simulações. De acordo com a que foi feita pela CET, a retirada dos táxis no corredor da avenida Rebouças, entre as avenidas Faria Lima e Doutor Arnaldo, na zona oeste da capital, resultaria no aumento de cerca de 25% da velocidade média dos ônibus no horário de pico da manhã.
No corredor da avenida 9 de Julho, entre a rua Groelândia e a alameda Itu, o aumento foi de 12% na velocidade média.
Outras duas simulações foram feitas, uma pela SPTrans, responsável pelo transporte público por ônibus na capital, e outra por uma empresa particular.
Uma delas, realizada pela SPTrans, mostrou que no corredor da avenida Santo Amaro, na zona sul, a presença dos táxis reduz em 5% a velocidade dos ônibus, resultando no aumento de 11% no tempo de viagem.
Com base nos resultados dessas simulações, o estudo recomenda algumas medidas: revogar a liberação da circulação de táxis nos corredores de ônibus; implantação de segregação viária; e intensificação da fiscalização nos corredores.
Recomendação do MP
Em 17 de dezembro, o Ministério Público deu um prazo de 45 dias para que a prefeitura revogue a portaria que permite que os táxis trafeguem pelos corredores exclusivos de ônibus. O prazo termina do dia 2 de fevereiro.
"O estudo [feito pela prefeitura] é bastante conclusivo sobre a conveniência de serem retirados dos corredores de ônibus todo e qualquer veículo que não seja o ônibus. Caso contrário, há comprometimento sério da fluidez, da velocidade e da capacidade de transporte dos coletivos", afirmou Ribeiro Lopes.
Questionado se o prazo estipulado pelo MP pode ser prorrogado, ele disse que se o debate "trouxer argumentos técnicos que precisem ser revistos, se a questão for técnica, podemos sim estudar uma prorrogação. Mas se a questão for meramente política, porque os ânimos estão exaltados, ânimos exaltados é um problema político e problema político não é do Ministério Público", falou.
Debate acalorado
Representantes de cooperativas e de empresas de táxis, além de taxistas autônomos, lotaram o auditório da biblioteca. Eles vaiaram e fizeram críticas durante a apresentação dos resultados do estudo da prefeitura.
Os taxistas discordam que a presença dos táxis nos corredores exclusivos atrapalha a circulação dos ônibus, como indica o estudo. Eles questionaram o método usado na pesquisa, que, segundo eles, transforma o táxi em "vilão".
"O taxista agora é o culpado, é o penalizado pela situação do trânsito na cidade de São Paulo", afirmou Daniel Sales, da cooperativa Coopertaxi/SP.
Ele sugeriu que a prefeitura libere todas as faixas exclusivas para o tráfego de táxis com passageiros e avalie o impacto no trânsito. "Faça um teste antes de massacrar esses cidadãos que passam 12, 13, 14 horas trabalhando no trânsito", disse.
"O transporte público é necessário, mas taxi é um modal necessário também para a cidade", afirmou o presidente do Adetax (Associação das Empresas de Táxi do Município de São Paulo), Ricardo Auriemma. Segundo ele, "não é só o táxi o problema do trânsito da cidade".
O presidente do SinditaxiSP (Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo), Natalício Bezerra, pediu compreensão às autoridades. "Só quem trabalha na profissão é que sabe o que um taxista faz para uma cidade como São Paulo. Peço sensibilidade às autoridades", disse.
Um vídeo exibido no início da apresentação causou polêmica entre os taxistas. As imagens mostram um corredor exclusivo não identificado sendo utilizado por vários táxis e poucos ônibus. Os taxistas classificaram o vídeo como "tendencioso".
Rodízio de veículos
Durante a reunião do conselho, também foi apresentada uma proposta para a ampliação do rodízio de veículos em São Paulo. A prefeitura quer incluir cerca de 400 novas vias, correspondendo a 371 km. A previsão é que a medida comece a vigorar entre março e abril deste ano.
De acordo com a proposta, o rodízio seria expandido para diversas grandes avenidas que fazem ligação entre bairros.
Os horários de restrição - das 7h às 10h e das 17h às 20h - seriam mantidos, assim como a regra das placas - cada veículo fica impedido de circular um dia por semana nos horários de pico.
Com as mudanças, a prefeitura espera aumentar em 8,5% a velocidade média em São Paulo no horário de pico da manhã, que passaria dos atuais 18,9 km/h para 20,5 km/h.
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