Ao longo dos 2.800 metros da Avenida Paulista, em São Paulo, há um único banco. Ele fica na altura do nº 149 e foi instalado em 2011 pela iniciativa privada (o Instituto Itaú Cultural).
Para repousar em qualquer outro ponto da avenida, é preciso se virar de outro jeito. Há quem se acomode na saída de ar do metrô, nos canteiros, em escadarias de prédios e até na base de postes de iluminação.
Faltam bancos
Pessoas sentam em canteiro na avenida Paulista (Foto: Pétala Lopes/Folhapress)
A Paulista não é o único espaço público que carece de locais para sentar. Não existem assentos em inúmeras praças e em outras avenidas de grande circulação (como a Faria Lima e a Luiz Carlos Berrini).
Cansado de esperar pelo poder público, o engenheiro Raimundo Nóbrega decidiu colocar ele mesmo bancos onde não há. Membro do Movimento Boa Praça, que procura revitalizar áreas de convivência, ele criou uma estrutura de madeira e prendeu sobre uma caixa de concreto no largo da Batata. Já tinha feito algo parecido em outras duas praças, com dinheiro do próprio bolso.
A prefeitura precisa autorizar intervenções no espaço público. Mas, mesmo sem autorização formal, ninguém incomodou Raimundo. "Todos os moradores dos arredores gostaram, e o pessoal da subprefeitura viu que era uma exigência das pessoas."
Dança das cadeiras
A prefeitura não tem dados sobre a quantidade de bancos em áreas públicas na cidade -nem mesmo sabe com exatidão o número de praças. Segundo a Secretaria das Subprefeituras, o primeiro levantamento do gênero está sendo feito no momento.
Questionada sobre a ausência de assentos em pontos específicos, a prefeitura deu explicações diversas.
A praça Reinaldo Porchat de Assis (Jardim Paulista) seria destinada apenas à vegetação. A praça Silveira Santos (Pinheiros) serviria somente à "passagem dos munícipes". Na recém-reformada praça Domingos Frangione (Brás), a "única solicitação da população junto à Subprefeitura Mooca consistia na adequação da calçada para servir como pista de caminhadas". A instalação no largo da Batata estaria em estudo.
Já o projeto de reforma da Paulista —executado em 2009, na gestão Gilberto Kassab (PSD)— não incluia bancos porque a avenida possui grande circulação de pedestres, de acordo com o governo municipal.
A Associação Paulista Viva destaca a necessidade de um estudo para que o mobiliário não atrapalhe o vaivém de pedestres.
Para o urbanista Álvaro Luís Puntoni, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, nada impede que a Paulista seja um espaço de convivência. "Pelas dimensões da avenida, é perfeitamente cabível. Se fosse outro local, onde o banco atrapalhasse a circulação, poderia não ter."
Para ele, "a coisa básica da convivência urbana, de espaços agradáveis de encontro, é deixada de lado". E, nesse caso, melhor aplaudir sentado do que de pé.
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