Confira a avaliação das ciclovias e ciclofaixas de Porto Alegre

Em três dias, o repórter do Jornal Zero Hora André Mags pedalou pelas 12 ciclovias ou ciclofaixas da cidade

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Fonte: Zero Hora  |  Autor: André Mags  |  Postado em: 13 de janeiro de 2014

Testes mostraram que problemas são inúmeros

Testes mostraram que problemas são inúmeros

créditos: Guilherme Santos / Especial

 

A bicicleta avança, veloz. Há um declive acentuado no final da ciclofaixa da Avenida Adda Mascarenhas de Moraes. Em seguida, a via para ciclistas termina abruptamente. Logo adiante está o cruzamento entre as ruas Karl Iwers e Vitório Francisco Giordani, e será preciso frear imediatamente. Nessa região da zona norte de Porto Alegre, a preocupação de muitos motoristas é em acelerar rumo à importante Avenida Baltazar de Oliveira Garcia. Puxei os freios das duas rodas. Os pneus cantaram e a bicicleta parou. E se os freios dessem problema? Restaria cruzar os dedos.

 

Experiências como essa, no extremo norte da Capital, foram vivenciadas durante três dias por Zero Hora. Os testes nas 12 ciclovias ou ciclofaixas da cidade demonstraram que os problemas são inúmeros para quem deseja pedalar com segurança pelos 19,5 quilômetros de vias exclusivas para ciclistas — contando a ciclofaixa da Vasco da Gama e o terceiro trecho da ciclovia da Ipiranga, ambos em execução —, espalhados pela cidade em circuitos picotados e com a pretensão de um dia alcançarem 395 quilômetros.

 

Mesmo com as ciclovias e ciclofaixas, a vida do ciclista é difícil na Capital. Seja na descida rápida da Adda Mascarenhas, relatada acima, ou nos estreitamentos sem visão alguma de quem vem no sentido contrário na ciclovia da Avenida Ipiranga, ou ainda na disputa de espaço com pedestres e veículos para pedalar na Restinga (Zona Sul) ou na Rua Sete de Setembro (Centro).


No mapa, confira a avaliação das vias cicláveis da Capital:

 



Clique aqui para visualizar as ciclovias em um mapa maior

 

Era na Sete de Setembro que o fotógrafo Ricardo Testa, 47 anos, pedalava na tarde quente da última quinta-feira. Ele desviou de um dos muitos pedestres que circulavam sobre a pista pintada de um vermelho já gasto e repleta de defeitos no piso. Perto de chegar ao local onde pagaria uma conta, espremido por um carro e outro pedestre, ele se chocou contra uma lixeira. Foi o suficiente para desabafar:

— Estou indignado. Não tem respeito com o ciclista e o pedestre nesta cidade. Falta bom senso e educação. Acho o fim da picada chamar de ciclovia uma tinta pintada no chão.

 

Mais adiante, na Rua Vasco da Gama, nasce aos poucos uma das ciclofaixas mais polêmicas da cidade. Entre os bairros Rio Branco e Bom Fim, o traçado recebe críticas antes mesmo de estar pronto, devido a dois desvios pintados no meio da pista para carros. Em um, o ciclista muda de lado na Vasco. No outro, passa em frente à elevada que os carros tomam para subir ao viaduto Ildo Meneghetti. O desenho formando um vaivém colorido no asfalto. A geometria do trecho foi chamada de "joguinho de Tetris" pelo ciclista e publicitário Jerônimo Cavalheiro, 36 anos. 

— Acho que a ideia foi "vamos jogar tinta e depois a gente pensa em sinaleira ou se alguém vai se acidentar".

 

O processo de criação de ciclovias em uma cidade "pronta e viva", como refere o diretor-presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Vanderlei Cappellari, tem sido longo e penoso. Tem servido, também, de aprendizado para os integrantes do órgão. 

— Até recentemente, a questão da bicicleta era tratada como orientação de como andar nos parques. Houve, então, um divisor de águas: o atropelamento coletivo de ciclistas, em 2011, na Rua José do Patrocínio, que chamou a atenção do mundo inteiro. Estamos passando por um processo de evolução na educação. O ritmo de construção de ciclovias poderia ser melhor, ainda assim, são projetos continuados — afirmou Cappellari.

 

Os ciclistas mais otimistas defendem que as obras não podem parar, apesar dos problemas que acabam surgindo, como a tinta escorregadia. Alguns países nem sequer pintam suas ciclovias porque a cultura da bicicleta já se consolidou. Em Porto Alegre, ainda é preciso demarcar o território para o motorista e o pedestre aprenderem a respeitar o espaço. Assim como o ciclista, que, com a expansão de suas rotas, deverá cuidar do pedestre e tratar o motorista com respeito.

 

Ao poder público, resta aprender mais. Enquanto isso, a rede de ciclovias tem de continuar se expandindo. As obras não podem parar.

 

Em vídeo, veja como foi o teste nas ciclovias e ciclofaixas da Capital:



 

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