Cadeirantes enfrentam dificuldades para usar ônibus em BH

Apesar do espaço reservado dentro do transporte, veículos não são equipados com elevadores; Empresa alega que segue as normas da ABNT

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Fonte: O Tempo  |  Autor: Carolina Caetano  |  Postado em: 20 de dezembro de 2013

Cadeirante recebe ajuda de funcionário

Cadeirante recebe ajuda de funcionário

créditos: Reprodução

 

 

Resolver viajar de avião a trabalho, diversão ou descanso parece ser uma coisa normal para a maior parte das pessoas. No entanto, cadeirantes que precisam chegar ao Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte, e dependem do ônibus Conexão Aeroporto, enfrentam alguns problemas.

 

Os veículos têm espaços para cadeirantes conforme prevê a legislação brasileira, mas não contam com um elevador, que poderia facilitar o embarque e desembarque desses passageiros. Sem o equipamento, os deficientes precisam da ajuda de seus acompanhantes ou, se estiverem sozinhos, de motoristas e outros funcionários da empresa.

 

A pedido de Portal O TEMPO, a redatora Laura Martins, de 47 anos, fez um teste no ponto de saída da empresa Unir, na avenida Álvares Cabral. Logo na primeira tentativa de entrar no ônibus executivo começaram os problemas.

 

Sem acompanhante, Laura teve que solicitar a ajuda de um funcionário da empresa. Gentilmente, ele pegou a redatora no colo, subiu as escadas estreitas do ônibus com ela e acomodou na primeira cadeira. Toda a ação durou cerca de três minutos. Se o veículo tivesse um elevador, o embarque poderia ter sido feito na metade do tempo.

 

Cidades - Portal - Belo Horizonte - MG
Falta acessibilidade para cadeirantes nos onibus do Conexao Aeroporto.

FOTOS: FERNANDA CARVALHO / O TEMPO - 13.12.2013
Ônibus têm o símbolo de cadeirantes

"Fiquei incomodada de ser carregada por uma pessoa desconhecida. Eu sendo mulher tive que praticamente abraçar uma pessoa desconhecida para poder me colocar no ônibus. Se tivesse um elevador, a gente teria solucionado várias questões. Primeiro, não teria que passar por esse constrangimento. Segundo,  e o mais importante, o risco de queda. Um passo em falso e as duas pessoas cairiam e, terceiro, em matéria de praticidade e agilidade, um elevador solucionaria a questão”, explicou.

 

Mas engana-se quem pensa que os problemas dos cadeirantes param por aí. Ao chegarem no aeroporto, eles ainda têm que enfrentar dificuldades dentro do terminal.

 

"Estava desembargando em Confins voltando com uma cadeira motorizada e uma manual. Eu agendei com um motorista de táxi adaptado sabendo que não era permitido buscar passageiros em Confins. O guarda do DER não queria permitir que o motorista me apanhasse. Eu perguntei como que ele gostaria que eu voltasse para Belo Horizonte se não tinha um táxi adaptado. Depois de muita conversa, ele deu permissão para que o taxista me apanhasse”, contou Laura.

 

Indignada com os problemas enfrentados pelos cadeirantes, Laura deseja uma solução urgente."O mais importante de ser dito é que os direitos têm que ser iguais. A constituição resguarda os direitos de qualquer pessoa de ir e vir. A lei não está sendo cumprida”, finalizou.

 

Por meio de nota, a empresa Unir, responsável pela linha Conexão Aeroporto informou que tem à disposição dos clientes com necessidades especiais a cadeira de transbordo, conforme determina as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

 

Já a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), responsável pelo aeroporto de Confins explicou que, mesmo não tendo táxis adaptados, o terminal tem à disposição dos passageiros carros que são mais espaçosos e com condições para guardar as cadeiras de rodas.

 

A determinação da ABNT causa indignação na superintendente do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD), Teresa Costa d’Amaral.

 

“A regulamentação feita pela associação para as normas de acessibilidade no transporte público é absurda e desrespeita o conceito de acessibilidade plena e a Convenção da Organização das Nações Unidas relativa aos direitos da pessoa com deficiência. O uso da cadeira de transbordo não é aceitável como elemento de adaptação dos ônibus. É preciso uma revisão das normas afim de que seja respeitada a individualidade da pessoa com deficiência e seu direito de ir e vir com liberdade” afirmou.


Outro caso

O auxiliar administrativo João Lucas Ottoni Santiago Costa, de 32, tinha uma viagem de negócios no Rio de Janeiro e, um mês antes da viagem, começou a pesquisar qual seria o melhor transporte chegar ao aeroporto de Confins.

 

“Cheguei à conclusão que, financeiramente, o ônibus Conexão Aeroporto seria mais viável, uma vez que pagaria R$ 19,70 e, se optasse pelo táxi, gastaria aproximadamente R$ 170 saindo da minha casa, no bairro Buritis”, explicou Costa.

 

A surpresa do auxiliar administrativo veio quando ele ligou no serviço de atendimento ao usuário e foi informado que, apesar de ter um espaço reservado a cadeirantes no veículo, nenhum ônibus da frota tem elevador. “Das outras vezes, cheguei a usar o ônibus, mas não estava sozinho e o meu acompanhante me ajudou. Mesmo assim, foi um transtorno. Foi constrangedor fazer os outros passageiros esperarem”, desabafou o cadeirante.

 

Costa chegou a enviar um e-mail para a empresa e, segundo ele, foi informado que os ônibus executivos realmente não tinham elevadores e que nada poderia ser feito. “Como não fui atendido pelo serviço, tive que ir de carro até o terminal e deixar meu carro lá de um dia para o outro. No entanto, quase perdi o voo, já que as vagas destinadas aos deficientes estavam ocupadas por outros veículos e não havia fiscalização”, explicou.

 

Inconformado com a situação, o auxiliar administrativo criou uma petição na internet solicitando a instalação de elevadores na frota. O documento até essa quinta-feira (19) contava com 149 assinaturas.

 

“Nós, cadeirantes, queremos que os equipamentos sejam instalados imediatamente. É o nosso direito”, finalizou.

 

Em relação à fiscalização no estacionamento, a Infraero afirmou que as vagas são fiscalizadas e, quem para no local sem necessidade, recebe uma espécie de “multa moral”, que são folhetos destacando a necessidade de respeitar os espaços dos outros.

 

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