Movimento 'cycle chic' ganha força em Joinville

Movimento surgido na Dinamarca em 2007 se espalhou pelo mundo e chega agora a SC. Em geral, adeptos são pessoas que usam a bicicleta como meio de transporte alternativo

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Fonte: Diário Catarinense  |  Autor: Da redação  |  Postado em: 19 de dezembro de 2013

A estudante de artes visuais Nicole Fabily Brattig

A estudante de artes visuais Nicole Fabily Brattig

créditos: Diorgenes Pandini / Agencia RBS

 

Com mais de três séculos de vida, elas nunca estiveram tão na moda. Sustentáveis e práticas, as bicicletas estão invadindo os grandes centros urbanos e se transformaram em uma excelente opção para fugir do trânsito e ganhar independência na escolha do destino. E para quem ainda torce o nariz para a ideia, há um mercado em efervescência voltado para os Cycle Chic (ciclista chique, em tradução literal), um movimento que une comportamento e bem-estar.

 

O termo surgiu em 2007 na Dinamarca, quando o fotógrafo canadense e especialista em mobilidade urbana Mikael Colville-Andersen criou o blog Copenhagen cycle chic. A página revelava o lado street style da cidade e mostrava cenas das pessoas no dia a dia utilizando a bicicleta como meio de transporte sem perder o estilo – de homens de terno a mulheres de salto sobre a magrela.

 

No Brasil, essa a tendência já invadiu os grandes centros. Bicicletas personalizadas, coloridas e com muitos acessórios e ciclistas com roupas próprias para o dia a dia não passam despercebidos nas ruas da cidade. O mercado também está se adaptando a esse grupo, criando desde marcas especializadas em roupas para os ciclistas urbanos a produtos que se ajustem às novas necessidades, que facilitem a ida ao trabalho ou ao mercado de bicicleta, por exemplo.

 

Em Joinville, a ideia de usar a bike para colaborar com a mobilidade urbana ganha cada vez mais força e mostra que é possível aliar conforto e personalidade ao andar de bicicleta.

 

A personal stylist Bianca Bell defende que é possível manter o estilo sobre duas rodas, basta ficar atento a alguns detalhes. Para o vestuário, por exemplo, é importante levar em consideração o uso de roupas que tenham elasticidade e conforto. "Não podemos abrir mão de trajes habituais devido ao nosso transporte. O estilo nunca será renunciado, ele sempre está presente em qualquer ocasião. Ele é o espelho de nossas escolhas. O que mais importa é ser feliz da forma que você se sentir bem, sem pressões externas de uma sociedade", diz ela.





Ciclovias

Intitulada de Cidade das Bicicletas, Joinville dispõe atualmente de 120 km de vias cicláveis, que incluem ciclofaixas, ciclovias e passeios compartilhados. De acordo com o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ippuj), há projeto para a implantação de novos 480 km na cidade. Em comum, eles exprimem estilo sobre duas rodas e unem bem- estar à sustentabilidade. Apesar do consenso de que ainda falta respeito pelos ciclistas na cidade das bicicletas, eles acreditam nas bikes como uma solução para a mobilidade urbana.

 

Frida ainda não completou dois anos, mas percorreu muito chão por aí. Anda cerca de 16 km por dia e é a melhor companheira para ir ao mercado, ao banco, ao shopping e para realizar atividades corriqueiras. A estudante de artes visuais Nicole Fabily Brattig encontrou a Frida no início de 2012. A Verona branca foi comprada assim que ela se mudou para Joinville. Afinal, morar na Cidade das Bicicletas e não ter uma não parecia uma ideia aceitável. O modelo custa cerca  de R$ 400 e foi personalizado com selim, manopla, guidão e pintura. Com as mudanças, hoje a Frida vale o dobro de quando foi comprada.

 

Quando sai para pedalar, a estudante não deixa de lado o estilo moderno de se vestir, mas há duas exceções sobre duas rodas: vestido e saia, nem pensar. Nicole defende que não é necessário deixar a personalidade de lado quando quando se anda sobre duas rodas:

 

"Acho que se você usa a bicicleta como meio de transporte e não para pedaladas com alta velocidade, não é necessário usar roupas com elasticidade, tecidos especiais ou tênis. Só é preciso se sentir confortável", analisa.

 

Nicole acredita que qualquer pessoa pode se enquadrar na onda cycle chic. Basta ser prevenido numa cidade com o clima joinvilense, como ter sempre  na bolsa um desodorante, toalha, kit de maquiagem – para quem usa – e, principalmente, um guarda-chuva.Nisso, ela e Frida se adaptam muito bem. "Acho que nós duas não temos regras", acrescenta.

 

Há pelo menos sete anos, o designer gráfico Neto Lemos também adotou a bicicleta como meio de transporte. Do papo entre amigos, despertou uma curiosidade sobre as fixas – bicicletas utilizadas originalmente  nas pistas de ciclismo. Os modelos se destacam pela simplicidade – não tem marchas e o freio é controlado nos pedais – e pela possibilidade de personalização, pois geralmente o usuário é responsável pela montagem, além do custo quase zero de manutenção. Neto decidiu experimentar e iniciou as pedaladas com uma Caloi 10. Hoje, ele possui um modelo que custou cerca de R$ 1 400,00, com peças vindas de diferentes lugares do mundo, todas compradas pela internet.

 

"Resolvi conhecer essa bike que você não para nunca de pedalar. E é muito bacana, porque aprendi, por exemplo, a montar e desmontá-la, além de ser mais econômica. E isso que é legal, cada uma fica com uma cara diferente", diz Lemos.

 

O designer gráfico e a bicicleta formam uma dupla que exprime curiosidade, talvez pela combinação de personalidade: "Ela reflete um pouco, não tem como não ter um pouquinho da gente nela", brinca.

 

Neto defende o uso da bicicleta como uma possibilidade ecológica e eficiente, mas a essência ainda consiste no prazer de pedalar. O trajeto casa-trabalho não é suficiente, é preciso curtir a sensação sobre duas rodas, com passeios longos pela cidade, por exemplo.

 



Minha bike, meu estilo
Quando a equipe de reportagem chegou à agência onde o designer de interface Christian Bueno trabalha, deu de cara com um estacionamento vazio e cinco bicicletas apoiadas na parede, denunciando a preferência do meio de transporte dos funcionários. Há uma sinergia entre os colegas de trabalho, que, aos poucos, foram experimentando os benefícios de se locomover de bike.

 

Christian é oficialmente ciclista urbano há poucos meses. Desde agosto, coloca sua magrela amarela na rua diariamente para roteiros básicos, de casa para o trabalho, ir ao mercado ou passeio com a filha, enquanto deixa o carro na garagem. Natural de Newark (EUA), criado em Minas Gerais e até pouco tempo morador da Flórida (EUA), ele descobriu em Joinville uma oportunidade para experimentar a vida sobre duas rodas. Mas o que chama atenção no designer não é sua vida aventureira, mas seu estilo despojado para andar de bicicleta. Ela, aliás, faz jus ao dono. Quadro de uma Monark 10, foi reformada e ganhou novos acessórios.  O último foi um aparelho de som. A estimativa é de que ele tenha gasto cerca de R$ 800 até agora.

 

"É complicado usar fone de ouvido quando se anda no meio do trânsito", justifica Christian. Tatuado, camisa social com estampa colorida, boné de aba reta e tênis retrô, Chris prefere não ser rotulado de cycle chic porque seu estilo antecede a tendência. Mas ele revela que algumas vezes  é preciso ceder e usar roupas específicas para ciclismo, principalmente em dias de chuva.

 

Outro apaixonado por bicicleta, o artista plástico e arquiteto Nilson Delai é proprietário de dois modelos, no mínimo, curiosos. O primeiro, uma Dahom vermelha, comprada há cerca de dez anos após uma viagem na Itália, quando viu um casal tirar do carro duas bicicletas dobráveis e andar ao lado do rio, num espaço impossível para carros. Anos depois, em um ímpeto, quase se desfez da preciosidade quando decidiu vendê-la. Mudou de ideia e a deu de presente a um amigo, que, durante três meses, pouco uso fez da magrela. A saudade apertou e Delai voltou atrás: trouxe a favorita de volta para o escritório. 

 

Outra queridinha do artista é um modelo da marca Zip, uma bicicleta semielétrica, que anda por até 25 km à base de eletricidade e também dobrável. Delai gastou pouco acima de três mil reais nas duas, que, segundo ele, têm um custo baixo para manutenção. Apesar de ter carro, ele não abre mão do prazer de andar de bicicleta pela cidade, principalmente com o aumento de ciclovias pela região onde trabalha.

 

"É um negócio muito prazeroso. Às vezes, saio do escritório e ando por uma, uma hora e meia de bicicleta por aqui e uso também para ir almoçar aqui perto. E, claro, nos fins de semana", revela.

 

Na onda cycle chic
A personal stylist Byanca Bell dá algumas dicas para entrar na onda dos cycle chic:

• Use peças que expressem sua personalidade, que mantenham você apto para realizar suas ações ao longo do mesmo dia. 

• Para os pés, opte por sapatilhas, rasteiras ou um par de tênis. É possível montar um look incrível para um ambiente mais informal. Quem quiser ousar e tiver destreza pode, sim, colocar um salto. Existem muitas mulheres em grandes centros que optam por tênis para pegar o metrô e em sua bolsa carregam seu salto. Pode ser uma ideia para quem não quer arriscar.

• Pelas fotos de street style que estamos vendo, pode-se tudo, não há regras, é preciso apenas estar ciente da sua realidade.

• No vestuário, peças que não prendam os movimentos, desde saias, vestidos e shorts. Quem quiser usar um vestido e se não se sentir bem com o vento, opte por um shorts por baixo. Isso lhe mantém segura e sem maiores incômodos.

• Acessórios: eles sublinham nosso estilo e são importantes para criar uma expressão pessoal ao se vestir. Opte por bolsas que não incomodem na hora de pedalar, ou inclua uma cesta na parte frontal de sua bicicleta. E sempre busque elementos polivalentes para atualizar o seu estilo.

 

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