Se fosse feito hoje, o desafio modal que o jornal Correio da Bahia lançou, em 2012, com largada na Federação e chegada no Iguatemi, em horário de pico, provavelmente teria resultado bem semelhante. Conclusão: correndo se chega antes que de carro.
O sistema viário de Salvador tem aproximadamente 5 mil quilômetros. Em 2012, tínhamos 821 mil veículos. Ou seja, uma fila de 4.100 Km de veículos. A cada ano, a frota aumenta em torno de 50 mil veículos. Em 4 anos, teremos mais carros do que ruas na cidade.
Não adianta tirar sinaleira, fazer viaduto, duplicar via. O engarrafamento não será reduzido. Os carros ficarão parados, mas se as pessoas quiserem, temos soluções: outras alternativas de transporte.
Em uma mesma faixa de trânsito, podem circular por hora 2 mil carros. Com corredores exclusivos de ônibus, os carros ficam parados, mas 9 mil pessoas podem passar por aquela mesma faixa. Se priorizarmos ciclistas e pedestres, na mesma faixa podem caber 14 mil bikes por hora e 19 mil pessoas a pé.
Estará malhando em ferro frio o governo que priorizar o carro individual, investindo em abertura de novas vias e construção de viadutos e pontes só para carros. E solucionando o problema aquele que priorizar o transporte público, o ciclista e o pedestre.
Estamos em um bom momento para refletir e implementar medidas de desestímulo ao uso dos veículos individuais motorizados e promover os meios não motorizados. Está nesta direção a Política Nacional de Mobilidade Urbana, que em seu artigo 5º fala em desenvolvimento sustentável das cidades, segurança nos deslocamentos das pessoas, equidade no uso do espaço público de circulação, vias e logradouros e deixa clara a ordem de prioridade da mobilidade urbana no país:
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Londres. Foto: Pablo Florentino |
“Prioridade dos modos de transportes não motorizados sobre os motorizados e dos serviços de transporte público coletivo sobre o transporte individual motorizado.”
As cidades europeias têm um índice tão elevado de deslocamentos realizados por bicicleta porque isso faz parte de políticas governamentais para tornar a cidade mais agradável, justa, ecológica e sustentável. Por que não seguir esses exemplos e caminharmos na direção oposta à do trânsito caótico?
*Texto publicado originalmente no blog Rua de Gente
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