Com apelo sustentável e baixo custo, as ciclovias viraram coqueluche pelo país. Porém, muitas delas apresentam falhas na execução que podem colocar em risco a segurança dos ciclistas e também de motoristas. Segundo especialistas, falta "know-how" aos gestores na elaboração dos projetos.
O resultado são vias com sinalização precária, árvores ou placas no meio da pista e cruzamentos perigosos.
Em Belo Horizonte (MG), por exemplo, três quilômetros de ciclovia terão de ser desmanchados porque a via foi construída entre a pista para veículos e as vagas de estacionamento.
Os carros, portanto, precisam passar pela faixa exclusiva para bicicletas se quiserem estacionar, o que aumenta as chances de acidentes.
Mesmo em Curitiba (PR), capital que desde a década de 1970 investe na implantação de vias exclusivas para bicicletas, há problemas de execução. Os usuários reclamam, por exemplo, de uma ciclofaixa, inaugurada em 2011, que tem apenas 75 centímetros de largura.
"Tudo é feito de afogadilho. Pintam uma faixa de vermelho na avenida, chamam de ciclovia e ninguém usa, porque é malfeito", diz o consultor em ciclomobilidade Alexandre Nascimento.
Especialistas atribuem o "boom" de projetos à Política Nacional de Mobilidade Urbana, de 2012, que instituiu como diretriz no país a prioridade do transporte não motorizado sobre o motorizado.
Obra pode ser embargada
Levada às últimas consequências, a lei abre a possibilidade de que uma obra que não tenha espaço para pedestres ou ciclistas seja embargada pela Justiça.
"Já não era sem tempo", declara o arquiteto e urbanista Antônio Carlos Miranda, que projetou ciclovias para dezenas de cidades brasileiras e agora coordena o programa cicloviário de Curitiba.
Para ele, investir no transporte em bicicletas é uma necessidade, pois "com o automóvel, não há solução possível". Miranda afirma ainda que falta formação na área.
"O pessoal acha que ciclovia é um desenho, riscar algo na prancheta. Não é. Tem que levar em consideração drenagem, pavimento, geometria viária", afirma.
Padrões mínimos
Mesmo com as exigências legais, porém, técnicos se queixam da falta de normas nacionais sobre a circulação de bicicletas. Não existe, por exemplo, resoluções que imponham padrões mínimos às ciclovias.
Isso leva a projetos pouco consistentes e com dificuldade para obter financiamento federal, afirmam.
"A maioria dos projetos é uma coisa voluntariosa, que as administrações estão fazendo rápido para se associarem à sustentabilidade", diz Rafael Medeiros, mestre em gestão urbana pela PUC-PR.
A prefeitura de Belo Horizonte diz que buscou parceria com associações de ciclistas para que critiquem e referendem projetos futuros.
Em Curitiba, a administração diz que diminuirá o limite de velocidade dos carros que trafegam ao lado da ciclofaixa estreita para aumentar a segurança dos ciclistas.
São bons exemplos. Será que estamos começando a levar o assunto bicicleta a sério?
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