“Tirar leite de pedra”. Assim os funcionários da manutenção do metrô de Belo Horizonte definem a rotina de reparos nos obsoletos trens da capital. O preço pela demora da modernização e expansão do sistema é alto. São R$ 68 milhões gastos por ano pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) só para resolver as panes nos trens.
Segundo o vice-presidente do Sindicato dos Empregados em Empresas de Transportes Metroviários e Conexos de Minas Gerais (Sindimetro), Romeu José Machado Neto, por semana, em média, entre três e quatro falhas incapacitam uma composição inteira. Além disso, ao menos uma vez a cada sete dias alguma pane trava todo o sistema.
“Todo equipamento tem vida útil limitada, e alguns itens não são encontrados para reposição. É preciso modernizar. Mas isso é visto como investimento pela CBTU, que posterga. Precisamos até fabricar peças artesanalmente para substituir outras”, diz Romeu, que trabalha no setor de manutenção do metrô.
A CBTU confirmou o valor gasto nos consertos e na conservação, mas não informou a quantidade de falhas.
Apagão
Quando as panes ocorrem em horários de pico, a defasagem do sistema fica em evidência. Foi o que ocorreu na terça-feira (10) com um trem na Estação Eldorado, em Contagem, na Grande BH. Foi necessário substituir toda a composição. As conse-quências para os passageiros são os atrasos e a superlotação.
Houve acúmulo de pessoas na plataforma da estação. Os funcionários foram obrigados a realizar um controle de fluxo, impedindo que mais pessoas passassem pelas catracas.
Nova direção
Para o especialista em trânsito Silvestre de Andrade, o metrô de BH passa pela pior fase da história. “Ainda é operado pela CBTU, mas será repassado à Metrominas. Com isso, falta atenção às necessidades da linha”.
Para Silvestre, o metrô assume um papel cada vez mais importante. “Por causa do aumento do tráfego, as pessoas utilizam mais o serviço. Quanto mais usado, maior a necessidade de manutenção”, diz.
Segundo o presidente da Associação de Arquitetos e Engenheiros de Metrô (AAEM), José Geraldo Baião, nenhum sistema é infalível, mas o que se busca é evitar “quebras” durante a operação.
“Os sistemas mais novos falham menos. Porém, os antigos, com boa manutenção, podem durar décadas”
Gente demais para o sistema
Enquanto a expansão das linhas não sai do papel, o metrô de BH receberá dez novos trens no segundo semestre de 2014, ao custo de R$ 171 milhões, na tentativa de reduzir a superlotação.
Com as novas composições, a previsão é aumentar a capacidade da linha 1, a única, em 50%.
Além disso, a CBTU realiza testes de circulação de trens com oito vagões nos horários de pico.
Inaugurado em 1986, o “trem de superfície” de BH não suportou o volume de passageiros. Em 1990, eram 13 milhões. Dez anos depois, 27,2 milhões, e chegou a 57,4 milhões no ano passado. Até maio de 2013, transportou 25,4 milhões de usuários.
De R$ 3 bilhões, só vieram R$ 14 milhões
Passados dois anos e três meses do anúncio do governo federal de que iria liberar R$ 3 bilhões para a ampliação e modernização do metrô de Belo Horizonte, a Metrominas recebeu apenas R$ 14 milhões. A informação é da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop).
Com esse recurso, foram realizados serviços de sondagem e geotécnicos. Os estudos elaborados estão em fase de análise por técnicos da secretaria.
A Setop informou que os resultados não estão concluídos. Entretanto, garante que as conclusões preliminares não afetam substancialmente a concepção original dos projetos.
A previsão é a de que no início de 2014 aconteça uma audiência pública da obra da Linha 3 (Lagoinha-Savassi). Logo após, provavelmente em maio, deverá ser publicado o edital de obras.
Para o mesmo mês está prevista uma audiência pública da Parceria Público-Privada para as linhas 1 (Novo Eldorado - Vilarinho) e 2 (Barreiro - Nova Suíça). A expectativa é a de que as obras sejam iniciadas no ano que vem.
A Setop informou que os estudos preliminares apontam que a linha 3 não terá problemas de perfuração do solo.
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