Não há barulho de motor, fumaça de escapamento nem congestionamentos nas cidades de Chaves e Afuá, vizinhas na Ilha de Marajó (PA). O número de automóveis conta-se em uma mão.
Os municípios ocupam os últimos lugares no ranking que mede a proporção de carros por habitantes do país.
Lá só se chega de barco ou avião e a maior parte da população vive na zona rural. O principal meio de transporte utilizado é a velha bicicleta.
Segundo o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), há apenas um carro registrado em Chaves, que tem 22 mil habitantes.
"Aqui as vias são feitas para o povo transitar", conta o pecuarista Pedro de Souza Leandro, 63, dono de uma picape que é utilizada somente metade do ano. "Há um período em que tudo alaga e não dá para andar."
Em Afuá (36,5 mil habitantes), até as motos são banidas. Segundo o Denatran, há três delas registradas.
"As ruas são de madeira ou concreto, suspensas e medem apenas três metros. Carro aqui não anda, mas não temos barulho nem poluição", diz o prefeito Eliudo Pinheiro (PP), que cumpre sua agenda a pé.
A próxima meta, diz, é cadastrar as bicicletas e implantar sistema de sinalização. "Para ter carro aqui, teríamos que construir uma cidade nova. Acho melhor não."
TODOS DE CARRO
Com apenas 15 km² e uma população predominantemente de classe média, São Caetano do Sul (Grande SP), por outro lado, é a cidade com maior proporção de carros por habitante -para cada 1,6 habitante, há um veículo licenciado.
O resultado pode ser explicado pela alta renda da população, que soma mais de 156 mil habitantes, na estimativa do IBGE, e é a primeira colocada no IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) de 2013.
"O crescimento populacional nos últimos dez anos, com inúmeros novos empreendimentos verticais, fez com que o trânsito piorasse", diz Leandro Prearo, gestor do instituto de pesquisa da Universidade Municipal de São Caetano do Sul.
Segundo dados da prefeitura, a frota da cidade aumentou 50% nos últimos 15 anos.
O secretário de Mobilidade Urbana, Odair Mantovani, diz que o principal problema da cidade é servir de passagem entre São Paulo e outros municípios do Grande ABC.
A autônoma Roseli Badanai circula por São Caetano do Sul todos os dias, a trabalho ou para ajudar a família. "É trânsito o dia inteiro", diz.
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