No Rio de Janeiro, motoristas de ônibus denunciam más condições de trabalho e práticas abusivas

Déficit de mão de obra seria causado por más condições de trabalho

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Fonte: O Globo  |  Autor: Luiza Barros e Fernanda Ponte  |  Postado em: 13 de novembro de 2013

Ônibus na Zona Portuária do Rio

Ônibus na Zona Portuária do Rio

créditos: Gabriel de Paiva / O Globo

 

Má conservação da frota, atrasos, bandalhas no trânsito e grosseria de motoristas e cobradores. Se a lista de reclamações dos usuários de ônibus no Rio já é bem conhecida, do lado de quem está no volante também sobram queixas em relação às empresas. Com péssima fama entre passageiros por descumprirem leis de trânsito ou se exaltarem em discussões, motoristas de ônibus contam o seu lado da história e denunciam práticas abusivas que, segundo eles, acontecem em todas as empresas do Rio, como a obrigação de arcar com o prejuízo em casos de batidas de trânsito e até de assaltos.

 

No caso do motorista Renato, a obrigação de quitar uma dívida de R$ 6 mil com seus empregadores foi a gota d’água para que ele se arrependesse da escolha que fez há mais de dez anos, quando decidiu ser motorista de ônibus. Este ano, após colidir com um carro de passeio, durante o expediente, ele foi obrigado a pagar o conserto do veículo. Com um salário de R$ 1.790, as contas em casa não fecharam.

 

— Estou passando dificuldades financeiras com esses descontos. A empresa não fez perícia, apenas me encaminhou o valor a ser quitado. Já trabalhei em outras empresas de ônibus e todas agem da mesma forma.

 

O procurador Paulo Douglas Almeida de Morais, gerente nacional do Projeto Jornada Legal, que fiscaliza o cumprimento da Lei dos Motoristas, afirma que a cobrança é ilegal:

 

— O motorista deve ter o cuidado necessário com o veículo, mas não havendo dolo (quando há a intenção de provocar o acidente) não há cabimento o desconto. Se isso está previsto no contrato, é uma cláusula abusiva. O motorista pode reaver o prejuízo judicialmente e denunciar.

 

Paulo afirma ainda que os acidentes estão associados à “ultrajornada”. As empresas exigem o cumprimento de horários incompatíveis com o descanso, facilitando a ocorrência de acidentes.

 

Defasagem salarial, jornadas de trabalho extensas, plantões em feriados e fins de semana, ausência de plano de saúde e até o cumprimento de metas de passageiros são algumas justificativas de motoristas ouvidos pelo “Globo a Mais” para o déficit de mão de obra na categoria.

 

Alta rotatividade

A evasão de motoristas do sistema rodoviário foi apontada como um dos problemas do serviço pelos empresários Jacob Barata Filho e Cláudio Callack em entrevista exclusiva ao “Globo a Mais”. Eles alegam que a alta rotatividade deve-se ao “término da violência do Rio e ao crescimento econômico”. Dizem ainda que determinados setores, como o de transporte de carga, passaram a “pagar salários muito acima daqueles praticados pelo setor”.

 

O Sindicato de Transporte de Cargas (Sindicargas), no entanto, nega a informação. O secretário-geral Roberto Nate explica que a mão de obra do transporte de carga é muito especializada e são necessários intensos treinamentos para trabalhar no setor.

 

Um motorista antigo, com 15 anos de profissão, dá sua versão para a desistência de tantos rodoviários ao trabalho:

 

— Tem o estresse do trânsito, a defasagem salarial, mas o pior é ter que cumprir as metas. Você tem que ter, por exemplo, uma média de 200 passageiros nas viagens. Se você não atinge o número, eles perguntam o que aconteceu. Na terceira vez, te suspendem, podem até cortar sua cesta básica.

 

Em nota, a Rio Ônibus informou que foram concedidos reajustes consecutivos de 10% nos últimos três anos e que está em estudo a adoção de planos de saúde para a categoria por sistema de adesão. Em relação à obrigatoriedade de reposição em caso de assalto, a empresa afirma que os casos são analisados individualmente e o ressarcimento acontece excepcionalmente.

 

TCM: inspeções são técnicas

Ao comentar a entrevista de Barata e Callack, o Tribunal de Contas do Município (TCM) informou que só atua em suas auditorias e inspeções “de forma estrita e unicamente técnica, sendo todas estas planejadas e seus resultados decorrem de verificações de documentos e atuações em campo”.

 

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