Como Portugal e Espanha tratam (bem) seus pedestres

Arquiteta brasileira em viagem pela Europa anota, como num 'diário de bordo', o modo como calçadas e transporte público são privilegiados por lá

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Fonte: Blog Rua de Gente  |  Autor: Gardenia Azevedo*  |  Postado em: 31 de outubro de 2013

Passeios largos e bem arborizados, em Sevilha

Passeios largos e bem arborizados, em Sevilha

créditos: Reprodução

 

Há pouco tempo, em visita a Sevilha, Barcelona e Lisboa, me diverti muito analisando e fotografando os desenhos das cidades e os modos como elas se relacionam com o cidadão.  Nas cidades europeias, os governantes já começam a considerar a mobilidade urbana partindo de um novo enfoque e buscando mais comodidade para o pedestre: passeios largos, sombreamento, bancos, pisos mais lisos e adequados para cadeirantes, carrinhos de bebê, patinetes, skates e patins.
 
Valorizam-se também o transporte coletivo e outros modos de transportes alternativos, suaves e não poluentes. O transporte individual motorizado é desestimulado com a redução de vagas para carros na parte central das cidades, ampliação de estacionamentos na periferia, restrição de velocidade nas áreas centrais e pistas com menos faixas para proporcionar a ampliação de passeios.
 
Toldos colocados nas ruas
Esse novo enfoque, denominado mobilidade urbana sustentável, pressupõe que o cidadão disponha de acessibilidade e deslocamentos com segurança, conforto, no menor tempo e com custos acessíveis. Além disso, significa buscar eficiência energética e impactos ambientais reduzidos.
 
Uma coisa impressionante, em Sevilha, é a preocupação em dar conforto ao morador e ao turista. Nas áreas centrais, há muita arborização – duas filas de árvores bem próximas, formando um cordão espaçoso de zonas sombreadas para a circulação de pedestres e ciclistas – e passeios largos.
 
Em todo lugar, há uma praça arborizada. Nos locais onde não existem árvores, são colocados toldos em lona semitransparente, dispostos de um lado ao outro da rua, para reduzir, consideravelmente, a luminosidade e o calor do sol.  Além disso, existem espelhos d’água, fontes, bebedouros e micropulverizadores de água, para aumentar a umidade do ar e diminuir o calor escaldante.

As zonas de pedestres têm muito movimento e vigor. Há muita gente nas ruas ou em restaurantes do lado de fora, na esplanada. Encontram-se muitos idosos, cadeirantes e famílias com crianças utilizando patinetes, patins ou skates. Muitos jovens pedalam em suas bicicletas.

Uma política que deu certo em Sevilha foi o fomento ao uso de bicicleta, que se tornou um eixo da transformação do sistema de mobilidade na cidade espanhola. O governo, além de inserir um transporte alternativo na cidade (bicicletas para aluguel), implantou 160 km de ciclovias em 36 meses, entre 2007 e 2009.
 
Foram removidas 4 a 5 mil vagasde estacionamento de veículos e retirada uma das faixas do sistema viário para ampliação dos passeios. Essa infraestrutura está presente nas principais avenidas e foi definida uma política de coexistência na via pública, com a restrição de veículos e a redução da velocidade deles, além de campanhas educativas.
Aluguel de bicicletas, em Sevilha

Os esforços para tornar a bicicleta uma alternativa de transporte sustentável e viável são uma realidade em Sevilha, que já integrou a bicicleta a sua paisagem urbana e obteve o quarto lugar no ranking das 20 cidades mundiais mais amigas da bicicleta, como informa o site Greensavers, em maio deste ano.

Já em Barcelona, também há propostas que consideram o conforto e a segurança dos pedestres, meios de transportes não poluentes e o uso da bicicleta. E, da mesma forma que em Sevilha, há uma valorização do espaço público, o comércio de rua e as praças, buscando reduzir distâncias e obstáculos para o fluxo dos pedestres.
 
Percebe-se ainda a melhoria da pavimentação dos passeios, ciclovias, bicicletas para aluguel, instalação de mobiliário urbano para pedestres (bancos, sombreamento e arborização) e investimento em transportes públicos de massa com alta capacidade, na tentativa de reduzir o número de veículos individuais motorizados na cidade.

Em Lisboa, está havendo uma movimentação para pôr em prática todas essas novas ideias. No entanto, mudanças ainda não são muito notadas. Visitei uma exposição na Praça do Comércio sobre mobilidade urbana e pude ver o que a cidade está planejando para entrar em outro patamar de desenvolvimento. Já foi implantado o sistema de aluguel de bicicletas e, nessa exposição, observei que já estão realizando, numa rua de Lisboa, a redução do número de faixas de rua para ampliação dos passeios e criação de ciclovias.
 
A implementação de políticas de mobilidade urbana, baseada em novos paradigmas, pressupõe a aplicação de novos conceitos, instrumentos e técnicas, mas acima de tudo é imperativo conquistar a sociedade para uma nova postura, novos hábitos e mudança no padrão comportamental. Exige conscientização e adesão coletiva às propostas. Quando será que poderemos pensar em uma Salvador mais amigável para sua população e visitantes?
 
*Gardênia Oliveira David de Azevedo é arquiteta e mestre em Engenharia Ambiental (UFBA). O texto foi publicado originalmente no Blog Rua da Gente
 
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