O engenheiro colombiano Germán Madrid, referência internacional em planejamento de calçadas e vias urbanas, falou ontem (29) durante o Seminário Nacional de Mobilidade Urbana*, que se realiza em São José dos Campos (SP). Durante o evento, Madrid foi entrevistado pelo jornal O Vale; entre outros temas, abordou a importante experiência de renovação urbana vivenciada pela cidade de Medellín (Colômbia). Confira a seguir a entrevista:
Quanto o planejamento urbano ajudou Medellín?
Depois do tempo da máfia e da violência, Medellín tomou uma decisão para mudar a realidade. Um prefeito vindo da universidade assumiu e apresentou uma nova forma de ver a cidade, um processo de criação de uma nova cidade com mais igualdade, principalmente na educação. A estratégia foi baseada em levar a educação para as periferias. A partir daí, trabalhamos para melhorar o espaço público, para que todos os cidadãos pudessem desfrutar.
Colômbia priorizou os carros?
Também fez isso. Nós, humanos, quase sempre assimilamos as coisas ruins, não as boas. Até alguns anos atrás, não havia na Colômbia nenhum transporte público. Eram todos privados, até os ônibus. Os empresários eram muito poderosos e barravam o desenvolvimento de outros sistemas. Mas agora temos metrô, ônibus, teleféricos, ciclovias e VLT.
A mobilidade tem que integrar todos os meios de transporte?
Nunca existe uma só solução. Têm que ser complementares. Estamos iniciando as bicicletas públicas em Medellín. As pessoas andam entre um ponto e outro na cidade. Temos cidades que estão se unindo para desenvolver projetos de mobilidade em conjunto, como trens e ônibus rápidos.
Qual o futuro se houver a prioridade de focar nos carros?
É impossível focar apenas nos carros. O carro continua sendo um status nas classes média-alta. Os mais pobres compram motos. Isso acontece em várias partes do mundo. Ao mesmo tempo, está causando muitos acidentes. É um transporte difícil de controlar. Na Colômbia, estamos desenvolvendo um piso especial que não permite derrapar. O Metrô está sendo ampliado e o VLT será implantado. Todo o sistema será integrado. Esse é o segredo.
E no Brasil?
Curitiba é um exemplo para nós. São José tem que tomar medidas rápidas, decisões rápidas, para ganhar tempo com o sistema. São José não deve esperar chegar a 1 milhão de habitantes para formular um sistema de transporte de massa integrado. A prefeitura deve ouvir a população.
Germán Madrid. Foto: Alan Collet
Leia também: