Transportes definem rumos de obras literárias

No Dia Nacional do Livro, matéria seleciona algumas obras que demonstram que, mesmo na ficção, o transporte é essencial

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Fonte: Agência CNT de Notícias  |  Autor: Natália Pianegonda  |  Postado em: 29 de outubro de 2013

"Transporte público é decisivo para a literatura"

créditos: Reprodução

 

Jorge, um experiente caminhoneiro, recebe a missão de buscar oito carretas carregadas com trinta toneladas de milho cada, em Caratinga, no interior de Minas Gerais, e levá-las a Belo Horizonte. A jornada é perigosa e o tempo é curto, o que dá início à narração de uma jornada difícil e cheia de reflexões, contada pelo próprio Jorge, em tom de confidência, ao leitor: “Porque, você sabe, a gente não consegue ficar conversando muito tempo, sem no fim contar do que a gente já fez, ou do que a gente já foi”, é o que diz o personagem central de Jorge, um brasileiro, livro do autor mineiro Oswaldo França Junior. 

Este é um dos títulos que a Agência CNT de Notícias selecionou para marcar o Dia Nacional do Livro, comemorado em 29 de outubro. São sugestões de obras que podem acompanhar motoristas e passageiros, e exemplos de que, mesmo na ficção, o transporte se torna essencial para o desenvolvimento das histórias. 

“O transporte público é decisivo para a literatura”, ressalta o professor de Literatura Brasileira Marcelo Frizon. Ele lembra que em diversas narrativas é possível encontrar, por exemplo, personagens que utilizam o extinto bonde, como em Os Ratos, de Dyonélio Machado. “Sem esse meio de transporte, o protagonista, Naziazeno, não conseguiria perambular do arrabalde para o centro de Porto Alegre”, lembra o professor. Já em O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues, o drama de Arandir é detonado pelo atropelamento de um homem por um lotação. “Embora fique claro que não foi culpa do motorista, a situação demonstra a força que os meios de transporte podem ter na literatura e que, muitas vezes, passa despercebida pelo leitor”.

Outro exemplo que Frizon recorda, leva o leitor da terra para o mar: “O transporte marítimo também é decisivo em várias narrativas, como Terras do Sem-Fim, de Jorge Amado, em que quase todos os personagens são apresentados a bordo de um navio que está chegando à Bahia logo na abertura do romance”. 

Não fosse também um navio, talvez a história de Memórias de um Sargento de Milícias, de 1854, fosse bem diferente. Afinal, é a bordo da embarcação, numa travessia pelo Oceano Atlântico, que Leonardo-Pataca e Maria Hortaliça se conhecem. E é do romance dos dois que nasce o protagonista, Leonardo, “filho de uma pisadela e um beliscão”, como conta o autor, Manuel Antônio de Almeida.
 

Em 1871, o mesmo Atlântico serviu de cenário para que o escritor Julio Verne bolasse a história de Uma cidade flutuante, navio que era, segundo o autor, "uma obra-prima da construção naval". O livro conta a aventura da própria embarcação, de seus tripulantes e passageiros para chegar ao destino. Reunindo mistério e ciência, a história relata os desafios enfrentados em meio a tempestades, acidentes, um ciclone e um duelo de espadas.

Julio Verne, aliás, muito provavelmente teria que ter usado muito mais a imaginação para desenvolver uma de suas produções mais conhecidas, não fossem os sistemas de transporte. Em A Volta ao Mundo em 80 Dias, o personagem Phileas Fogg faz uma aposta e se utiliza de todos os meios conhecidos na época para cumprir o prazo e dar a volta ao mundo: balão, trem e navio a vapor.

Já sobre as ferrovias é que está o elo para a história do professor de línguas Raimundo Gregorius. Ele deixa Berna, na Suíça, rumo a Lisboa, em Portugal, simplesmente porque se encantou pelo idioma Português. Na viagem, acaba por conhecer a história recente da nação portuguesa e conhecer mais a si mesmo. O título da obra é Trem noturno para Lisboa, um dos mais vendidos na Europa nos últimos tempos, escrito por Pascal Mercier.

E, como todo mundo bem sabe, o hábito da leitura deve ser cultivado ainda na infância. Por isso, há uma sugestão também para as crianças. O conto foi escrito por um dos grandes nomes da literatura brasileira, Erico Veríssimo, que escreveu para os pequenos As aventuras do avião vermelho, história de um menino travesso que ganha um livro e começa a passar as tardes lendo. Inspirado em um personagem, decide se tornar aviador. E é com um avião de brinquedo que alimenta esse sonho e uma série de aventuras que passa a viver a partir da imaginação, como viagens que vão desde a Lua até o fundo do mar.

 

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