Na guerrilha promovida pelos cicloativistas para conquistar as vias urbanas, algumas administrações municipais têm se mostrado aliadas. Curitiba dá o exemplo, com a divulgação e início de obras para implantar um Plano Diretor Cicloviário ambicioso, que promete implementar, até 2016, 300 km de vias, recuperar calçadas e instalar dispositivos urbanos para fortalecer o lado mais frágil na batalha do trânsito, as bicicletas.
“Abraçamos a causa do ‘povo da bicicleta’, pois queremos uma cidade mais humana e sustentável para dar continuidade à tradição de excelência em planejamento urbano e qualidade de vida que Curitiba sempre teve”, diz Sérgio Povoa Pires, presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), órgão responsável pelas diretrizes do transporte urbano da cidade.
A organização de cicloativistas que está na parceria com o Ippuc para concretizar ações que permitam o convívio do transporte por bicicletas no trânsito é a Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu (CicloIguaçu), fundada em 2011, e que congrega mais de 300 pessoas. Desde setembro tem direito a voto no Conselho da Cidade.
Segundo Pires, estão garantidos R$ 90 milhões para implantação do Plano Diretor Cicloviário, incluindo algumas obras que já serão entregues neste fim de ano, como a microrrede cicloviária da Cidade Industrial de Curitiba, de 19,5 quilômetros.
Os 127 km de ciclovias já existentes na cidade serão recuperados e a eles serão agregados mais 90 km de ciclorotas, selecionadas a partir de pesquisas feitas pelo CicloIguaçu, via internet, com o crivo técnico da entidade de planejamento urbano.
Outros 130 km terão faixas segregadas, ciclofaixas e passeios compartilhados entre pedestres e ciclistas. Outros 80 km de vias serão transformados em vias calmas, com limite de velocidade de 30 km/h.
As vias, mais estacionamentos, bicicletários e outros dispositivos farão o restante da infraestrutura que, aliada à educação para a diversidade na mobilidade, deverá mudar a cidade. “Tornaremos a convivência harmoniosa entre os modais”, diz.
Outra organização de cicloativistas que conquistou espaço de discussão no poder público foi a ViaCiclo de Florianópolis, criada em 2001.
Há um ano participa oficialmente do Conselho Municipal de Mobilidade e Transporte. “Vamos assumir a operação do bicicletário que existe há anos junto ao terminal de ônibus e que estava abandonado”, diz Karla Antunes, vice-presidente da entidade. No local, a entidade terá, pela primeira vez, uma sede administrativa.
Há promessas de implementação de novos bicicletários e de ampliação da rede de ciclovias da cidade, que não passa de 50 km, dos quais mais da metade construída na última gestão administrativa. “Fomos chamados, também, para participar de ações de sensibilização junto a motoristas de ônibus”, afirma ela.
Os investimentos no modal, no entanto, ainda são escassos. Karla diz que apenas R$ 1 milhão foram destinados para sinalização e revitalização de vias, depois que o prefeito fez uma pedalada, auxiliado por instrutores da entidade Bike Anjo, que tem como objetivo ensinar a pedalar com segurança.
Em Porto Alegre, apesar da pressão popular que o poder público tem sofrido desde 2011, quando houve um atropelamento coletivo de ciclistas durante uma manifestação pacífica, a percepção dos cicloativistas é de que não está havendo avanços. Mas não é o que a administração pública percebe.
“Depois do atropelamento, a visão da administração pública mudou”, diz Vanderlei Cappelari, presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC).
Segundo a EPTC, um plano cicloviário sancionado em 2009 previa uma rede de 495 km de ciclovias. Até hoje, foram implementados 16,3 km e há intenção de construir mais 50 km até a Copa do Mundo.
Nesses quatro anos o investimento foi de R$ 14,5 milhões. Segundo Cappelari, o Bike Poa, sistema de compartilhamento de bicicletas feito em parceria entre a Prefeitura de Porto Alegre e a concessionária Serttel, com apoio do Itaú -Unibanco, é destaque na cidade. Existem 38 estações com 380 bicicletas, e o sistema já registra mais de 240 mil viagens desde 2012.
Paulo Weiss, diretor da Associação dos Ciclistas de Porto Alegre, no entanto, reclama das condições precárias da infraestrutura da cidade.
“O que existe de ciclovias não liga nada com nada”, diz. Para ele, a política de mobilidade urbana da capital privilegia, acima de tudo, os veículos particulares.
Ele exemplifica com o fato de que recentemente o Executivo levou à Câmara um projeto de lei complementar que revoga o dispositivo legal que previa a aplicação de 20% do valor arrecadado em multas de trânsito para a construção de ciclovias e para campanhas para a educação no trânsito.
“O dispositivo estava no Plano Diretor de 2009, mas não vinha sendo cumprido”, diz Weiss. Ele acredita que o Executivo tomou conhecimento da legislação apenas quando entidades cicloativistas reclamaram o seu cumprimento. “Em vez de cumprir a lei, houve o envio do projeto para eliminar essa obrigatoriedade.” Segundo a EPTC, a intenção da administração pública é criar um fundo específico para implementar o Plano Cicloviário de Porto Alegre.
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