Faixas de ônibus, carros e as reais demandas da mobilidade urbana

O jornalista Anderson Costa faz uma síntese de como a decisão de priorizar o transporte público pode melhorar a vida em São Paulo

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Fonte: Movebla  |  Autor: Anderson Costa  |  Postado em: 07 de outubro de 2013

Velocidade dos ônibus no corredor norte-sul dobrou

Velocidade dos ônibus dobrou no corredor norte-sul

créditos: Reprodução

 

Há tempos que o assunto “faixa de ônibus em São Paulo” tem dominado todas as rodas de conversas por aqui. Também pudera. Foram 15 novas faixas neste mês, mais de 13 km de percursos dedicados ao transporte coletivo. Eu fiquei pensando muito sobre o assunto e achei de bom tom falar disso aqui. Afinal mobilidade urbana é algo essencial quando discutimos novas formas de trabalhar.

E queria também tomar um certo partido nessa discussão, a favor da iniciativa das faixas de ônibus. Não dos detalhes de cada uma, se na rua X era necessário ou não. Mas na visão de futuro que essa medida tem na cidade.


A demanda é de quem necessita
São Paulo é uma cidade muito grande. E os pólos de trabalho concentram-se, em sua maioria, nas áreas centrais. Essas áreas demandam muita infra-estrutura, suportada em sua maioria por trabalhadores das áreas periféricas da cidade. O trajeto entre os extremos da cidade e as áreas centrais pode chegar até 2h e meia via transporte urbano, dependendo do local. No meio desse trajeto estamos nós, tentando chegar no escritório todo dia, junto com toda essa galera.

Logicamente mais faixas de ônibus diminuem o espaço para os carros. E eu até entendo o stress especialmente de quem depende de um automóvel para se deslocar todo dia. O que a gente tem que fazer é observar essa história toda de um ângulo mais amplo, fora da nossa necessidade somente. E entender que essa demanda das faixas de ônibus é para a galera das 2h e meia no ônibus e no trem.

Eu penso que a Prefeitura adota um estilo a fórceps com o aumento das faixas de ônibus. É uma maneira de forçar quem usa carro a usar a solução que for melhor. Se ir de metrô e ônibus passar a ser mais rápido, porque não? De certa forma também é uma medida eleitoreira. Acudir a população mais carente gera mais simpatia, boa-vontade, e claro, mais votos.

Claro que o transporte público ainda precisa melhorar muito na cidade: ampliação de linhas, aumento da frota, expansão da malha metroviária… Mas começar priorizando o transporte público tem se mostrado mais eficiente do que obras de ampliação viária. Por um simples motivo: as vendas de carros não param. Mesmo com uma queda de venda de automóveis em relação a 2012, só neste ano a média de venda passa de 14 mil unidades diárias. Veja bem, 14 mil carros novos nas ruas por dia! E sabe o que bota mais fogo ainda na conversa? Os primeiros resultados das faixas de ônibus começam a sair.

Reportagem do Estadão mostra que o trajeto entre o Terminal Capelinha, na zona sul, e a Sé, no centro, já dura meia hora a menos do que de carro. Outra, da Folha, mostra que a velocidade dos ônibus que trafegaram pelo corredor norte-sul, entre o aeroporto de Congonhas e a região do vale do Anhangabaú, praticamente dobrou.

Tá mais do que na hora de colocarmos a mobilidade urbana em alto e bom debate.


É a única solução?
Longe disso. Para uma cidade como São Paulo, mobilidade urbana é uma equação altamente complicada. Não depende apenas do transporte público ou de obras viárias. São questões culturais também. Muitos de nós priorizamos o transporte particular pra tudo. Até pra sair de casa e ir até um mercado a 1km de distância.

Veja por exemplo como a cidade ficaria melhor só com uma leve despolarização dos centros de trabalho. As empresas podiam se estabelecer em outras áreas mais afastadas do centro. Ou mesmo a regulamentação do trabalho remoto, o que estimularia o mercado a incentivar mais esta prática entre sua força de trabalho.

E jogar o holofote em cima somente das faixas de ônibus pode ser um grande erro. E é essencialmente o que acontece agora com a opinião pública, porque boa parte dos impactados por essa medida são os motoristas dos carros. É a velha história: toda lei introduzida a fórceps vai prejudicar alguma ponta. Lembram da lei Cidade Limpa? Quantas empresas de outdoor e banners quebraram na cidade, ou tiveram que se transferir para o interior?

Se as faixas de ônibus provocam debates acalorados na população, isso é bom. Tira a invisibilidade do problema e coloca a questão como fundamental nas próximas eleições. Especialmente em debate se essas medidas foram eficientes ou não ao olhar da população. O que não pode morrer é a extensão desse debate. É melhor termos uma medida que olhe para o problema do que nenhuma. Cabe a nós, cidadãos, cobrar melhorias sempre.

Por isso reflita bem quando estiver no trânsito por causa de uma nova faixa de ônibus no seu trajeto. O problema é bem maior do que carros na sua frente. Beeem maior.

 

Texto publicado originalmente no site Movebla

 

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