Seis da tarde em São Paulo é sempre assim: depois do trabalho tem sempre uma outra jornada, no trânsito. Quem volta para casa de carro vai ficar horas no congestionamento. Os táxis, quase sempre ocupados e parados no mesmo trânsito. Nos ônibus pior ainda, de pé, apertado. Até quem decide ir a pé ou até o metrô ou para casa mesmo, sabe que a caminhada não vai ser muito tranquila.
A cidade é violenta, mas a necessidade de escapar do trânsito faz os pedestres se protegerem. Cibele anda um quilômetro e meio para casa. Na hora de atravessar a passarela escura, ela espera passar um grupo.
"Ah, eu vou junto. Com o pessoal. É melhor do que ficar uma hora para atravessar a ponte de ônibus, por exemplo", conta Cibele Santos, analista de sistema.
Cibele encontrou uma saída individual, mas a metrópole - e todas as grandes e médias cidades do país - precisam de soluções coletivas para um modelo de transporte que prioriza o carro.
Uma vez por ano, arquitetos brasileiros e convidados estrangeiros se reúnem em São Paulo para buscar alternativas. Uma das propostas debatidas no "Arq.Futuro" é reduzir a necessidade de deslocamentos.
"Você não pode dividir a cidade em região onde só tem moradias e região central onde só tem trabalho, porque daí as pessoas perdem um tempo enorme indo e vindo. Tem que trazer pessoas para morarem no centro e levar trabalho para a periferia da cidade", explica Oscar Vilhena, professor da FGV-SP.
Uma mudança é apontada pela maioria. É preciso reduzir o espaço dos carros, que ocupam 90% das ruas e avenidas. Desde o início do ano, São Paulo ganhou 190 km de faixas exclusivas para os ônibus. A medida tem a aprovação de 93% dos paulistanos e de 86% dos motoristas entrevistados.
Muitos deles adorariam se tornar ciclistas, se tivessem faixas seguras. No Rio de Janeiro, com 320 km de ciclovias, 5% do transporte é sobre duas rodas. É um milhão e meio de viagens por mês.
Nos últimos seis anos, Nova York criou quase 600 km de ciclofaixas, proibiu o trânsito de veículos em dezenas de ruas e, mesmo perdendo espaço, os carros aumentaram a velocidade média em 7%.
A secretária de transportes da cidade diz que o objetivo é tornar as ruas mais eficientes, atrativas e acolhedoras para todos.
Medidas assim podem funcionar em São Paulo. Um terço dos deslocamentos é feito a pé. Poderia ser mais, se as calçadas não tivessem obstáculos, rampas, degraus.
"Precisa investir no melhoramento das calcadas. Que é um investimento muito baixo, muito fácil de fazer. A gente duplicaria o número de pessoas que fariam esses percursos a pé”, afirma Marcos de Souza, diretor da ONG Mobilize.
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