Hoje é o Dia do Trânsito. E congestionamentos causam prejuízos econômicos

Estimativa é que perdas cheguem a 3% do PIB de cidades ou regiões metropolitanas. Problema aumenta gasto energético, eleva tarifas de transporte público e poluição do ar

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Fonte: CNT  |  Autor: Natália Pianegonda  |  Postado em: 25 de setembro de 2013

Nas ruas cada carro pode ocupar uma área de até 50

Um carro a 30 km/h pode ocupar até 50 m² nas ruas

créditos: J. F. Diorio

 

A especialista em relações internacionais, Julia Asseff, trocou, neste ano, Paris por São Paulo. E o maior impacto da mudança, para ela, está no trânsito: o tempo que necessita hoje para chegar ao trabalho – que são cerca de 40 minutos – poderia ser usado para percorrer distâncias até três vezes maiores na capital francesa.

 

Como consequência, deslocamentos maiores na cidade paulista estão quase sempre fora de cogitação, especialmente nos horários de pico.

 

“Eu trabalho na Avenida Paulista. Se eu preciso sair daqui para ir até a Zona Leste, por exemplo, eu simplesmente não vou. Às seis horas da tarde eu levaria três horas para chegar lá”, relata.

 

Foi por essa razão que optou por pagar mais caro no aluguel e morar mais perto do trabalho. Se o trânsito está muito parado, Julia tem a opção de fazer o percurso a pé.

 

Além do trânsito caótico e do metrô tradicionalmente cheio nesses horários, outro problema que surge é acertar o horário do ônibus, já que os congestionamentos dificultam o cumprimento das tabelas horárias.

 

“Você até pode ter uma noção, mas quase sempre demora mais por causa do trânsito”, diz.

 

As filas intermináveis de carros pelas ruas de São Paulo e de todas as grandes cidades brasileiras têm uma explicação lógica: a frota de veículos no país mais que duplicou em dez anos.

 

E a migração de público do transporte coletivo para o privado aparece nas estatísticas do setor. Conforme o presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Otávio Vieira da Cunha Filho, na década de 60, 15% das pessoas usavam o transporte privado. Hoje o índice está em 50%.

 

O problema é que, nas ruas, cada carro pode ocupar uma área de até 50 m² se está circulando a uma velocidade média de 30 km/h.

 

E quanto mais carros maior é a área ocupada e menor a velocidade dos veículos que já estão em circulação. Aí estão formados os engarrafamentos, que geram tanta perda de tempo, desperdício energético e poluição, elevando até mesmo o custo do transporte.

 

Um dos estudos mais abrangentes realizados sobre o tema no Brasil, feito entre 1997 e 1998 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e pela Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), demonstrou que, com longos engarrafamentos, a operação dos ônibus ficava até 15,8% mais cara, refletindo nas tarifas.

 

Atualmente, conforme o Instituto Movimento, esse sobrepreço pode ser estimado em 25%. Uma compilação de dados feita pela organização, a partir de levantamentos que avaliam principalmente a questão do impacto da perda de tempo, aponta que os custos dos congestionamentos giram em torno de 1 a 3% do PIB da cidade ou região metropolitana estudada. Nas grandes aglomerações urbanas brasileiras, o valor pode chegar a R$ 10 bilhões.

 

Assim, quem pode opta por ficar o mais próximo possível do trabalho. O bancário Fernando Leistner, por exemplo, abriu mão de uma moradia mais ampla para poder ficar próximo do emprego e evitar o trânsito entre o centro de Brasília e as regiões administrativas do Distrito Federal.

 

Segundo ele, “ao pagar mais por um apartamento menor no Plano Piloto, foi avaliado o benefício de perder menos tempo nos deslocamentos”.

 

Quem não tem esta opção, se vira do jeito que dá. A vendedora e estudante Rhaíssa Alves se tornou mais uma no contingente de pessoas que optou por uma forma individual de se movimentar: comprou uma moto.

 

“Antes eu precisava sair de casa às 06h30min para pegar o ônibus às 7h e chegar no trabalho às 08h30min. E, às vezes, ainda atrasava”, justifica.

 

Segundo o presidente da NTU, a alternativa imediata para resolver os problemas de mobilidade é melhorar a qualidade e as opções de deslocamento em coletivos.

 

Otávio Cunha explica que esta é a principal diretriz de um grupo que debate o assunto desde as manifestações que tomaram conta do país em junho, e que deve finalizar uma série de propostas até outubro.

 

Segundo ele, entre as providências indicadas estão melhorias nos pontos de ônibus (com indicação das linhas e horários), qualificação do serviço prestado e criação de faixas e corredores exclusivos para os coletivos, a fim de garantir que os veículos percorram as distâncias com maior velocidade.

 

As diretrizes que estão sendo fixadas por este grupo, formado por representantes do poder público, empresas, entidades e sociedade civil devem orientar a aplicação de cinqüenta bilhões de reais anunciados pela presidente Dilma Rousseff para mobilidade urbana.

 

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