Pesquisa confirma que pessoas se deslocam mais a pé em Salvador

Estudo aponta que apenas 21% dos deslocamentos são feitos de carro individual e motocicleta

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Fonte: Rua de Gente  |  Autor: Henrique Oliveira de Azevedo  |  Postado em: 20 de agosto de 2013

Deslocamento a pé representa 36,2% do total

Deslocamento a pé representa 36,2% do total

créditos: Elisa Prado / Vida mais Livre

 

O blog Rua da Gente teve acesso a uma síntese da pesquisa de mobilidade urbana realizada na Região Metropolitana de Salvador, em 2012, pela Secretaria de Infraestrutura do Estado. Não é ainda a pesquisa completa, com detalhes e dados mais localizados e específicos, mas os resultados preliminares fornecem informações interessantes sobre a forma como as pessoas se deslocam nestas cidades.
 
Apresentamos a seguir alguns destaques da pesquisa, como a tabela que mostra os modos de deslocamento das pessoas na região. O que mais chama a atenção é a predominância dos deslocamentos a pé: 36,2% do total. Isso não é nenhuma surpresa, pois em artigos já publicados no blog Rua da Gente esse tipo de modalidade é citado como a principal. O que surpreende é o pouco uso da bicicleta: apenas 0,9% dos deslocamentos realizados. Entretanto, não é de se desconsiderar o percentual de 36,2% para os modos não motorizados (a pé, 35,3% + bicicleta, 0,9%).
 
Figura 1 - Mapa dos municípios da Região Metropolitana de Salvador

 

Se 35,3% das viagens são realizadas a pé, provavelmente o investimento em ciclovias poderá significar um incentivo muito forte para que um percentual dessa população passe a usar a bicicleta, reduzindo seu desgaste diário. Assim como incentivar algumas pessoas, usuárias de outros meios, a ter uma atitude diária mais saudável, utilizando a 'magrela' como forma de deslocamento e lazer, reduzindo o sedentarismo e a obesidade, que cada vez mais aflige nossa sociedade.

 

Figura 2 - Modo como as pessoas se deslocam na RMS
 
 
Considerando que todos os usuários de transporte coletivo precisam andar até o ponto de ônibus, podemos somar aos pedestres (35,2%) as viagens feitas por ônibus municipal (31,5%), intermunicipal (3,4%) e lotação (1,1%) - não acrescentaremos táxi, pois o serviço pode ser solicitado por telefone - e chegaremos a 72,2% de viagens com ao menos parte delas utilizando a infraestrutura destinada ao pedestre, ou seja, os passeios (quando existem!).
 
Outro dado expressivo da tabela é a soma das viagens feitas de carro individual e moto, que totalizam apenas 21% dos deslocamentos. Se compararmos o volume de dinheiro público investido em infraestrutura prioritária para o veículo individual, em contrapartida aos recursos públicos destinados à infraestrutura para o pedestre e o transporte público, vemos que alguma coisa está errada. É o inverso de um investimento social do governo, pois se investe mais para beneficiar um percentual pequeno e mais abastardo da população em relação ao usuário do transporte público ou aquele que precisa se deslocar a pé por falta de dinheiro para utilizar outro meio.

Por que os passeios, que são tão necessários para o deslocamento da população, ficam abandonados e são de responsabilidade do dono do lote adjacente, enquanto a rua é de responsabilidade do governo? A prefeitura não tem feito nem mesmo o papel de fiscalizar a manutenção adequada dos passeios, exigindo que seu responsável cumpra o dever de recuperá-los e adequá-los às necessidades atuais exigidas pelas leis, principalmente a NBR 9050, que trata da acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.
 
Uma séria consequência da desatenção dos poderes públicos para a forma como a maioria das pessoas se deslocam, o modo a pé, é apresentada na tabela a seguir:
 
 
Figura 3 - Tipos de acidentes de trânsito que ocorrem na RMS
 
 
A pesquisa inova ao considerar acidente em calçada como uma das modalidades de acidente de trânsito. Pois se no deslocamento de um lugar para outro de nossa cidade algum agente externo (buraco, desnível ou outro obstáculo) provoca uma queda, um tropeção, um machucado, trata-se de um acidente de trânsito, afinal. Às vezes, os acidentes chegam a machucar severamente os pedestres, como ocorreu recentemente com a atriz Beatriz Segall, na cidade do Rio de Janeiro, chamando assim a atenção das autoridades para o problema. Os acidentes em calçada somam, na RMS, 24,9% de todos os acidentes de trânsito. Se somarmos os atropelamentos a esse percentual, chega-se a 43% dos acidentes ocorridos na região. Ou seja, esses índices apontam a necessidade de cuidarmos mais da infraestrutura para o pedestre, que sempre é o mais frágil dos envolvidos nos acidentes e, em geral, as vítimas mais graves.

Essa quantidade de acidentes poderia ser reduzida se as obras de infraestrutura do governo priorizassem os pedestres, ao invés de investimentos faraônicos como os da ponte Salvador-Itaparica, os viadutos da Paralela e a duplicação e construção de novas vias. A melhoria das calçadas, com largura adequada, iluminação focada nas pessoas, regularização dos desníveis, investimentos em acessos apropriados aos pedestres, instalação de equipamentos para facilitar a travessia segura das vias, entre outros investimentos, pode gerar melhorias que afetem direta e positivamente a vida de todas as pessoas.
 
Afinal, antes de tudo, somos pedestres. E essa ainda é a forma mais natural e saudável de deslocamento entre dois pontos da cidade. É a forma de deslocamento que merece mais atenção dos poderes públicos, pois o investimento em melhoria da infraestrutura desse modal é um grande incentivo para que as pessoas andem mais a pé e isso traga mais benefícios diretos em muitos aspectos de nossas vidas, desde a melhoria da saúde até a diminuição do caos no trânsito e dos acidentes e, acreditem se quiser, o aumento da segurança pública, pois mais gente circulando nas ruas inibe a ocorrência de assaltos. 
 
 
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