Cerca de 150 pessoas aguardavam para entrar na Câmara Municipal, no centro do Rio, por volta das 9h15 desta sexta-feira (9), para assistir à primeira reunião da "CPI dos Ônibus".
Com um dia de atraso, os cinco vereadores responsáveis pelas investigações dos contratos entre a prefeitura e as concessionárias de ônibus se encontraram para definir quem será o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito. Eliomar Coelho (PSOL), que propôs a CPI, espera que a Casa mantenha a tradição e dê ao proponente o posto principal. Completam a lista de participantes, Professor Uóston (PMDB), Chiquinho Brazão (PMDB), Jorginho da SOS (PMDB) e Renato Moura (PTC).
O público alega que há uma certa dificuldade de acesso à Casa. "Isso é uma manobra para esvaziar uma sessão tão importante", acredita Manuela Trindade Oiticica, 29, uma das que enfrentam a fila para entrar. "Desde junho estou participando das manifestações. Além de muito importante, a CPI do Ônibus é emblemática. A massa foi às ruas para reduzir o custo da passagem e cobnseguiu. Muito mais do que R$ 0,20, a gente precisa de uma política de transporte legítima", completou.
Dos cinco vereadores que vão conduzir a CPI do Ônibus no Rio, quatro não assinaram o requerimento de abertura da comissão e fazem parte da base governista. A única voz dissonante é a de Eliomar Coelho (Psol). Vereador mais velho da lista, ele teve o direito de convocar a primeira reunião, conforme prega o estatuto da Casa. Inicialmente, a previsão era de marcar a reunião para o último dia 8. Nela, apesar do atraso, será definido também o relator da CPI.
Participação popular
A CPI, num fato inédito, terá as sessões filmadas na íntegra. Conforme anunciado pelo vereador Jorge Felippe, presidente da Câmara, as imagens serão distribuídas para os veículos de comunicação. O Ministério Público e um procurador-geral da Casa também serão convocados a participar das audiências.
No final do mês passado, a Casa foi tomada por manifestantes que protestavam contra o governador Sérgio Cabral. Para Eliomar, a pressão popular será decisiva também no caso do transporte público.
"A CPI só saiu por conta das manifestações. Precisávamos de 17 assinaturas. Se não fossem os protestos, não teríamos conseguido nem 10. O sucesso vai depender da participação dos moradores do Rio durante os trabalhos na Câmara".
Casa cheia no dia do requerimento
No final de junho, na sessão de requerimento da CPI, 200 senhas foram distribuídas para espectadores. A procura era tão grande que a fila se estendia desde a entrada lateral da Câmara dos Vereadores, pela Rua Alcindo Guanabara, até a frente do edifício, na Cinelândia. Uma funcionária que fazia o credenciamento das pessoas disse que fazia tempo que não via tanto interesse.
O discurso dos vereadores para a instalação da CPI começou com críticas da oposição ao governo federal. Paulo Pinheiro, do PSOL, pediu durante o seu pronunciamento que todas as explicações sejam dadas à população. "Nós não temos temer a presença de vocês aqui. Queremos que vocês continuem fiscalizando", disse o vereador, ecoado pelo presidente da Câmara Jorge Felippe (PMDB). "É natural da democracia as vaias e aplausos".
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