A Prefeitura de São Paulo contratou uma empresa que irá avaliar os novos pontos de ônibus da capital paulista. A decisão foi publicada na última sexta-feira (26) no Diário Oficial da Cidade, após usuários reclamarem dos abrigos de vidro que estão sendo instalados desde fevereiro. Por isso, o município irá pagar R$ 56 mil para a Fundação Carlos Alberto Vanzolini fiscalizar a qualidade dos equipamentos em até 67 dias.
A principal crítica dos passageiros é que o novo ponto de ônibus esquenta mais que o antigo em dias ensolarados. Isso porque, na opinião de usuários ouvidos pelo iG , o teto de vidro não faz sombra e permite a passagem de raios solares, “Não protege (do sol). De manhã vem o sol no rosto, não tem como se esconder”, reclamou a artesã Telma Oliveira, de 70 anos, que costuma usar os novos abrigos da avenida Luiz Carlos Berrini, na zona sul.
Há também os passageiros que dizem ficar expostos em dias de chuva. “Eles molham mais (que os antigos) porque é aberto. Isso aqui não protege nada”, disse enquanto apontava para a parte da estrutura onde fica o anúncio publicitário, na lateral. “E o teto também deixa o sol passar. É uma pena porque é um investimento muito grande. Já vi vários destruídos. (Vidro) vai deteriorando muito mais rápido”, complementou a instrutora de yoga Denise Amaral, de 26 anos, ao lado de uma abrigo, próximo à praça General Gentili Falção, que tinha parte do vidro estilhaçado.
Também a propaganda nos pontos divide a opinião dos paulistanos (segundo a pesquisa Datafolha). Mas o mais grave é que enquanto os anúncios recebem amplo espaço, sobra muito pouco (às vezes nada) de área para dispor as informações sobre as linhas que passam em cada local.
Material
Os novos pontos de ônibus foram desenvolvidos pela Otima (um consórcio formado por Odebrecht Transport, Rádio e TV Bandeirantes, APMR Investimentos e Participações e Kalítera Engenharia), empresa contratada por meio de licitação pelo ex-prefeito Gilberto Kassab, no fim de 2012. Em troca do serviço, o grupo ganhou a permissão para explorar os anúncios por 25 anos.
O consórcio tem que substituir, até o final de 2015, todos os 6.500 abrigos e 12.500 totens da cidade. Para este ano, a previsão é substituir cerca de 1.800, sendo que 560 já foram instalados. A empresa criou quatro modelos novos de pontos de ônibus, dois já estão sendo colocados nas ruas, e justifica que todos têm vidro “temperado e laminado”. “Amplamente utilizado em mobiliários urbanos de cidades como Londres, Paris, Nova York, Barcelona, e mesmo no Rio de Janeiro. Portanto, a segurança e confiabilidade de sua aplicação já são comprovadas”, explicou.
O professor de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo Augusto José Pereira Filho analisou, a pedido do iG , os novos abrigos. Na opinião dele, a substituição de um teto metálico por um de vidro “permite mais passagem de luz solar”. Além disso, defendeu que a existência de um vidro traseiro no equipamento ajuda a aumentar a sensação de calor.
“Há uma parede de vidro nas costas do abrigo. No antigo não há. Essa parede diminui a circulação de ar e aumenta a absorção da luz solar e aquecimento durante o dia. Trata-se de uma semi-estufa (...) por causa da maior radiação solar do alto e do aquecimento do vidro na retaguarda”, avaliou.
Apesar disso, a São Paulo Obras (SP Obras), ligada à Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras da Prefeitura, argumenta que “o vidro de cobertura dos abrigos funciona como isolante térmico, reduzindo a sensação térmica em altas temperaturas e retendo calor em baixas. Também é serigrafado e tem uma película escurecedora anti-UV, que reduz a radiação solar e a sensação termina em até 5º C em relação à temperatura ambiente para temperaturas acima de 24º C.”
Outro lado
A reportagem procurou a Prefeitura de São Paulo para saber também se há a possibilidade de quebra de contrato, caso a empresa constate irregularidades nos serviços ou nos novos pontos de ônibus. Mas a SP Obras respondeu que “se trata de uma medida pró-ativa”.
“Cumpre-nos esclarecer que se trata de uma medida pró-ativa, pois de acordo as disposições do contrato, a municipalidade pode acompanhar a execução dos projetos e dos serviços realizados pelo consórcio inclusive com a execução de testes, que possibilitem verificar a adequação dos materiais, equipamentos, processos e funcionamento dos novos mobiliários urbanos, ou seja, trata-se apenas de mais um instrumento de fiscalização para a boa execução do contrato.”
Ainda assim, a SP Obras admitiu que o objetivo da contratação é “dirimir qualquer dúvida”. “(..) O ineditismo dos projetos e dos materiais, entendidos e aprovados como adequados para a confecção dos novos abrigos de ônibus, desde a licitação, suscitaram muitos questionamentos junto à mídia, à sociedade civil e à Câmara Municipal, sendo certo que a certificação destes modelos e componentes respectivos contribui para dirimir qualquer dúvida, permitindo maior segurança em relação aos esclarecimentos que devem ser prestados à sociedade”, afirmou em comunicado.
A prefeitura disse, no entanto, que os “materiais escolhidos foram aprovados por uma comissão especialmente formada para esta avaliação”. “Os modelos concorrentes (na época da licitação) ficaram expostos por 30 dias no Pavilhão de exposições do Anhembi para visitação do público e de especialistas, arquitetos, urbanistas etc. Os modelos e materiais escolhidos foram aprovados por uma comissão especialmente formada para esta avaliação. Assim como exposto acima, o intuito na contratação da Fundação Vanzolini está restrito à certificação do processo de implantação e dos materiais utilizados no equipamento, à semelhança dos laudos elaborados pelo renomado instituto Falcão Bauer que, promovido pelo consórcio, atestou a qualidade, funcionalidade (proteção térmica, UVB e etc) e segurança dos vidros que compõem o novo mobiliário urbano”, explicou.
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