A presidente Dilma Rousseff desembarca amanhã na Capital para, dentre outras atividades, inaugurar as duas últimas estações da Linha Sul do Metrô de Fortaleza. O transporte, cujas obras se arrastam há cerca de 15 anos, passará pela inspeção da governante, que deve avaliar, em apenas algumas horas, se o sistema é capaz de atender às demandas da população. Todos os dias, contudo, essa análise é feita por cearenses que dependem, exclusivamente, da condução coletiva. A conclusão é quase um consenso: por enquanto, o metrô compensa somente pela agilidade.
Quem utiliza o transporte frequentemente relata que a rotina de locomoção mudou de forma expressiva depois da inauguração dos trens. A duração das viagens foi reduzida, em alguns casos, quase pela metade. Mas, após tantos anos de transtornos e expectativas, o serviço ainda está muito aquém do esperado. O horário de funcionamento restrito, o limitado número de linhas e a pouca quantidade de vagões são considerados pelos passageiros os principais gargalos do sistema.
Na opinião da técnica em celulares Ana Paula Sousa, usuária corriqueira da Linha Sul, que atualmente faz o percurso entre o Centro de Fortaleza e a cidade de Pacatuba, no quesito conforto, o metrô não tem se diferenciado muito dos ônibus e vans. Segundo ela, durante toda a manhã, em especial nos horários de pico, os pequenos e escassos vagões, apenas três por trem, ficam lotados, tal qual os coletivos urbanos.
De acordo com dados da Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor), hoje circulam somente três trens e, ao todo, 15 carros de passageiros, cada um com capacidade de acomodar até 150 pessoas. Para a técnica, contudo, encontrar espaço para sentar-se ou até apoiar-se é quase impossível. "Só vale a pena por causa da rapidez. O resto é a mesma coisa. Dizem que, quando começar a funcionar o dia todo, vão ser só oito minutos entre um trem e outro. Assim, pode ser que supra a demanda. Mas, se continuar do jeito que está agora, não vai adiantar nada", diz Ana Paula.
Usuários
Quando o metrô vai passar a operar em todos os turnos, aliás, é a grande pergunta dos usuários. Desde que foi inaugurado, o sistema funciona em caráter assistido apenas quatro horas por dia, das 8h às 12h, gratuitamente. Devido ao intervalo de tempo curto e limitado e à ausência de uma escala do transporte, a necessidade de utilizar outros transportes torna-se inevitável.
"Trabalho à noite e não consigo usar o metrô para chegar lá por conta do horário. É uma pena que só funcione até meio-dia, porque as pessoas ficam dependendo de duas conduções", afirma o porteiro Paulo Roberto Santana, que também usa o transporte com frequência.
Para ele, a gratuidade do metrô durante a operação assistida não compensa deficiências como a falta de mais opções de linhas e o horário diminuto. "Precisa colocar para funcionar. Não me incomodaria de pagar para ter algo melhor, porque poderia descongestionar o trânsito e agilizar o nosso deslocamento", pontua o porteiro.
Operação comercial
Todas as melhorias em relação ao transporte, no entanto, seguem indefinidas. Conforme o Metrofor, futuramente, as conduções terão 25 Trens Unidade-Elétrica (TUEs), o que, segundo a empresa, será suficiente para atender à demanda de passageiros na operação comercial, estimada em 350 mil pessoas por dia. A promessa é que, com o maior número de carros funcionando e a menor periodicidade entre eles, o fluxo de usuários seja otimizado.
Segundo a assessoria da empresa, desses 25, 16 já estão nos pátios sendo preparados para circular, mas ainda não há previsões de quando irão entrar em atividades. A companhia ressalta que, após a inauguração das estações José de Alencar e Chico da Silva amanhã, quatro TUEs passarão a rodar portando seis carros de passageiros cada.
Falta definir funcionamento
Apesar do anseio da população por um metrô que funcione em horários diversificados, o fim da operação assistida do transporte ainda não tem previsão para acabar, como informa a assessoria de imprensa do Metrofor. Segundo a empresa, para que a operação comercial tenha início, resta definir tarifas, horários e recursos humanos, medidas que, conforme a assessoria, dependem de fatores que vão além das competências da companhia.
O Metrofor informou, ainda, que, com a inauguração das duas últimas estações da Linha Sul, o percurso inteiro estará completo. As pendências serão as obras de outras duas estações, a Padre Cícero (entre o Benfica e o Porangabussu) e a Juscelino Kubitschek (entre as estações Parangaba e Couto Fernandes).
A assessoria de imprensa comunicou que 40% das intervenções estão concluídas, mas não há data certa para a liberação. A promessa é de que ambas fiquem prontas no primeiro semestre do próximo ano.
Linha Sul
O prazo para a conclusão das obras referentes à Linha Sul do metrô, inclusive, já foi extrapolado anteriormente. Em setembro de 2012, a empresa anunciou o término das intervenções para dezembro do mesmo ano. Já em abril deste ano, ainda em andamento, as obras foram adiadas para maio. O atraso, de acordo com a assessoria da companhia, foi causado por problemas com fornecedores.
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