Glen Weisbord é presidente do Economic Development Research Grop, de Boston (Massachusetts, EUA). Em sua participação no Seminário Nacional NTU 2013, ele apresentou estudos sobre soluções que vêm sendo adotadas nos Estados Unidos em prol do desenvolvimento sustentável e da mobilidade urbana, além de dados que comprovam os benefícios do investimento em transporte público na economia das cidades a médio e longo prazo.
A respeito dessa questão, Weisbord escreveu o artigo “Impacto econômico do investimento em transporte público: a experiência americana e sua aplicabilidade”, presente na coletânea “Mobilidade sustentável para um Brasil competitivo”, organizada pela NTU.
A ideia de Weisbord é mostrar que os impactos desses investimentos vão além do número de pessoas alcançadas pelo transporte e podem afetar tanto o crescimento econômico local quanto a economia em nível nacional. Para isso, ele toma por base estudos realizados pela American Public Transportation Association (APTA / em português, Associação Americana de Transporte Público), organização que trabalha com o financiamento de pesquisas para demonstrar justamente isso, as vantagens econômicas do investimento em transporte coletivo.
Investimento de capital e operações de transporte público
Mudanças nos postos de trabalho, geração de novos empregos, aumento da renda e diminuição de custos em diversos setores da economia. Todos esses benefícios podem ser resultados do investimento em transporte público, e Weisbord demonstra esses impactos por meio da análise de dois processos: investimento de capital e operações de transporte público.
O investimento de capital envolve despesas com a compra de ônibus e veículos ferroviários, equipamentos de apoio e construção de edifícios, rotas e estruturas afins. O estudo da APTA concluiu que
para cada 1 bilhão de dólares gastos com investimento de capital nos Estados Unidos, há 1,5 bilhão de dólares de valor agregado do PIB criado, o que inclui 1,1 bilhão de dólares em salários que dão suporte a quase 24 mil postos de trabalho.
Quanto às operações do transporte coletivo, envolvem a combinação de tarifas e subsídios públicos que geram três tipos de impactos econômicos contínuos e de longo prazo: gastos em operações de transporte público (salários dos funcionários, movimentação na economia), custos relacionados com as viagens e eficiência e custos das operações comerciais (tempo de entrega e distribuição de mercadorias, por exemplo). Nesse caso, os resultados do estudo foram ainda maiores:
para cada 1 bilhão de dólares gastos com operação de transporte público nos Estados Unidos, há 2 bilhões de dólares de valor agregado ou PIB criado, o que inclui 1,8 bilhão de dólares em rendas do trabalho que dão suporte a mais de 41 mil postos de trabalho.
Os efeitos na economia
Em outras palavras, os efeitos diretos do investimento levam a efeitos indiretos amplos que incluem geração de renda e empregos em diversas indústrias diferentes por meio da compra de insumos e materiais necessários. As estimativas apontam que um crescimento da demanda do transporte público, em uma ordem de 3,5% ao ano, poderia gerar um retorno, em termos de PIB, de mais de 26 bilhões de dólares até 2030. Além disso, há o fenômeno conhecido como “economias de aglomeração”: um serviço de transporte coletivo amplamente disponível facilita níveis mais elevados de densidade populacional metropolitana e emprego – e isso, por sua vez, movimenta a economia da região, tornando-a mais produtiva.
Todos esses números foram obtidos com base na realidade dos Estados Unidos, logo não são diretamente transferíveis para situações distintas – como a do Brasil, que tem uma frota de veículos e quilômetro de serviço por veículo 24% menor, mas que atende 40% mais passageiros –, mas ajudam a retratar as consequências do investimento em transporte público dentro de um contexto econômico mais amplo. A viabilização de uma política de incentivo contínuo ao transporte coletivo e a construção de sistemas de transporte urbanos como parte da visão estratégica das cidades são medidas essenciais quando o objetivo é a melhora da mobilidade urbana.
Este texto foi publicado originalmente no site The City Fix Brasil.
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